Boas, absurdas e até revolucionárias: as promessas eleitorais de Trump
A melhor parte é a das reformas contra a corrupção. A pior… bem, o candidato não tem mais nada a perder
Mas vale a pena dar uma olhada nas propostas que Donald Trump fez, caso contrarie todas as expectativas e ganhe a eleição. Primeiro, porque ele sabe o que está escrito nas pesquisas e está fazendo o jogo dos que não têm mais nada a perder. Segundo, pela natureza incandescente e personalista de sua campanha, sem propostas específicas, fora “construir um muro” na fronteira com o México ou suspender a imigração de muçulmanos.
Em Gettysburg, num solo que muitos americanos consideram sagrado por causa batalha de 1863 da Guerra Civil e do discurso sem paralelos de Abraham Lincoln, Trump enumerou 28 pontos de um Contrato com o Eleitor, uma espécie de carta aos americanos.
Só para lembrar: Trump fala aos eleitores mais pobres, mais convencidos de que o “sistema” funciona contra eles e mais sensíveis a seu discurso populista. Uma das pesquisas (IBD/TIPP) , que o coloca dois pontos à frente de Hillary Clinton, mostra a vantagem de Trump em relação a ela entre eleitores do sexo masculino (48% a 34%), de baixa renda (48% a 35%) e moradores da região rural (60% a 22%).
A vantagem de Hillary nas faixas superiores de renda (47% a 38%) aparece até entre eleitores tradicionais do Partido Republicano. Nos domicílios com renda anual superior a 100 mil dólares, Hillary tem 45% das preferências, contra 28% para ele. Na faixa dos 250 mil dólares, a relação aumenta para 53% a 25%.
As propostas de Trump chegam a lembrar ideias que circulam no Brasil, tão atormentado pela corrupção e a politicagem. A primeira delas: uma emenda constitucional que limite o número de mandatos de deputados e senadores. A segunda: congelar a contratação de funcionários do governo federal.
Outras atingem o coração da “porta giratória”, a transição do governo para atividades privadas, que tanto desilude o eleitorado – e não só de Trump. Imaginem se Hillary encampasse ideias como instituir uma moratória de cinco anos para que integrantes do executivo e do legislativo se registrem como lobistas, depois de deixarem as funções públicas. Fazer lobby junto à Casa Branca em nome de governos estrangeiros, uma das maiores lambanças da política americana, seria proibido para sempre.
O Nafta, acordo de livre-comércio com o México e o Canadá, seria renegociado ou revogado; a Parceria Transpacífico não sairia do papel, produtos de empresas que transferem operações para o exterior teriam sobretaxa e os pagamentos referentes ao acordo sobre o aquecimento global reverteriam todos para o investimento em infraestrutura nos Estados Unidos. Ah, sim: o secretário do Comércio receberia instruções para qualificar a China de manipuladora de divisas.
O revertério global que uma única dessas iniciativas provocaria explica por que todo o mundo das empresas e das finanças apóia Hillary entusiasticamente. Já as faixas menos favorecidas se sentem mais inclinadas a acreditar na promessa de criação de 25 milhões de empregos através da redução em grande escala de impostos, desburocratização, reforma comercial e eliminação de restrições à exploração de fontes de energia.
É tarde para Trump mudar o rumo de sua campanha e algumas de suas propostas entram no ramo do delírio. Mas, nos intervalos entre antigas gravações e novas revelações no campo da falta de compostura, não deixa de ser curioso vê-lo falando quase que como um Hugo Chávez da fase inicial.
E a proposta de uma Lei de Faxina Ética em Washington poderia muito bem ser incorporada a plataformas de políticos de outras plagas. A praga da corrupção é mundial.
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