O clima entre Lobão e Valladares, porém, não estava bom. A empreiteira resistia a pagar propina pela obra, cumprindo ordens do então presidente Marcelo Odebrecht, que já estava considerando as cobranças excessivas. A visita de Lobão na UTI foi relatada por Henrique Valladares à Polícia Federal, em depoimento sigiloso e inédito obtido por ÉPOCA, prestado em julho. Apesar de a maior parte da delação da Odebrecht ter sido tornada pública, os trechos sobre Belo Monte, revelados agora por ÉPOCA, ainda são mantidos em sigilo.
Para Henrique Valladares, tratou-se de uma "visita de cortesia" de Lobão com um objetivo bem claro: cobrar o pagamento de propina.
"Durante considerável período de tempo, a Odebrecht era demandada a fazer pagamentos, mas não os fazia. Que, a bem de ilustrar as cobranças que recebia de Edison Lobão, o declarante relata que, em meados de 2012, quando estava internado no Hospital Samaritano, no Rio de Janeiro, em quadro clínico bastante delicado, buscando reunir condições para realizar viagem aos Estados Unidos em 'UTI no ar', recebeu 'visita de cortesia' de Edison Lobão, que, a par de tratar de outros assuntos, não se furtou de reiterar o pedido para que a Odebrecht passasse a realizar pagamentos de propina referentes a Belo Monte, sob o argumento de que as demais empresas já o vinham fazendo há tempos", relatou Valladares.
Durante a conversa, o então diretor da Odebrecht informou que a posição da empresa sobre o assunto "se mantinha a mesma". Embora a situação de saúde de Valladares inspirasse cuidados, Lobão quis saber com quem poderia tratar sobre propina durante a ausência do diretor. Valladares indicou o nome de outro executivo da empreiteira, Ailton Reis, que cuidaria do assunto.
Ao final, porém, como os diretores da empreiteira tinham autonomia para autorizar os pagamentos, acabaram sendo feitos repasses ao PMDB referentes a Belo Monte. Segundo outro delator da Odebrecht, Antônio Carlos Daiha Blando, foi pago R$ 1,5 milhão por meio de um dos filhos do senador, Márcio Lobão, que seria o arrecadador do PMDB em Belo Monte. Também executivo da área de Energia, Augusto Roque Fernandes afirmou ter acertado mais repasses por Belo Monte ao PMDB, mas desta vez com Luiz Otávio Campos, atual secretário nacional dos Portos. Os pagamentos estavam registrados no sistema da Odebrecht sob o codinome Esquálido, uma referência a Lobão.
Procurado, o advogado de Lobão, Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, afirmou que se trata de "mais uma das acusações baseadas única e exclusivamente na palavra do delator. Eu acho que cada vez mais está evidenciado que a palavra do delator desacompanhada de prova não vale absolutamente nada". Kakay disse ainda que o ministro Lobão nega peremptoriamente as acusações de recebimento de propina, mas ressaltou que "não vamos bater boca com delator porque está se comprovando nos processos do Supremo que a palavra [isoladamente] não tem valor jurídico".
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