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Avanço e abandono coexistem na obra que fez de Dilma 'mãe do PAC'

Programa mudou a cara do Complexo do Alemão, mas moradores ainda se queixam de falhas e promessas não cumpridas

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Avanço e abandono coexistem na obra que fez de Dilma 'mãe do PAC'Programa mudou a cara do Complexo do Alemão, mas moradores ainda se queixam de falhas e promessas não cumpridas
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Um ano e meio depois do prazo estipulado pelo governo e mais de três anos depois do início dos trabalhos, apenas 81% das obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, estão prontas. O número é do Ministério do Planejamento. Das mais de 18 mil ações governamentais encampadas pelo PAC, as obras do Complexo do Alemão são as mais simbólicas e visíveis.
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Foi ali que, em março 2008, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva conferiu à então ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, o título de “Mãe do PAC”, praticamente selando a indicação da petista a sua sucessão. Também foi no Alemão que Dilma, em julho do ano passado, classificou o teleférico ligando o complexo de favelas como “símbolo do PAC” e um “milagre social”.

 
Considerado cartão-postal do programa, teleférico do Alemão opera bem abaixo de sua capacidade




Na primeira semana do ano, o iG passou três dias no Complexo do Alemão para conferir o andamento e eficácia das obras que consumiram mais de R$ 800 milhões. Alguns resultados são visíveis antes mesmo da chegada ao complexo de morros, onde vivem 80 mil pessoas.

Foto: Ricardo GalhardoAmpliar
Equipamentos sociais contribuíram para mudar a cara da comunidade e atraem elogios dos moradores do Alemão
As seis estações do teleférico, limpas e bem cuidadas, viraram pontos de visitação para turistas. Nas estações, funciona uma série de equipamentos sociais, como o Centro de Referência da Juventude, o Centro de Geração de Trabalho e Renda e agências dos Correios. Os conjuntos habitacionais que já beneficiaram mais de 700 famílias, com suas guaritas de segurança, churrasqueiras e estacionamentos, se destacam entre o amontoado de barracos de alvenaria.

Na avenida do Itararé, que margeia um dos flancos do complexo e onde ficam os blindados usados pelas Forças Armadas na pacificação das favelas, a Escola Tim Lopes e o Centro Integrado de Atenção à Saúde que reúne Unidade de Pronto Atendimento (UPA), Clínica de Saúde da Família e policlínica chamam a atenção. Uma incursão pelas ruas e vielas revela uma série de complexas e quase invisíveis obras viárias, de pavimentação, distribuição de energia, esgoto e escoamento de água pluvial.
Pelas novas ruas pavimentadas, caminhões de lixo passam três vezes ao dia, uma cena comum na maioria das cidades, mas inimaginável no Alemão três anos atrás. O centro comercial da favela Nova Brasília, onde antes existia um pântano de esgoto a céu aberto que servia como QG para os chefes do tráfico, palco de assassinatos e outras atrocidades, hoje parece a praça de uma cidadezinha do interior.

Numa quadra coberta, crianças uniformizadas treinavam vôlei. Um cinema, quiosques comerciais padronizados, a Praça do Conhecimento, mesinhas de alvenaria, calçadas e pavimentação impecáveis lembram cenários de novela das seis.
Apesar das melhorias, muitos moradores apontam falhas na execução e concepção das obras e dizem que o PAC está longe de ser o “milagre social” preconizado pela presidenta. “É claro que isso tudo está melhorando a vida aqui. Hoje a gente tem menos vergonha de morar na comunidade, as crianças têm uma perspectiva de futuro. Mas espero que seja só o começo, e que corrijam tudo que foi feito errado”, disse a aposentada Elizabete dos Santos, 65 anos, uma das moradoras mais antigas do complexo.

O teleférico, principal cartão postal do programa, opera muito abaixo de sua capacidade de 30 mil passageiros por dia. Segundo a Secretaria Estadual de Obras do Rio, até hoje mais de um milhão de pessoas passaram pelas 152 gôndolas desde a inauguração, em julho, média de 7 mil passageiros por dia.

No primeiro mês de funcionamento a empresa concessionária foi obrigada a ajustar o início do horário de funcionamento do teleférico das 8 horas para 7 horas, porque a grande maioria dos moradores do complexo trabalha em outras regiões e precisa sair cedo de casa para não chegar atrasado.

O teleférico consumiu R$ 210 milhões, 28% dos R$ 725 milhões gastos no Alemão até agora. “Isso aí só serve para turista ver. Deveriam ter usado o dinheiro para construir outra UPA”, disse a comerciante Ivana Pinheiro, que mora no complexo há 8 anos.

Promessas não saíram do papel

Obras prometidas pelo governador Sérgio Cabral (PMDB) no lançamento do programa, em 2008, com pompa e direito à presença do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva e apresentação em power point, não saíram do papel ou funcionam de forma precária.

Foto: Ricardo Galhardo
Professor descansa com os pés na cadeira na sala destinada a cursos de cabelereiro, que não tem torneiras, pias nem água encanada
Das 2.620 moradias prometidas, apenas 728 foram entregues. O Centro de Apoio Jurídico funciona de forma improvisada no prédio que abriga os blindados das Forças Armadas. A Biblioteca Pública com 100 computadores ainda não foi inaugurada. O Parque da Serra da Misericórdia vai, segundo a Secretaria de Obras, ficar para uma segunda etapa.

O Centro de Referência da Juventude, que deveria ter sede própria com 1.750 m², divide espaço com o Centro de Geração de Trabalho e Renda (que no projeto deveria ter sede com 670 m²) em uma das estações do teleférico.

Ali o iG presenciou uma situação inusitada. Na sala destinada a cursos de cabeleireiros, toda equipada com móveis e aparelhos novos em folha, o professor descansava em uma cadeira com os pés sobre outra. Motivo: por falha na execução, a sala não conta com recursos básicos como torneiras, pias e água encanada.

As canaletas para escoamento da água pluvial são insuficiente e transbordam a cada chuva forte, arrastando quantidades de lixo e entulho para dentro das casas. Na rua principal da Grota, uma obra de saneamento de esgoto era executada pela terceira vez.
Cerca de 200 metros à frente, em uma das vielas, uma dona de casa que não quis se identificar disse que o filho de 3 anos caiu no buraco de um poste mal instalado pelos funcionários do PAC. “Tive que encher com entulho para evitar novos acidentes. Não posso gastar cimento ali”, disse ela.

A Secretaria Estadual de Obras foi procurada diversas vezes por telefone e por e-mail desde o dia 2 de janeiro, prometeu encaminhar as explicações para as falhas, mas não respondeu até o fechamento desta reportagem.

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