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Xi Jinping: o novo imperador da China

A consagração de Xi Jinping como o líder incontestável do Partido Comunista abre uma nova era na política chinesa

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Xi Jinping, presidente da China (Foto:  Xinhua/Lan Hongguang/AFP)
Ao ser perguntado sobre o último congresso do Partido Comunista Chinês, encerrado nesta semana em Pequim, numa entrevista na quarta-feira, dia 25 de outubro,  à TV americana, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, o descreveu como um evento inédito na história da China. “Agora algumas pessoas podem chamá-lo de rei”, disse Trump, ao se referir ao presidente da China, Xi Jinping. Logo em seguida, Trump emendou. “Mas ele é chamado de presidente. As pessoas dizem que nós temos a melhor relação de todas de um presidente com outro presidente.”  Os  presidentes americanos, ao se referirem a seus colegas chineses, gostam de usar adjetivos hiperbólicos – e Trump, o menos versado em assuntos de política externa na história recente da Casa Branca, é mais um deles. Mas sua avaliação sobre o congresso, evento preparado a cada cinco anos, com pompa, circunstância e máxima vigilância pela casta dirigente chinesa para dar o tom dos  rumos políticos do país, não é um exagero. O 19º Congresso do Partido Comunista Chinês, fundado em 1921, foi uma espécie de coroação de Xi Jinping como novo imperador da China.
“A consolidação do poder de Xi Jinping é ampla, profunda e sem precedentes. Estamos entrando em um novo período da política chinesa, em que Xi passou a ser dominante”, diz Evan Medeiros, que atuou como principal conselheiro do ex-presidente Barack Obama para assuntos asiáticos e, hoje, é diretor da consultoria política internacional Eurasia. “A era em que as decisões na China eram tomadas por consenso pode ter terminado, e agora estamos diante de uma era de um homem forte na política.” Uma decisão é bem ilustrativa desta  “nova era” – termo usado 36 vezes por Xi em seu discurso no Congresso. No dia 24, último do encontro, os dirigentes chineses elevaram Xi ao mesmo status de Mao Tsé-tung, o líder revolucionário visto como o pai fundador da República Popular da China, em 1949. Inscreveram o “pensamento de Xi Jinping para a nova era do socialismo com características especiais chinesas”  na Constituição do partido. Na hierarquia ideológica do comunismo chinês, um “pensamento” está no topo, enquanto uma “teoria” está no meio e uma “visão” ou “perspectiva” aparecem na base. Antes de Xi, apenas Mao e seu sucessor Deng Xiaoping tiveram “pensamentos” inscritos na Constituição do partido como doutrinas fundamentais – a honraria foi conferida a Xiaoping apenas após sua morte, em 1987. Questionar as políticas de Xi vai passar agora a ser visto como ato de heresia ideológica.
O segundo símbolo eloquente da concentração de poderes por Xi Jinping foi a nomeação dos cinco novos membros do comitê permanente do Politburo, órgão que constitui a cúpula da liderança do partido e do governo chinês. Todos eles têm mais de 60 anos de idade e vão se somar ao próprio Xi, de 64 anos, e ao primeiro-ministro Li Keqiang, de 62, que já tinham assento no comitê. Pela primeira vez em uma geração, o órgão máximo do poder chinês deixará de ter uma liderança mais jovem que poderia ser vista como um herdeiro presumível do regime no futuro. A quebra dessa regra não escrita, mas que vinha sendo observada  desde a liderança de Deng Xiaoping, foi vista como um sinal de que Xi pode querer permanecer no poder no próximo congresso daqui a cinco anos – acabando com o costume recente de que o presidente do país permanece no cargo por apenas dois mandatos.
Suvenir á venda em Pequim durante o congresso do Partido Comunista.Xi foi alçado ao mesmo status de Mao (Foto:  Feng Li/Getty Images)
A entronização de Xi Jinping como supremo líder chinês consagra um estilo de gestão que, desde seu início, foi marcada pelo forte pendor imperial. Ao contrário de seus antecessores, Jiang Zemin e Hu Jintao, que governaram como burocratas impessoais, Xi agiu desde que assumiu o comando do Partido Comunista, em 2012, com o objetivo de acabar com a tradição comunista de lideranças coletivas. “Ele se moveu rapidamente para enfeixar poderes e se tornar, dentro da liderança chinesa, não o primeiro entre iguais, mas simplesmente o primeiro”, escreveu  Elisabeth C. Economy, diretora para assuntos asiáticos do Council on Foreign Relations, num artigo para a revista Foreign Affairs. Para Economy, Xi Jinping concentrou poderes, aproveitando-se de um crescente sentimento de mal-estar na sociedade chinesa com a corrupção disseminada no Partido Comunista, que cresceu junto com o sucesso econômico do país. Ao chegar à Presidência, Xi assumiu também pessoalmente o comando das Forças Armadas e fez da caça aos corruptos sua marca. Ao mesmo tempo, aumentou o controle e a censura da imprensa, da internet e das redes sociais e baniu das universidades chinesas pesquisas sobre “valores universais”, “sociedade civil”, “direitos dos cidadãos”, “liberdade de imprensa”, “erros cometidos pelo Partido Comunista”, “privilégios do capitalismo” e “independência do Judiciário” – ideias ocidentais vistas como perigosas.
Imperial, Xi agiu, desde o início de sua gestão, para acabar com a tradição comunista de liderança coletiva
Por trás dessa ação repressora, há a crença dos dirigentes comunistas chineses de que a desintegração da União Soviética, no começo da década de 1990, se deveu à falta de pulso e à dissolução moral dos comunistas russos. Eles estão determinados a impedir que a implosão soviética se repita na China. “Se a moral é baixa, a organização é frouxa, a disciplina e a ética não são verificadas, no final nós não apenas falharemos, como a tragédia do imperador Chu [um imperador chinês assassinado no ano 202 antes de Cristo] poderá se repetir”, escreveu Xi. Para ele, o partido é tudo e deve fornecer a base sólida da China como uma “nação rejuvenescida” depois de um período de 200 anos de declínio. Em novembro de 2012, a primeira aparição pública de Xi Jinping como presidente foi uma visita à exposição O caminho para o rejuvenescimento, no Museu Nacional da China, uma mostra que conta a história de como a China sofreu humilhações sob o jugo de potências estrangeiras nos séculos XIX e XX, mas está agora de volta, sob o comando do Partido Comunista, ao caminho das antigas glórias imperiais.
Pela visão de Xi, na  “nova era”, para a qual ele pretende liderar a China, o país voltará a projetar força e influência no exterior – depois das eras de Mao, em que os chineses repeliram as invasões estrangeiras, e de Deng Xiaoping, em que o país voltou a focar no crescimento econômico. No primeiro mandato de Xi, o país investiu no aumento de seu poderio bélico (construiu sua primeira base militar no exterior, na África) e anunciou uma Nova Rota de Seda, com investimentos de bilhões de dólares em ferrovias, estradas, portos e outros projetos de infraestrutura em 60 países, para incentivar o comércio entre Ásia, Europa e África. Em janeiro de 2017, aproveitando-se da eleição de Trump, o presidente americano mais crítico da ordem global construída pelos Estados Unidos nos últimos 70 anos, Xi apresentou a China, no Fórum Econômico de Davos, na Suíça, como a nova líder da globalização e de uma ordem internacional “mais justa e racional”. O sucesso de seus planos – se ele ocorrer – significará, porém, a consagração de um novo modelo de  modernização econômica rigidamente controlado e profundamente autoritário.

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