Pular para o conteúdo principal

Avanço e abandono coexistem na obra que fez de Dilma 'mãe do PAC'

Programa mudou a cara do Complexo do Alemão, mas moradores ainda se queixam de falhas e promessas não cumpridas

enviar por e-mail
Avanço e abandono coexistem na obra que fez de Dilma 'mãe do PAC'Programa mudou a cara do Complexo do Alemão, mas moradores ainda se queixam de falhas e promessas não cumpridas
* campos são obrigatórios
corrigir
Avanço e abandono coexistem na obra que fez de Dilma 'mãe do PAC'Programa mudou a cara do Complexo do Alemão, mas moradores ainda se queixam de falhas e promessas não cumpridas
* campos obrigatórios

Um ano e meio depois do prazo estipulado pelo governo e mais de três anos depois do início dos trabalhos, apenas 81% das obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, estão prontas. O número é do Ministério do Planejamento. Das mais de 18 mil ações governamentais encampadas pelo PAC, as obras do Complexo do Alemão são as mais simbólicas e visíveis.
Especial: PAC completa cinco anos e vira bandeira de Dilma para 2012
Economia: Para especialistas, PAC ainda é insuficiente para estimular crescimento

Foi ali que, em março 2008, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva conferiu à então ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, o título de “Mãe do PAC”, praticamente selando a indicação da petista a sua sucessão. Também foi no Alemão que Dilma, em julho do ano passado, classificou o teleférico ligando o complexo de favelas como “símbolo do PAC” e um “milagre social”.

 
Considerado cartão-postal do programa, teleférico do Alemão opera bem abaixo de sua capacidade




Na primeira semana do ano, o iG passou três dias no Complexo do Alemão para conferir o andamento e eficácia das obras que consumiram mais de R$ 800 milhões. Alguns resultados são visíveis antes mesmo da chegada ao complexo de morros, onde vivem 80 mil pessoas.

Foto: Ricardo GalhardoAmpliar
Equipamentos sociais contribuíram para mudar a cara da comunidade e atraem elogios dos moradores do Alemão
As seis estações do teleférico, limpas e bem cuidadas, viraram pontos de visitação para turistas. Nas estações, funciona uma série de equipamentos sociais, como o Centro de Referência da Juventude, o Centro de Geração de Trabalho e Renda e agências dos Correios. Os conjuntos habitacionais que já beneficiaram mais de 700 famílias, com suas guaritas de segurança, churrasqueiras e estacionamentos, se destacam entre o amontoado de barracos de alvenaria.

Na avenida do Itararé, que margeia um dos flancos do complexo e onde ficam os blindados usados pelas Forças Armadas na pacificação das favelas, a Escola Tim Lopes e o Centro Integrado de Atenção à Saúde que reúne Unidade de Pronto Atendimento (UPA), Clínica de Saúde da Família e policlínica chamam a atenção. Uma incursão pelas ruas e vielas revela uma série de complexas e quase invisíveis obras viárias, de pavimentação, distribuição de energia, esgoto e escoamento de água pluvial.
Pelas novas ruas pavimentadas, caminhões de lixo passam três vezes ao dia, uma cena comum na maioria das cidades, mas inimaginável no Alemão três anos atrás. O centro comercial da favela Nova Brasília, onde antes existia um pântano de esgoto a céu aberto que servia como QG para os chefes do tráfico, palco de assassinatos e outras atrocidades, hoje parece a praça de uma cidadezinha do interior.

Numa quadra coberta, crianças uniformizadas treinavam vôlei. Um cinema, quiosques comerciais padronizados, a Praça do Conhecimento, mesinhas de alvenaria, calçadas e pavimentação impecáveis lembram cenários de novela das seis.
Apesar das melhorias, muitos moradores apontam falhas na execução e concepção das obras e dizem que o PAC está longe de ser o “milagre social” preconizado pela presidenta. “É claro que isso tudo está melhorando a vida aqui. Hoje a gente tem menos vergonha de morar na comunidade, as crianças têm uma perspectiva de futuro. Mas espero que seja só o começo, e que corrijam tudo que foi feito errado”, disse a aposentada Elizabete dos Santos, 65 anos, uma das moradoras mais antigas do complexo.

O teleférico, principal cartão postal do programa, opera muito abaixo de sua capacidade de 30 mil passageiros por dia. Segundo a Secretaria Estadual de Obras do Rio, até hoje mais de um milhão de pessoas passaram pelas 152 gôndolas desde a inauguração, em julho, média de 7 mil passageiros por dia.

No primeiro mês de funcionamento a empresa concessionária foi obrigada a ajustar o início do horário de funcionamento do teleférico das 8 horas para 7 horas, porque a grande maioria dos moradores do complexo trabalha em outras regiões e precisa sair cedo de casa para não chegar atrasado.

O teleférico consumiu R$ 210 milhões, 28% dos R$ 725 milhões gastos no Alemão até agora. “Isso aí só serve para turista ver. Deveriam ter usado o dinheiro para construir outra UPA”, disse a comerciante Ivana Pinheiro, que mora no complexo há 8 anos.

