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Homem poderoso na política, Cunha abre mão de liderança na cadeia

Entrada do CMP, o primeiro corredor. Para chegar na galeria dos presos da Lava Jato é necessário atravessar mais 5 corredores. Foto: Paraná Portal.
Entrada do CMP, o primeiro corredor. Para chegar na galeria dos presos da Lava Jato é necessário atravessar mais 5 corredores. Foto: Paraná Portal.

Por Lenise Aubrift Klenk e Thaissa Martiniuk
Político que foi sinônimo de poder nos quatro mandatos como deputado federal, o ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), não faz questão de exercer papel de liderança entre presos, como ocorreu com outros réus da Lava Jato. Ele completou um ano de prisão nesta quinta-feira (19).
Reservado, o deputado cassado Eduardo Cunha não tem construído vínculos com detentos com quem divide espaço em uma galeria do Complexo Médico-Penal (CMP) de Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba. Foi lá que ele passou dez dos últimos 12 meses de prisão. Nos dois primeiros, ficou detido na Superintendência da Polícia Federal na capital paranaense.
Dentro da cadeia, Cunha não ocupa papel de liderança. Diferente de alguns réus da Lava Jato que estiveram na unidade, como o empresário Marcelo Odebrecht e o ex-ministro José Dirceu. Líderes fora da prisão, eles seguiram influenciando colegas de cela. Segundo alguns relatos, Eduardo Cunha não faz questão de ocupar esse espaço.
A advogada Isabel Kugler Mendes, presidente do Conselho da Comunidade em Curitiba e região, se tornou uma espécie de interlocutora dos presos da Lava Jato. Aos 80 anos, ela acumula quatro décadas de experiência no sistema prisional paranaense e não raras vezes se torna confidente e conselheira de detentos. No caso de Cunha, o contato tem sido protocolar.
“Tive três contatos com ele. No primeiro ele tinha chegado havia poucos dias. Cumprimentei como como cumprimento a todos, perguntando como ele estava. E ele estava, assim, bastante nervoso, sabe? Dava pra gente ver que ele estava bastante abatido. Depois, em outras duas vezes eu tive a oportunidade de falar com ele mais duas vezes, mas coisas, assim, sem muita importância. Amenidades mesmo. Aí já achei que ele estava melhor, em melhores condições. Porque pra eles é importantíssimo trabalhar, né. Ele já estava trabalhando, ele seria o responsável pela entrega e distribuição das refeições”, conta a presidente do Conselho da Comunidade.
O ex-presidente da Câmara trabalha desde março no Complexo Médico-Penal. A atividade pode render redução na pena de 15 anos e quatro meses de prisão a que foi condenado neste ano, por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e evasão de divisas. Ainda tramita recurso contra a sentença.
Até ser transferido temporariamente para audiências em Brasília, no mês passado, Cunha dividia cela com o ex-deputado federal Luiz Argolo, também condenado na Lava Jato.
“Ele [Cunha] dividiu a cela com o ex-deputado federal Luiz Argôlo, que é uma pessoa que conheço muito bem, porque desde o início – ele foi um dos primeiros [políticos presos na Lava Jato] a chegar – e ele é uma pessoa muito jovem, tem idade quase dos meus netos. Até comentei com ele, o deputado [Cunha] – eu os chamo por aquilo que eles foram: deputado Cunha, ministro José Dirceu, sabe? Eles merecem, estão ali, eu respeito -, e aí eu comentei com ele [Cunha]: ‘soube que o senhor está com o Luiz Argôlo, ele é um rapaz excelente, que bom que senhor está com ele’. Aí ele falou: ‘concordo com a senhora, que bom, sim'”, relata Isabel Mendes.
A presidente do Conselho da Comunidade conta que não conseguiu identificar nenhum tipo de entrosamento de Cunha com os demais presos.
“Quando você vai, você nota o entrosamento dessas pessoas, como era com o Marcelo [Odebrecht]. O Marcelo, havia um entrosamento, assim, visível. Hoje a gente vê com o [Luiz] Argôlo, um entrosamento também visível com todos. Então, eu não vi [entrosamento], da parte dele [Cunha], eu não vi”, aponta.
Cartas de Cunha
A discrição, no entanto, não se confirma nos poucos atos de Cunha de dentro para fora da prisão. Além de ter escrito à mão diversas cartas que chegaram à imprensa, o ex-deputado não perdeu a chance de reclamar da unidade prisional em interrogatório presidido pelo juiz Sérgio Moro, em fevereiro.
Eduardo Cunha surpreendeu até os próprios advogados ao ler uma carta em que dizia ter aneurisma cerebral semelhante ao da ex-primeira dama Marisa Leticia.
Ascensão e queda
Em Brasília, no período da derrocada, a sessão que cassou o mandato de Cunha consolidou o isolamento: apenas dez parlamentares votaram a favor dele. Mas o grupo de apoiadores já foi bem maior.
Foi Cunha que desenhou o chamado centrão, que chegou a reunir cerca de 225 parlamentares pautados por um interesse em comum: uma política de negócios, feita por acordos de bastidores, que pode ser conferida no Congresso até hoje. O mesmo grupo que, agora, pressiona o presidente Michel Temer por recompensas para votar pelo Planalto.
Na avaliação do deputado Rogério Rosso, do PSD, mesmo sem Cunha, apesar de menos organizada, a ala ainda é forte. Cunha continua filiado ao PMDB, deixou legados na Câmara e a influência dele ainda é sentida. Opositores, como Chico Alencar, do PSOL, dizem que além disso, antigos aliados também temem uma possível delação premiada. “Ainda aqui na Câmara existe um ‘Cunhismo’ sem Cunha”.

Dias contados

Preso, além de trabalhar, o ex-deputado também participa do Programa Remição da Pena pela Leitura.
Os presos que se voluntariam para o projeto precisam ler uma obra literária e produzir uma resenha por mês, escrita, reescrita e finalizada sob a orientação e avaliação de um professor.
Cada nota 6 representa 4 dias a menos de prisão.

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