Pular para o conteúdo principal

Delação causa rompimento entre Marcelo e Emílio Odebrecht    

  • Arte/UOL
    Marcelo Odebrecht, ex-presidente e herdeiro do grupo empresarial Odebrecht, e seu pai, Emílio, presidente do Conselho de Administração do conglomerado
    Marcelo Odebrecht, ex-presidente e herdeiro do grupo empresarial Odebrecht, e seu pai, Emílio, presidente do Conselho de Administração do conglomerado
O acordo de delação premiada da Odebrecht causou o rompimento das relações entre o ex-presidente e herdeiro do grupo empresarial, Marcelo Odebrecht, e seu pai, Emílio, presidente do Conselho de Administração do conglomerado. A informação foi confirmada ao UOL por cinco pessoas ligadas à Operação Lava Jato ou à Odebrecht, sob a condição de terem suas identidades preservadas.
"Marcelo sente-se injustiçado. Ele se vê como um bode expiatório. Acha que pagará o preço mais alto entre todos os envolvidos na Lava Jato também porque seu pai aceitou delatá-lo", afirmou ao UOL um funcionário de alto escalão da Odebrecht.
"Marcelo pagava mesmo propina e, de certa forma, desafiava as autoridades que poderiam o incriminar. Emílio, por sua vez, era mais conservador. Cometeu e sabia de ilegalidades, mas era mais contido", acrescentou.
Na última sexta-feira (27), Marcelo Odebrecht ratificou a um juiz auxiliar do STF (Supremo Tribunal Federal) o depoimento feito a procuradores da operação e confirmou os termos de seu acordo de delação premiada.
Colaborar com os investigadores foi uma derrota pessoal de Marcelo e uma vitória de seu pai, além de abrir a crise de relacionamento entre os dois protagonistas do clã baiano de origem germânica. Nos primeiros meses após sua prisão --ocorrida em junho de 2015, durante a 14ª fase da operação--, o executivo insistia em negar as acusações e rejeitava aderir a um acordo. Emílio, por sua vez, decidiu rapidamente pela delação como forma de preservar a empresa.

Grupo de Emilio versus grupo de Marcelo

Na primeira visita que fez a Marcelo na prisão em Curitiba, em setembro de 2015, Emílio o sugeriu que optasse por delatar, hipótese repelida pelo filho, como revelou a revista "Piauí". Marcelo está detido na carceragem da sede da Polícia Federal em Curitiba. "Em determinado momento, ele reclamou de que o pai não aparecia para visita-lo", disse um investigador da Lava Jato.

Por que a delação da Odebrecht aterroriza os políticos?

"Este assunto [a delação] estremeceu a relação entre ambos. Havia dois grupos na empresa: o de Marcelo, que não queria a delação de jeito nenhum, e o de Emílio, que achava a delação a melhor saída", disse um membro do Conselho de Administração da Odebrecht. "Venceu a tese de Emílio."
A descoberta pela Polícia Federal do setor de "operações estruturadas", responsável pela sistematização do pagamento de propinas, em março de 2016, e a crise financeira que atingiu o grupo aumentaram a pressão sobre Marcelo.
Emílio tomou a iniciativa de procurar um acordo com as autoridades. Em maio de 2016, a empresa firmou o termo de confidencialidade, o que deu início às negociações para as delações premiadas, que estão a um passo de serem homologadas pela presidente do STF, ministra Carmen Lúcia. Todos os 77 delatores ligados à empresa ratificaram seus depoimentos à Justiça até sexta-feira.

"Nunca foram exatamente alinhados"

Marcelo sempre teve uma relação mais próxima com o avô, Norberto Odebrecht (1920-2014). "A referência de Marcelo sempre foi Norberto. Ele e o pai nunca foram muitos próximos. Eles têm personalidades diferentes. Emílio é extrovertido, Marcelo, o contrário", afirmou uma pessoa de Salvador próxima à família.
"Emílio e Marcelo nunca foram exatamente alinhados. O filho sempre foi conhecido por seu estilo agressivo nos negócios e até na corrupção", diz o funcionário da Odebrecht.
A título de exemplo, o ex-executivo Claudio Melo Filho disse, em sua delação premiada, que a Odebrecht passou a atuar com mais intensidade no pagamento de propinas a deputados e senadores para a aprovação de medidas provisórias após a chegada de Marcelo à presidência do grupo.
"A partir de 2009 e 2010, as MPs passaram a ter mais valor para a empresa, justamente por causa da saída de Pedro Novis e da entrada de Marcelo Odebrecht na diretoria da Odebrecht", afirma Melo Filho em sua delação.

Marcelo Odebrecht é ouvido para acordo de delação

Conhecido no meio empresarial e político como "Príncipe", Marcelo Odebrecht assumiu em dezembro de 2008 a presidência do conglomerado de empresas que leva o nome de sua família. Ele deixou o cargo em dezembro de 2015, seis meses depois de ser preso.
"Marcelo praticamente forçou Emílio a aceitar que ele assumisse a presidência quatro anos antes do que estava previsto. Marcelo queria mostrar ao pai que era capaz de comandar a empresa", afirmou o membro do conselho da Odebrecht.