Promessas não saíram do papel

Obras prometidas pelo governador Sérgio Cabral (PMDB) no lançamento do programa, em 2008, com pompa e direito à presença do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva e apresentação em power point, não saíram do papel ou funcionam de forma precária.

Foto: Ricardo Galhardo
Professor descansa com os pés na cadeira na sala destinada a cursos de cabelereiro, que não tem torneiras, pias nem água encanada
Das 2.620 moradias prometidas, apenas 728 foram entregues. O Centro de Apoio Jurídico funciona de forma improvisada no prédio que abriga os blindados das Forças Armadas. A Biblioteca Pública com 100 computadores ainda não foi inaugurada. O Parque da Serra da Misericórdia vai, segundo a Secretaria de Obras, ficar para uma segunda etapa.

O Centro de Referência da Juventude, que deveria ter sede própria com 1.750 m², divide espaço com o Centro de Geração de Trabalho e Renda (que no projeto deveria ter sede com 670 m²) em uma das estações do teleférico.

Ali o iG presenciou uma situação inusitada. Na sala destinada a cursos de cabeleireiros, toda equipada com móveis e aparelhos novos em folha, o professor descansava em uma cadeira com os pés sobre outra. Motivo: por falha na execução, a sala não conta com recursos básicos como torneiras, pias e água encanada.

As canaletas para escoamento da água pluvial são insuficiente e transbordam a cada chuva forte, arrastando quantidades de lixo e entulho para dentro das casas. Na rua principal da Grota, uma obra de saneamento de esgoto era executada pela terceira vez.
Cerca de 200 metros à frente, em uma das vielas, uma dona de casa que não quis se identificar disse que o filho de 3 anos caiu no buraco de um poste mal instalado pelos funcionários do PAC. “Tive que encher com entulho para evitar novos acidentes. Não posso gastar cimento ali”, disse ela.

A Secretaria Estadual de Obras foi procurada diversas vezes por telefone e por e-mail desde o dia 2 de janeiro, prometeu encaminhar as explicações para as falhas, mas não respondeu até o fechamento desta reportagem.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Procurador do DF envia à PGR suspeitas sobre Jair Bolsonaro por improbidade e peculato Representação se baseia na suspeita de ex-assessora do presidente era 'funcionária fantasma'. Procuradora-geral da República vai analisar se pede abertura de inquérito para apurar. Por Mariana Oliveira, TV Globo  — Brasília O presidente Jair Bolsonaro — Foto: Isac Nóbrega/PR O procurador da República do Distrito Federal Carlos Henrique Martins Lima enviou à Procuradoria Geral da República representações que apontam suspeita do crime de peculato (desvio de dinheiro público) e de improbidade administrativa em relação ao presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL). A representação se baseia na suspeita de que Nathália Queiroz, ex-assessora parlamentar de Bolsonaro entre 2007 e 2016, período em que o presidente era deputado federal, tinha registro de frequência integral no gabinete da Câmara dos Deputados  enquanto trabalhava em horário comerci
uspeitos de envolvimento no assassinato de Marielle Franco Há indícios de que alvos comandem Escritório do Crime, braço armado da organização, especializado em assassinatos por encomenda Chico Otavio, Vera Araújo; Arthur Leal; Gustavo Goulart; Rafael Soares e Pedro Zuazo 22/01/2019 - 07:25 / Atualizado em 22/01/2019 - 09:15 O major da PM Ronald Paulo Alves Pereira (de boné e camisa branca) é preso em sua casa Foto: Gabriel Paiva / Agência O Globo Bem vindo ao Player Audima. Clique TAB para navegar entre os botões, ou aperte CONTROL PONTO para dar PLAY. CONTROL PONTO E VÍRGULA ou BARRA para avançar. CONTROL VÍRGULA para retroceder. ALT PONTO E VÍRGULA ou BARRA para acelerar a velocidade de leitura. ALT VÍRGULA para desacelerar a velocidade de leitura. Play! Ouça este conteúdo 0:00 Audima Abrir menu de opções do player Audima. PUBLICIDADE RIO — O Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público do Rio de Janeiro (M
Nos 50 anos do seu programa, Silvio Santos perde a vergonha e as calças Publicidade DO RIO Para alguém conhecido, no início da carreira, como "o peru que fala", graças à vermelhidão causada pela timidez diante do auditório, Silvio Santos passou por uma notável transformação nos 50 anos à frente do programa que leva seu nome. Hoje, está totalmente sem vergonha. Mestre do 'stand-up', Silvio Santos ri de si mesmo atrás de ibope Só nos últimos meses, perdeu as calças no ar (e deixou a cena ser exibida), constrangeu convidados com comentários irônicos e maldosos e vem falando palavrões e piadas sexuais em seu programa. Está, como se diz na gíria, "soltinho" aos 81 anos. O baú do Silvio Ver em tamanho maior » Anterior Próxima Elias - 13.jun.65/Acervo UH/Folhapress Anterior Próxima Aniversário do "Programa Silvio Santos", no ginásio do Pacaembu, em São Paulo, em junho de 1965; na época, o programa ia ao ar p