Novo imperador no Japão e outra imperatriz deprimida
A abdicação programada e mais um caso de depressão na família imperial japonesa
Aos 82 anos, acha que não dá mais conta das incontáveis tarefas imperiais – todas protocolares, mas exigindo eterna disposição física para apertar mãos, receber credenciais, discursar em cerimônias e representar o país em viagens ao exterior.
Akihito já implantou uma ponte de safena, teve câncer de próstata e sofre com a osteoporose. Seu herdeiro, Naruhito, já está com 56 anos.
Mesmo que não exista um dispositivo constitucional para a abdicação, não é impossível achar um modo de permitir que Akihito siga os passos do rei Juan Carlos da Espanha e da rainha Beatrix da Holanda. Ambos abdicaram em favor dos filhos e, com sucessores mais jovens, aumentaram o prestígio da monarquia.
Se for anunciado um cronograma para a sucessão imperial em vida, Naruhito levará adiante uma linhagem que os japoneses gostam de acreditar que tem três mil anos e remete à narrativa lendária do imperador como filho da deusa do sol.
Mas não deixará sucessores. Ele tem apenas uma filha, Aiko, de 15 anos. Durante algum tempo, a opinião pública apoiou uma mudança na lei de sucessão que permitisse a uma mulher ser herdeira do Trono do Crisântemo.
A ideia teve violenta rejeição por parte do establishment político e da Agência Imperial, o órgão que controla todas as atividades reais. Aiko acabou escanteada quando seu tio teve um filho homem, Hisahito, hoje com dez anos. O menino será o herdeiro do trono.
A pressão para que tivesse filhos, e do sexo masculino, é considerada uma das razões da depressão sofrida pela futura imperatriz, a princesa Masako. A doença é tão paralisante que Masako passou dez anos afastada de atividades públicas, sofrendo muitas críticas por causa disso.
No que não pode ser apenas coincidência, ela sofre do mesmo distúrbio da sogra, a imperatriz Michiko. Com a elegância disciplinada e a postura ereta que só muitas gerações orientais podem produzir, Michiko já falou no passado das muitas “dificuldades” enfrentadas para cumprir seu papel protocolar.
Como a sogra, Masako não fazia parte da aristocracia e se tornou consorte real num tempo em que não existiam mais as multidões de concubinas destinadas a produzir filhos. Com educação internacional de filha de diplomata, incluindo estudos em Harvard e Oxford, ela se viu reduzida a reprodutora de luxo.
Teve dificuldade para engravidar, sofreu um aborto e muita gente acredita que recorreu à reprodução assistida. Aiko nasceu quando ela estava com 38 anos e o sorriso que exibia ao aparecer pela primeira vez com a filhinha, com um vasto topete negro, nunca mais teve a mesma naturalidade.
De muitas maneiras, Masako é um retrato das japonesas que constroem carreiras profissionais e, depois, não querem ou não acham parceiro para se casar. Os homens continuam querendo mulheres, que fiquem em casa esperando que cheguem do trabalho e da cervejada obrigatória.
Quando as japonesas mais capacitadas se casam, estão mais velhas em termos de fertilidade e já têm mais dificuldades para engravidar. O país tem hoje uma taxa de natalidade de 1,4%, uma das mais baixas do mundo.
Em cinco anos, a população japonesa encolheu em quase um milhão de pessoas. Lugares pequenos desaparecem lentamente com a queda populacional. As escolas fecham, as linhas de ônibus são desativadas e as casas vazias se deterioram.
A derrota na II Guerra Mundial; a visão estratégica dos americanos, que praticamente recriaram todas as instituições do país, incluindo a instauração de uma constituição democrática, e a extraordinária capacidade de trabalho dos japoneses criaram um país único e rico, com a terceira maior economia do mundo.
A estagnação econômica e o encolhimento populacional do Japão coincidiram com a ascensão da China, que hoje disputa territórios e influência geoestratégica. Toados os prognósticos são de que esse confronto milenar aumente no futuro.
Um imperador mais jovem e dinâmico e uma imperatriz sorridente poderiam ter algum efeito, mesmo que temporário, na psique nacional coletiva. Outra imperatriz deprimida traça um retrato triste de uma instituição que vive do poder da simbologia. Nem que tenha por trás uma história de três mil anos.
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