BRASÍLIA - O Palácio do Planalto pretende retaliar os deputados de partidos da base governista que foram infiéis ao presidente Michel Temer na votação das denúncias contra ele. Um dos critérios em discussão é punir os deputados considerados “casos perdidos”, os que reiteradamente votaram contra Temer e já indicaram que não apoiarão a agenda de reformas e projetos impopulares, por medo de perder votos por causa da proximidade do calendário eleitoral de 2018.
A lista de deputados federais ainda está em preparação. Nesta quinta-feira, 26, auxiliares da Casa Civil prepararam planilhas comparativas de como os deputados se comportaram nas votações da primeira e da segunda denúncia. Na Secretaria de Governo, ficam controles sobre as demandas dos parlamentares, como emendas empenhadas e nomeações de apadrinhados para cargos comissionados na administração federal.
As retaliações devem ser coordenadas pela articulação política do Planalto, na qual se envolvem os ministros Antônio Imbassahy (Governo) e Eliseu Padilha (Casa Civil). Eles querem entender ausências, abstenções e mudanças de voto.
O Planalto diz que perdeu seis votos entre uma denúncia e outra, mas as retaliações devem ser mais amplas. Há casos como o do deputado Abel Mesquita Jr. (DEM-RR). Ele votara a favor de Temer, mas na quarta passada votou contra. Segundo correligionários, ele não vê vantagens em permanecer fiel a Temer porque se ressente de que as ações do governo em Boa Vista, capital de Roraima, são todas canalizadas para o senador Romero Jucá (PMDB-RR), líder do governo no Senado, e seus aliados.
Deputados com trânsito na Presidência reconhecem que alguns votos foram perdidos por demandas não atendidas. São, principalmente, cargos comissionados que não puderam ser entregues porque foram solicitados por mais de um parlamentar. Daí a importância de revisar a fidelidade dos deputados, desalojando os indicados de quem traiu o Planalto.
O governo quer, pelo menos, recompor a base para tentar aprovar uma reforma da Previdência, que exige 308 votos. O ministro Eliseu Padilha defende a aprovação da “reforma possível”. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse na quarta-feira, 25, que a reforma precisa ser enxugada e que o essencial é estabelecer a idade mínima para aposentadoria.
Revisão semelhante já havia ocorrido entre a primeira e a segunda denúncia, com dezenas de demissões, por pressão de partidos do Centrão. Segundo auxiliares diretos de Temer, uma troca de cargos de primeiro escalão está no horizonte para março de 2018, data em que ministros pretendem se desligar por força da lei eleitoral, para disputar cargos eletivos.
Humildade. O líder do DEM, Efraim Filho (PB), disse que o governo precisa “agir com humildade” e apostar em uma pauta microeconômica e de mais fácil aprovação, como a Medida Provisória do Novo Fies (Fundo de Financiamento Estudantil). Segundo ele, os Poderes deverão ser “harmoniosos sem submissão” e a retaliação dos que votaram pela saída de Temer é um tema que cabe apenas ao Planalto. Ele afirma que ficou mais difícil de o governo conseguir apoio por meio de cargos ou emendas parlamentares. “Agora é virar a página e cuidar da agenda para o País.”
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