"Mãe deixou de visitar Marcelo na prisão"

O rompimento entre pai e o filho envolveu os integrantes da família Odebrecht.
"A coisa ficou tão feia que a mãe deixou de visitar Marcelo na prisão", afirmou um outro investigador da Lava Jato.
"A mulher [de Marcelo] não foi às festas de fim de ano da família, como era tradição", afirmou o funcionário da Odebrecht.

Grupo não terá membros da família Odebrecht entre os gestores

De acordo com o jornal "Folha de S. Paulo", os advogados da Odebrecht e o MPF fecharam um acordo para que o herdeiro da construtora permaneça preso em regime fechado até dezembro de 2017. Após essa data, ele cumprirá o restante de sua pena de dez anos em regimes semiaberto e aberto. Ele não poderá trabalhar mais nas empresas de sua família.
Já Emílio Odebrecht permanecerá ainda dois anos à frente do conselho de administração da Odebrecht, como prevê seu acordo de delação premiada. Durante o intervalo ele comandará a transição de poder dentro do grupo, que não contará mais com membros da família Odebrecht entre os gestores. A família passará apenas a ser investidora e o grupo abrirá suas ações ao mercado -- ideia que sempre teve a rejeição de Marcelo.
Após esses dois anos, Emílio passará a cumprir sua pena acordada com o Ministério Público Federal. Ele vai cumprir dois anos de prisão domiciliar em regime semiaberto. Neste período, ele precisará estar em casa das 22h às 6h e durante os finais de semana. Depois disso, Emílio cumprirá outros dois anos em um regime aberto domiciliar, no qual precisará a se recolher somente durante o fim de semana.
No último dia 1 de dezembro, a Odebrecht também divulgou um pedido de desculpas público e admitiu práticas impróprias. Dias depois, o grupo empresarial fechou acordo de leniência com autoridades brasileiras, americanas e suíças, no qual se compromete a pagar R$ 6,9 bilhões.
Procurada pela reportagem, o grupo empresarial afirmou, por meio de sua assessoria de imprensa, que não irá se manifestar sobre o assunto do rompimento entre Marcelo e Emilio.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Atuação que não deixam dúvidas por que deveremos votar em Felix Mendonça para Deputado Federal. NÚMERO  1234 . Félix Mendonça Júnior Félix Mendonça: Governo Ciro terá como foco o desenvolvimento e combate às desigualdades sociais O deputado Félix Mendonça Júnior (PDT-BA) vê com otimismo a pré-candidatura de Ciro Gomes à Presidência da República. A tendência, segundo ele, é de crescimento do ex-governador do Ceará. “Ciro é o nome mais preparado e, com certeza, a melhor opção entre todos os pré- candidatos. Com a campanha nas Leia mais Movimentos apoiam reivindicação de vaga na chapa de Rui Costa para o PDT na Bahia Neste final de semana, o cenário político baiano ganhou novos contornos após a declaração do presidente estadual do PDT, deputado federal Félix Mendonça Júnior, que reivindicou uma vaga para o partido na chapada majoritária do governador Rui Costa (PT) na eleição de 2018. Apesar de o parlamentar não ter citado Leia mais Câmara aprova, com...
Ex-presidente da Petrobras tem saldo de R$ 3 milhões em aplicações A informação foi encaminhada pelo Banco do Brasil ao juiz Sergio Moro N O ex-presidente da Petrobras Aldemir Bendine (Foto: Cristina Indio do Brasil/Agência Brasil) Em documento encaminhado ao juiz federal Sergio Moro no dia 31 de outubro, o Banco do Brasil informou que o ex-presidente da Petrobras e do BB Aldemir Bendine acumula mais de R$ 3 milhões em quatro títulos LCAs emitidos pela in...
Grécia e credores se aproximam de acordo em Atenas Banqueiros e pessoas próximas às negociações afirmam que acordo pode ser selado nos próximos dias Evangelos Venizelos, ministro das Finanças da Grécia (Louisa Gouliamaki/AFP) A Grécia e seus credores privados retomam as negociações de swap de dívida nesta sexta-feira, com sinais de que podem estar se aproximando do tão esperado acordo para impedir um caótico default (calote) de Atenas. O país corre contra o tempo para conseguir até segunda-feira um acordo que permita uma nova injeção de ajuda externa, antes que vençam 14,5 bilhões de euros em bônus no mês de março. Após um impasse nas negociações da semana passada por causa do cupom, ou pagamento de juros, que a Grécia precisa oferecer em seus novos bônus, os dois lados parecem estar agindo para superar suas diferenças. "A atmosfera estava boa, progresso foi feito e nós continuaremos amanhã à tarde", d...