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Onde Bolsonaro é melhor que o Congresso?, por Raul Monteiro*

Foto: Estadão/
Governo de Jair Bolsonaro
Quem tinha menos motivos para ter se equivocado com relação à incompetência e à falta de liderança de Jair Bolsonaro, exatamente porque mais bem informadas sobre a sua figura, a classe política e a empresarial são hoje as mais preocupadas com os desatinos do governo. Políticos, especialmente deputados federais e senadores, sempre souberam que o presidente nunca exibiu a menor condição de se aventurar numa missão tão complexa como a de comandar o país. Igualmente sabedores de quem se tratava, os empresários que defenderam seu nome durante a campanha preferiram dar de ombros para o seu despreparo.
Juntos ou separados, ambos fizeram questão de fechar os olhos para todos os sinais de que, caso cruzasse a linha de chegada, como acabou acontecendo, Bolsonaro teria dificuldades pessoais para gerir o país e tomar as medidas de que tanto a Nação precisa para separar-se da crise com a qual foi engolfada no governo petista de Dilma Rousseff. Preferiram desconsiderar, inclusive, as grotescas e reacionárias declarações do candidato, tratando-o mais como um representante exótico que pudesse ser domado ou educado politicamente do que reconhecendo seu perigoso flerte com o atraso e o risco de retrocesso.
Como esperado, ainda que não menos lamentável, a maioria dos parlamentares optou por seguir o fluxo e surfar na onda que resultou na eleição do capitão reformado, pouco se importando no que poderia ser a sua performance como presidente do Brasil. Mergulhado no mesmo auto-engano, o empresariado optou por apostar na tese estapafúrdia de que suas características pessoais, além de seu notório reacionarismo, pouco importavam para o desempenho administrativo, esquecendo-se da experiência imediatamente anterior do caótico governo de outra despreparada, Dilma Rousseff, que achou que poderia comandar o país sozinha, implantando, inclusive, uma nova matriz econômica.
Como o voluntarismo nunca foi amigo do sucesso político e muito menos a inércia, o resultado não poderia ser pior. Hoje, o país assiste boquiaberto a um presidente que se auto-boicota a todo momento, assim como as propostas necessárias para resolver os problemas nacionais, sob o esdrúxulo argumento de que não quer negociar com o Congresso a aprovação de medidas importantes como a reforma da Previdência para não parar na cadeia como Lula e Michel Temer. Se não aceita os termos da barganha que deputados e senadores viciados impõem para votar a proposta, que Bolsonaro utilize então sua liderança para impor-lhes as suas condições.
Afinal, foi para isso que foi eleito. Não para posar de santinho num bordel. A conversa mole de que rejeita a velha política em benefício de uma nova que não consegue sequer definir não enche barriga. Pelo contrário, só dá mais fôlego para uma crise econômica que não começou a combater por absoluta irresponsabilidade e desorientação e cujo desemprego é uma de suas faces mais cruéis. Iniciativas do Executivo como o Plano Real, o PROER e a Lei de Responsabilidade Fiscal, só para ficar em algumas, foram aprovadas por um Congresso igualzinho a este que Bolsonaro rejeita, onde, diga-se de passagem, atuou por três décadas e têm assento de destaque dois de seus três filhos políticos.
* Artigo do editor Raul Monteiro publicado na edição de hoje da Tribuna.
Raul Monteiro*

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