Presidentes, em geral, têm participação mínima em operações especiais feitas para localizar e, na linguagem oficial, neutralizar terroristas inimigos dos Estados Unidos.
Foi assim com Osama Bin Laden, foi assim com Abu Bakr Al-Baghdadi.
Eles, evidentemente, aprovam o esquema geral, muitas vezes um trabalho de anos. Quando tudo parece finalmente engatilhado, dão a autorização final.
Seja com uso de drones, mísseis, aeronaves ou a insubstituível ação humana, embora o treinamento das forças especiais praticamente seja sobre-humano, tudo passa antes pelo crivo de advogados militares e civis.
Devido aos recursos tecnológicos atuais, presidentes e assessores hoje acompanham as operações ao vivo no gabinete de guerra da Casa Branca.
Tiram uma foto fazendo expressões sérias, divulgada depois que a operação termina com sucesso, o alvo é identificado por biometria com aparelhos de DNA do tamanho de um microondas que produzem resultado em quinze minutos, os militares americanos e colaboradores voltam a um lugar seguro e está na hora de abrir o champanhe e faturar politicamente.
Um detalhe adicional: o elemento é “enterrado” no mar, com a leitura de orações funerárias da religião muçulmana, de forma a atender os regulamentos de guerra sobre despojos de inimigos.
Foi assim com Osama Bin Laden, foi assim com Abu Bakr Al-Baghdadi. Com a possível diferença de que este estava sem cabeça.
Como acionou seu colete explosivo quando se enfiou com três filhos num bunker debaixo da casa onde se escondia no norte da Síria, a cabeça foi violentamente separada do corpo.
No caso de terroristas suicidas que se matam assim em ambientes abertos, a cabeça costuma voar longe, com a força da carga explosiva levada na cintura, no tórax ou nas costas.
A cabeça da terrorista tamil que em 1991 matou Rajiv Gandhi, o herdeiro da dinastia política indiana em campanha para ser primeiro-ministro de novo, voou mais de trinta metros. Do corpo dela, sobraram as pernas e restos do colete explosivo.
Em ambientes fechados como um túnel ou bunker, o resultado pode ser mais devastador.
A morte dos dois grandes líderes do terrorismo jihadista tem outros pontos em comum, inclusive o uso de colaboradores transformados em informantes – Alá sabe como foram convertidos – para localizar homens que não tinham celular nem deixavam ninguém chegar perto deles com um, escondiam-se em casas impenetráveis aos satélites e viviam cercados apenas pelos mais fieis.
Mesmo assim, depois de encontrar Baghdadi, todos os colaboradores tinham que passar horas “presos”, para não dar tempo de denunciar o local se fossem capturados, seja por militares ou milícias sírias, iraquianas, curdas e outros, que agora reivindicam a pista definitiva, como também é natural.
O comportamento “heróico” de um pastor belga, o único ferido entre os comandos especiais americanos envolvidos – SEALS, da Marinha, Força Delta e Rangers, Exército -, acrescentou um momento afetuoso à operação.
Os cães de guerra, literalmente, selecionados entre os mais inteligentes, agressivos e corajosos das raças pastor alemã e belga, são um trunfo nas guerras assimétricas como a do Iraque e do Afeganistão, onde entram em primeiro lugar em esconderijos, túneis e até buracos no chão carregados de explosivos.
Donald Trump estava usando uma metáfora quando disse que Baghdadi morreu “como um cachorro”.
Para enfatizar, ele elogiou o ferido canino como “um belo cachorro, um cachorro talentoso”. Depois postou uma foto do bichão.
Os cães militares são tratados com todas as honras, hospitalizados, condecorados e, em caso de morte, enterrados dignamente.
Tem até um monumento a eles.
‘ESTUDIOSO AUSTERO”
A linguagem crua, às vezes escrachada, de Trump nem de longe explica a diferença de tratamento que recebeu nos órgãos da grande imprensa americana.
Enquanto Barack Obama foi exaltado quando deu a ordem que despachou Bin Laden, não sobrou um mínimo reconhecimento para Trump.
Ao contrário, em contorcionismos intelectuais que são divertidos de assistir para quem não tem envolvimento emocional, jornais e canais de televisão garantiram que o chefão do ISIS foi pego “apesar” de Trump.
Que todas as políticas dele, inclusive a recente e altamente discutível abertura para a Turquia entrar atrás dos curdos na Síria, são exatamente o oposto do que deve ser feito para acabar com o ISIS.
Perguntas: quem acabou com o ISIS, em termos da inacreditável ocupação territorial que o grupo terrorista havia alcançado na Síria e no Iraque?
Basicamente, os militares americanos, orientando, informando, equipando e bombardeando para abrir caminho a forças iraquianas e curdas. Sob qual presidente? Donald Trump.
Quem desceu dos céus, literalmente, de oito helicópteros que voaram mais de uma hora em território aéreo controlado por turcos e russos (avisados, obviamente, da incursão, mas não de seu objetivo) até chegar ao cafofo de Baghdadi, posteriormente bombardeado a ponto de não deixar pedra sobre pedra?
Militares americanos. Sob qual presidente? Donald Trump.
Odiar Donald Trump é fácil e criticar tudo, absolutamente tudo, que ele faz é o esporte mais praticado por mais de 90% da grande imprensa.
A última foi transformar os curdos sírios, que realmente fizeram um bocado de trabalho braçal contra o ISIS, em heróis impolutos, cruelmente traídos e abandonados por Trump.
Embora: a) não sejam impolutos; alguém seria no Oriente Médio? e b) estejam acostumados a ser traídos pois sua causa pela independência de um futuro Curdistão implicaria no desmembramento de países como Iraque, Irã e Turquia.
O ódio a Trump obscurece até analistas refinados, jornalistas experientes, acadêmicos que deveriam batalhar pelos estudos com base em dados.
Ele ganhou uma, só umazinha, com a “neutralização” do homem que mandou queimar pessoas vivas, destruir cidades e igrejas, exterminar muçulmanos xiitas, executar homossexuais, lapidar “adúlteras”, transformar meninas e mulheres em escravas sexuais – inclusive a sua própria, a americana Kaila Mueller – e degolar jornalistas em cenas filmadas para conseguir o mais tétrico efeito propagandístico.
Qual a manchete que o Washington Post deu no obituário sobre um monstro de tais dimensões?
“Abu Bakr al-Baghdadi, austero estudioso islâmico no comando do ISIS, morre aos 48 anos”.
O jornal depois reconheceu que errou e pediu desculpas.
Mas deixou o exemplo – mau exemplo – do que acontece com a distorção provocada pelas lentes ideológicas.
E um monte de piadas imitando o título desastroso. “Morre Pol Pot, defensor da visão 20/20 e das mãos sem manicure”, foi uma delas, referindo-se ao monstro cambojano que mandava para a morte quem usava óculos ou fazia as unhas.
Trump voltou para o tronco do impeachment, com a chuva de acusações que precisarão ser consideradas à luz das evidências, da constituição, dos malabarismos legais e da política. E certamente de uma defesa feroz.
O cara é um cão de guerra da cepa dos pastores nova-iorquinos, uma raça que deixa qualquer Pitt Bull comendo poeira. Não vai deixar barato.
Baghdadi foi um momento de respiro.
Que um jornal da estatura do Washington Post empatize com o “estudioso austero” e desça a ripa em Trump mesmo nesse momento é um sintoma ruim para todos, inclusive os que respeitam sua história.
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