A correria do gabinete de Theresa May para aprovar seu acordo com os europeus no Parlamento britânico ainda nesta semana indica o desespero de a hipótese de um Brexit abrupto se tornar realidade. As últimas decisões dos deputados não dão esperanças. Se não houver acordo aprovado até 12 de abril, o divórcio da União Europeia causará traumas econômicos e uma situação de caos para o Reino Unido.
Depois de três anos de anúncio do Brexit, ainda é incerto como, quando e até mesmo se Londres deixará o bloco. Mas o custo de uma saída sem acordo com os europeus já está estimado pelo próprio governo britânico em um recuo de 9% na atividade ao longo de 15 anos, conforme estudo divulgado em fevereiro passado.
Brexit a fórceps
Diferentes previsões e análises foram elaboradas por estudiosos em todo o mundo. De forma geral todos concordam que o maior impacto de uma saída abrupta seria na economia britânica. O Banco da Inglaterra estima que, no pior dos cenários, o desemprego pode dobrar e alcançar 7,5%. Os preços ao consumidor podem crescer até 6,5%, e a libra esterlina deverá se desvalorizar em 25%.
Imigrantes europeus vivendo em solo britânico e ingleses que trabalham e moram nas 27 nações restantes do bloco também devem ver seu dia a dia ser impactado caso o Reino Unido saia da União Europeia sem acordo. Os transportes aéreo, rodoviário e ferroviário poderão ser paralisados parcial ou totalmente, e a importação de alimentos e bens básicos poderá ser prejudicada pela falta de novas regras e de estruturas de controle.
Geraint Johnes, professor de economia da Universidade Lancaster, ressalta que a integração econômica entre o Reino Unido e a União Europeia chegou a um grau tão elevado de complexidade que o rompimento repentino poderia traria graves consequências, principalmente para seus cidadãos. “Já se passaram mais de 25 anos desde a criação do Mercado Único Europeu, e os fabricantes construíram as suas cadeias de abastecimento na Europa como se as fronteiras internacionais não existissem”, explicou.
Mesmo com a promessa de renúncia de May, de propostas alternativas de acordos e de mais tempo para chegar a um consenso, a situação do Reino Unido ainda é incerta. As possibilidades de o país chegar ao dia 12 sem um acerto e deixar a União Europeia abruptamente ainda existem, alertam especialistas.
“O Parlamento já declarou que não quer um Brexit sem acordo, e sabemos que a União Europeia também não quer isso. Entretanto, é possível que isso aconteça por acidente”, afirma Nikos Skoutaris, professor de Direito Europeu da Universidade de East Anglia.
De fato, a Câmara dos Comuns aprovou uma emenda em 13 de março que rejeita a possibilidade de deixar o bloco de forma abrupta. Mas, até agora, rejeitou duas vezes o acordo proposto por May e não chegou a um pacto alternativo. Rechaçou também um segundo referendo sobre o Brexit.
“Agora que os parlamentares tomaram o controle do processo, tudo deve se tornar mais fácil, porque há mais opções sobre a mesa”, opina Benjamin Laker, professor da Universidade de Reading. “Mas nós ainda estamos mais perto de um Brexir sem acordo”, completa.
O processo
Nesta semana, os membros da Câmara dos Comuns assumiram o controle de todas as discussões sobre o processo do Brexit, em uma clara rasteira na primeira-ministra. May perdeu esse embate por 329 votos a 302. Na quarta-feira 27, ela veio a público para dizer que renunciará a seu cargo – como boa parte do Parlamento deseja – desde que o seu acordo com os europeus seja aprovado, em princípio, nesta quinta-feira, 28.
Os parlamentares, entretanto, continuaram o debate das opções para uma saída menos atropelada como se tivessem até o final do ano para concluir um plano de consenso. Não há maioria em torno de alternativas concretas, apenas para o que não se quer, como o segundo referendo, o acordo de May com os europeus e a desistência do Brexit.
O texto fechado por May e a União Europeia, que os legisladores britânicos rejeitaram duas vezes, ainda é a proposta mais concreta para o divórcio. Propõe uma gradual separação no caso da divisa entre a República da Irlanda e a Irlanda do Norte, o chamado “backstop”, o que os radicais defensores do Brexit consideram uma blasfêmia.
Na semana passada, os líderes da União Europeia concederam aos britânicos uma prorrogação curta do prazo do início do Brexit, há três anos previsto para 29 de março. Agora, passou para 12 de abril. Se até essa nova data o Parlamento conseguir aprovar um acordo, o bloco europeu estenderá a saída para 22 de maio, de forma a ainda dar tempo a Londres para aprovar todas as legislações domésticas necessárias para a separação. A chance de uma nova concessão, porém, está cada vez mais fora do horizonte de Bruxelas.
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