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Lula: ‘Cerveró não pode ficar no sereno’

Ex-diretor da Petrobras prestou depoimento ao juiz Sergio Moro e indicou que foi abrigado na BR Distribuidora por compensação a favores prestados pelo PT

Nestor Cerveró durante a CPI da Petrobras na sede da Justiça Federal em Curitiba (PR) - 11/05/2015
Nestor Cerveró durante a CPI da Petrobras na sede da Justiça Federal em Curitiba (PR) - /Reuters)
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu apoio político ao então diretor da Área Internacional da Petrobras Nestor Cerveró depois de o ex-dirigente ter articulado a quitação de uma dívida milionária do Partido dos Trabalhadores. A informação é do próprio Cerveró, que prestou depoimento nesta segunda-feira ao juiz Sergio Moro. Segundo o ex-diretor, o então presidente da Petrobras Sergio Gabrielli deu ordens, no ano de 2006, para que ele resolvesse o "problema do PT", um passivo de 50 milhões de reais referentes a dívidas de eleições.
A avaliação de Lula sobre a necessidade de abrigar Nestor Cerveró em um cargo na Petrobras ocorreu, segundo a versão apresentada pelo delator, no momento em que o PMDB ligado à Câmara dos Deputados exigiu que fosse nomeado um apadrinhado seu para a diretoria da Área Internacional em troca de votos para que fosse aprovada a prorrogação da CPMF. No depoimento, Cerveró afirmou que o ex-presidente da Petrobras José Eduardo Dutra relatou que Lula falou: "O Nestor não pode ficar no sereno". "Havia um reconhecimento, afinal quem resolveu grande parte da dívida (...) fui eu", disse o delator. Na ocasião, Lula teria sugerido que Cerveró fosse abrigado na BR Distribuidora, subsidiária da Petrobras, e afirmado: "Se o Nestor topar, o cargo é dele".
Na época, a pressão à Petrobras por repasses irregulares a partidos políticos vinha de duas frentes principais: do PMDB, por meio do ex-ministro de Minas e Energia Silas Rondeau, e do PT. "Fui pressionado pelo ministro Silas Rondeau, que é do PMDB. Ele vinha me cobrando uma ajuda, ou melhor dizendo, que liquidasse ou ajudasse a liquidar uma dívida de campanha que o PMDB tinha adquirido na ordem de 10 milhões de reais a 15 milhões de reais", disse Cerveró em depoimento na Operação Lava Jato. Ao final, porém, Gabrielli acabou lidando com o PMDB, enquanto Cerveró passou a ter a responsabilidade de arrecadar para os cofres petistas.
Em conversa no gabinete de Gabrielli, o ex-diretor da Petrobras disse ter recebido informação de que não precisava resolver o "problema do Silas", e sim o "problema do PT". Segundo o delator, Gabrielli revelou que o PT tinha uma dívida de 50 milhões de reais de campanha com o Banco Schahin. "Ele falou 'deixa que a parte mais fácil eu resolvo e você resolve a mais difícil'". Como a Schahin pretendia ampliar a atividade de operação de sondas no final de 2006, Cerveró chamou o empresário Fernando Schahin e disse ter imposto uma "condição primordial" para a companhia conseguir o contrato como operadora de sondas: o Grupo Schahin teria de liquidar a dívida de 50 milhões de reais do PT.
Mea culpa - No depoimento ao juiz Sergio Moro, Nestor Cerveró ainda fez uma espécie de mea culpa. Pediu desculpas à sociedade por ter participado do esquema de corrupção instalado da Petrobras e à própria petroleira pelos desfalques do escândalo do petrolão. Em tom emocionado, ele ainda detalhou a participação do filho, Bernardo Cerveró, que gravou a atuação do senador Delcídio do Amaral em conversas sobre um esquema de fuga para o ex-dirigente em troca de que ele não fechasse um acordo de delação premiada. Ao final, o próprio Delcídio se tornou delator e informou que atuou para comprar o silêncio de Cerveró a mando do ex-presidente Lula.
Fernando Baiano - Também em depoimento nesta segunda-feira, o lobista Fernando 'Baiano' Soares voltou a dizer à Justiça que o pecuarista José Carlos Bumlai lhe contou que acionaria o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-presidente da Petrobras Sergio Gabrielli para desemperrar um contrato do Grupo Schahin referente à operação de um navio-sonda da Petrobras. O contrato, segundo os investigadores, foi utilizado como moeda de troca para que fosse recolhida propina para o PT. Para camuflar o percurso do dinheiro, foi simulado um empréstimo de 12 milhões de reais entre Bumlai e o Banco Schahin.
Baiano relatou que Bumlai era o "avalista" desse empréstimo e o teria procurado, em 2006, porque estava com dificuldade para conseguir o contrato para a Schahin. Segundo o lobista, o pecuarista amigo do ex-presidente Lula tinha contatos políticos que poderiam destravar o impasse.
"Toda vez que dava problema ele [ex-gerente da Petrobras Eduardo Muso] ligava para mim: 'Cara, não tem o que fazer?'. Aí eu procurava o Bumlai e falava "Você precisa se movimentar. É um assunto do interesse de vocês e o pessoal está tendo dificuldade em aprovar". Após tentativas frustradas, Fernando Baiano disse que Bumlai se comprometeu a conversar com Gabrielli e com o próprio ex-presidente Lula para garantir a celebração do negócio. Ao final, o Grupo Schahin conquistou o contrato de 1,6 bilhão de dólares

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