Senado
Davi Alcolumbre24 de agosto de 2020 | 06:47
Governo Bolsonaro articula plano B para eleição do comando do Senado
BRASIL
Em uma semana de derrota para o governo no Senado, o presidente da Casa, Davi Alcolumbre (DEM-AP), perdeu um pouco do apoio do Palácio do Planalto à sua reeleição ao cargo.
Para além das questões jurídicas, Alcolumbre precisa agora recuperar o prestígio construído com o governo ao longo dos últimos meses para não perder musculatura na disputa.
O presidente do Senado vem tentando se firmar como a opção de Jair Bolsonaro (sem partido) e se manter à frente da Casa.
Na quarta-feira (19), a derrubada do veto que impedia reajuste de salários para servidores implodiu a relação do governo com sua base no Senado e deixou o Planalto em situação de alerta em relação a Alcolumbre.
Novos nomes já surgem fortes e próximos do Palácio para a disputa ao comando do Senado. O principal é Márcio Bittar (MDB-AC), que é relator da proposta orçamentária. Sua proximidade com o ministro da Economia, Paulo Guedes, pode ser um auxílio.
Validador do voto dos parlamentares no projeto que prevê ajuda de R$ 125 bilhões aos estados e municípios, que teve o trecho que impedia reajustes vetado por Bolsonaro, o presidente da Casa evitou indisposição com os pares diante de uma iminente necessidade de votos para a eleição.
Alcolumbre se ausentou na sessão que derrubou o veto, deixando o governo e em especial Paulo Guedes nas mãos do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). A Câmara reverteu a situação e manteve o veto.
Para estremecer ainda mais a relação com o governo, Alcolumbre assinou o requerimento para que Guedes preste explicações ao Senado, de autoria do senador Esperidião Amin (PP-SC). Procurado, o presidente do Senado não se manifestou sobre o assunto.
Senadores querem que o ministro explique as acusações que fez à Casa, quando classificou como crime a decisão do Senado de derrubar o veto.
“Graças à articulação na Câmara, o governo conseguiu reverter [o veto]. É claro que [a derrubada do veto] abala a situação do Davi [Alcolumbre]”, disse o vice-líder do governo no Senado, Chico Rodrigues (DEM-RR).
Segundo Rodrigues, a letargia de Alcolumbre causou estranheza no Palácio. Não foi surpresa, contudo, o voto pela manutenção do veto dado por Márcio Bittar. Ele também atuou por voto em favor do governo junto aos colegas. Foi aí que a possível candidatura de Bittar à Casa, que já era cotada, ganhou força.
“Em política não existe vácuo. Tem de haver os interessados, e têm de estarem alinhados com seus companheiros. Se houver esse vácuo, o Márcio Bittar é um nome forte”, disse o vice-líder.
Relator da proposta orçamentária, Bittar tem se reunido com frequência com Paulo Guedes em Brasília e já avisou que o Orçamento será definido de acordo com a crise econômica provocada pela pandemia de coronavírus.
“A crise é real e inevitável. É natural que o governo queira fazer o Orçamento mais parecido com ele e é natural que o Legislativo queira colocar sua digital. Mas temos o menor Orçamento dos últimos tempos. Tem de ter muita calma e equilíbrio”, disse.
Para além da instabilidade gerada com a derrubada do veto, Alcolumbre também precisa enfrentar questões jurídicas para se manter na disputa. O Palácio não quer ficar à mercê de uma decisão judicial, sem que haja novas peças colocadas no tabuleiro eleitoral.
A Constituição veda a reeleição na mesma legislatura. Porém Alcolumbre trabalha com a opção de aprovar uma PEC (proposta de emenda à Constituição) que promova uma mudança para torná-la possível. A alteração beneficiaria também Rodrigo Maia. Para tanto, o senador precisa especialmente do voto dos governistas.
Alcolumbre também tem falado constantemente com o presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Dias Toffoli, outros ministros da corte e ex-presidentes da República.
O apoio do STF pode ser determinante para Alcolumbre, já que caberá a ele julgar questionamentos à sua eventual tentativa de permanecer no comando do Senado.
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