Pular para o conteúdo principal

26 de agosto de 2020 | 12:30

Alvos da Lava Jato, donos da Avianca guardaram império empresarial em ilhota no Pacífico

BRASIL
A permanência da sede do grupo empresarial ligado à companhia aérea Avianca em uma remota ilha de 2.000 habitantes no oceano Pacífico foi um dos motivos para a ordem de prisão preventiva dos irmãos Germán e José Efromovich na Operação Lava Jato, cumprida na última quarta-feira (19).
Segundo os procuradores da operação, os dois possuem uma “sofisticada e fraudulenta estrutura financeira internacional” para promover reiteradas fraudes contra credores e crimes de corrupção.
Os irmãos sócios da companhia aérea foram presos na 72ª fase da operação, sob suspeita de pagar propina para o ex-presidente da Transpetro (subsidiária da Petrobras para o transporte de combustíveis) Sérgio Machado, que também é ex-senador. Eles negam essas acusações.
A origem dessa etapa da Lava Jato está em contrato firmado pelo estaleiro Eisa, de Germán, com a estatal para a construção de quatro navios.
A posse de uma rede de empresas e contas no exterior foi mencionada em despacho da juíza Gabriela Hardt, da 13ª Vara Federal de Curitiba, como um fator que amplia a possibilidade de fuga ou “abrigo em outros países”.
Informações que constam no pedido de prisão mencionam como controlador do grupo empresarial o Synergy Trust, de sede em Niue, um paraíso fiscal na Oceania, a 2.500 km da Nova Zelândia.
A localidade é uma ilha associada ao Estado neozelandês, de área territorial menor do que a de Ilhabela (SP). Embora autônoma, a ilha deixa à Nova Zelândia a responsabilidade sobre defesa e representação exterior, e seus habitantes também têm a nacionalidade neozelandesa. É tão isolada que só recebe dois voos semanais.
Em 2011, a divisão internacional da Avianca informou à SEC, agência americana que regulamenta o mercado de valores mobiliários, que Germán Efromovich detinha quase 100% dos direitos da Avianca Brasil e era beneficiário do trust Synergy, que por sua vez controlava o Synergy Group, que reúne suas empresas.
A Avianca Brasil, que teve a falência decretada no mês passado, funcionava de maneira autônoma à Avianca internacional, que hoje está em recuperação judicial nos Estados Unidos.
“A constituição de trust em país insular, de difícil acesso e comunicação, revela clara tática de blindagem e ocultação patrimonial empregada pelos irmãos Efromovich, a permitir não apenas a fraude contra credores mas também a prática sistemática de crimes de lavagem, com reduzido risco de responsabilização pessoal”, escreveram os procuradores no pedido de prisão.
O trust é uma entidade jurídica constituída com a finalidade de administrar patrimônio. A equipe de investigação ressaltou que, com esse modelo, credores não podem usar bens designados no trust para a cobrança de dívidas pessoais, “sendo que a única maneira de o patrimônio ser afetado por dívida é se o credor for também beneficiário do trust”.
A juíza Hardt, que expediu a ordem de prisão, afirmou que causa preocupação a expertise dos investigados no “controle de grande estrutura empresarial, de confusão patrimonial e de técnicas de lavagem e ocultação de valores”.
Parte das informações apontadas pelos procuradores tem origem em levantamento privado contratado pela Transpetro junto à empresa Localize para identificar ativos que possam ser usados para ressarcir dívidas com a estatal.
A equipe da Lava Jato sustenta que três das empresas controladas pelo trust na Oceania foram usadas para pagar propina a Sérgio Machado, hoje delator.
A ordem de prisão fala na suspeita de que dois negócios envolvendo os Efromovich e filhos de Sérgio Machado foram simulados para justificar repasse de propina: um acordo de investimento em uma empresa com ativos no Equador e um empréstimo também fora do Brasil.
A investigação afirma que foram pagos o equivalente a R$ 28 milhões em uma conta na Suíça controlada por um filho do ex-senador de 2009 a 2013, e mais US$ 4 milhões (R$ 22 milhões) por meio da devolução do empréstimo, entre 2013 e 2014.
Por causa da crise sanitária provocada pelo novo coronavírus, os Efromovich estão detidos em casa. Eles também foram alvos de bloqueio judicial no valor de R$ 651 milhões —quantia calculada pelos investigadores para compensar supostos prejuízos sofridos pela Transpetro.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Atuação que não deixam dúvidas por que deveremos votar em Felix Mendonça para Deputado Federal. NÚMERO  1234 . Félix Mendonça Júnior Félix Mendonça: Governo Ciro terá como foco o desenvolvimento e combate às desigualdades sociais O deputado Félix Mendonça Júnior (PDT-BA) vê com otimismo a pré-candidatura de Ciro Gomes à Presidência da República. A tendência, segundo ele, é de crescimento do ex-governador do Ceará. “Ciro é o nome mais preparado e, com certeza, a melhor opção entre todos os pré- candidatos. Com a campanha nas Leia mais Movimentos apoiam reivindicação de vaga na chapa de Rui Costa para o PDT na Bahia Neste final de semana, o cenário político baiano ganhou novos contornos após a declaração do presidente estadual do PDT, deputado federal Félix Mendonça Júnior, que reivindicou uma vaga para o partido na chapada majoritária do governador Rui Costa (PT) na eleição de 2018. Apesar de o parlamentar não ter citado Leia mais Câmara aprova, com...
Ex-presidente da Petrobras tem saldo de R$ 3 milhões em aplicações A informação foi encaminhada pelo Banco do Brasil ao juiz Sergio Moro N O ex-presidente da Petrobras Aldemir Bendine (Foto: Cristina Indio do Brasil/Agência Brasil) Em documento encaminhado ao juiz federal Sergio Moro no dia 31 de outubro, o Banco do Brasil informou que o ex-presidente da Petrobras e do BB Aldemir Bendine acumula mais de R$ 3 milhões em quatro títulos LCAs emitidos pela in...
Grécia e credores se aproximam de acordo em Atenas Banqueiros e pessoas próximas às negociações afirmam que acordo pode ser selado nos próximos dias Evangelos Venizelos, ministro das Finanças da Grécia (Louisa Gouliamaki/AFP) A Grécia e seus credores privados retomam as negociações de swap de dívida nesta sexta-feira, com sinais de que podem estar se aproximando do tão esperado acordo para impedir um caótico default (calote) de Atenas. O país corre contra o tempo para conseguir até segunda-feira um acordo que permita uma nova injeção de ajuda externa, antes que vençam 14,5 bilhões de euros em bônus no mês de março. Após um impasse nas negociações da semana passada por causa do cupom, ou pagamento de juros, que a Grécia precisa oferecer em seus novos bônus, os dois lados parecem estar agindo para superar suas diferenças. "A atmosfera estava boa, progresso foi feito e nós continuaremos amanhã à tarde", d...