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O senador Edison Lobão,presidente da CCJ (Foto: Ueslei Marcelino / Reuters)
Diretor de energia da Odebrecht, Henrique Valladares enfrentava graves problemas de saúde em 2012. Internado no Hospital Samaritano, no Rio de Janeiro, preparava-se para realizar uma viagem aos Estados Unidos em "UTI no ar" e continuar o tratamento naquele país, quando recebeu uma visita do então ministro de Minas e Energia Edison Lobão, do PMDB, atualmente presidente da Comissão de Constituição e Justiça do Senado. Ambos já se conheciam havia mais de dois anos, porque discutiam o processo de leilão e formatação da usina hidrelétrica de Belo Monte, cujo consórcio de construção foi integrado pela Odebrecht.
O clima entre Lobão e Valladares, porém, não estava bom. A empreiteira resistia a pagar propina pela obra, cumprindo ordens do então presidente Marcelo Odebrecht, que já estava considerando as cobranças excessivas. A visita de Lobão na UTI foi relatada por Henrique Valladares à Polícia Federal, em depoimento sigiloso e inédito obtido por ÉPOCA, prestado em julho. Apesar de a maior parte da delação da Odebrecht ter sido tornada pública, os trechos sobre Belo Monte, revelados agora por ÉPOCA, ainda são mantidos em sigilo.
Para Henrique Valladares, tratou-se de uma "visita de cortesia" de Lobão com um objetivo bem claro: cobrar o pagamento de propina.
"Durante considerável período de tempo, a Odebrecht era demandada a fazer pagamentos, mas não os fazia. Que, a bem de ilustrar as cobranças que recebia de Edison Lobão, o declarante relata que, em meados de 2012, quando estava internado no Hospital Samaritano, no Rio de Janeiro, em quadro clínico bastante delicado, buscando reunir condições para realizar viagem aos Estados Unidos em 'UTI no ar', recebeu 'visita de cortesia' de Edison Lobão, que, a par de tratar de outros assuntos, não se furtou de reiterar o pedido para que a Odebrecht passasse a realizar pagamentos de propina referentes a Belo Monte, sob o argumento de que as demais empresas já o vinham fazendo há tempos", relatou Valladares.
Durante a conversa, o então diretor da Odebrecht informou que a posição da empresa sobre o assunto "se mantinha a mesma". Embora a situação de saúde de Valladares inspirasse cuidados, Lobão quis saber com quem poderia tratar sobre propina durante a ausência do diretor. Valladares indicou o nome de outro executivo da empreiteira, Ailton Reis, que cuidaria do assunto.
Trecho de depoimento do ex-diretor da Odebrecht Henrique Valladares à PF (Foto: Reprodução)
Em seu depoimento, Valladares relata que, logo ao assinarem o contrato para as obras de Belo Monte, Lobão informou que deveria haver a destinação de 1% para PT e PMDB. O ex-diretor relata que Marcelo Odebrecht se irritou ao tomar conhecimento da cobrança e disse que queria ouvi-la da boca da então presidente Dilma Rousseff. "Quanto a esse pagamento, fale que eu quero que a própria Dilma me diga pessoalmente que ele é devido e me oriente sobre o interlocutor a ser feito esse pagamento", respondeu Marcelo, de acordo com o depoimento de Valladares. O diretor transmitiu o recado de Marcelo a Lobão, "que disse que seria impossível aquilo acontecer". "Então, não haveria pagamento algum por parte da Odebrecht", encerrou a conversa.
Trecho de depoimento do ex-diretor da Odebrecht Henrique Valladares à PF (Foto: Reprodução)
Já Marcelo Odebrecht, em depoimento também sigiloso, conta que a empreiteira participou das obras de Belo Monte após um pedido pessoal do ex-presidente Lula, em reunião no Palácio do Planalto. "Tendo atendido a pedido insistente do governo federal para participar do empreendimento, seria ilógico ter de ainda pagar por isso", justificou. Disse também que a Odebrecht já mantinha uma conta-corrente específica para o PT, sob o codinome Italiano, e que por isso seria "descabido qualquer pagamento adicional".
Ao final, porém, como os diretores da empreiteira tinham autonomia para autorizar os pagamentos, acabaram sendo feitos repasses ao PMDB referentes a Belo Monte. Segundo outro delator da Odebrecht, Antônio Carlos Daiha Blando, foi pago R$ 1,5 milhão por meio de um dos filhos do senador, Márcio Lobão, que seria o arrecadador do PMDB em Belo Monte. Também executivo da área de Energia, Augusto Roque Fernandes afirmou ter acertado mais repasses por Belo Monte ao PMDB, mas desta vez com Luiz Otávio Campos, atual secretário nacional dos Portos. Os pagamentos estavam registrados no sistema da Odebrecht sob o codinome Esquálido, uma referência a Lobão.
Procurado, o advogado de Lobão, Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, afirmou que se trata de "mais uma das acusações baseadas única e exclusivamente na palavra do delator. Eu acho que cada vez mais está evidenciado que a palavra do delator desacompanhada de prova não vale absolutamente nada". Kakay disse ainda que o ministro Lobão nega peremptoriamente as acusações de recebimento de propina, mas ressaltou que "não vamos bater boca com delator porque está se comprovando nos processos do Supremo que a palavra [isoladamente] não tem valor jurídico".

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