Quem encomendou a invasão das conversas da Lava Jato ao hacker-“estelionatário”?
Foto: Reprodução/Arquivo
As declarações do presidente Jair Bolsonaro (PSL) sugerindo que o jornalista norte-americano Glen Greenwald, dono do site Intercept Brasil, pode ser preso e a recente portaria do ministro da Justiça, Sérgio Moro, prevendo a deportação sumária de estrangeiros considerados “perigosos” são um tiro no pé.
Os dois estão, naturalmente, falando da mesma pessoa. O marido do deputado federal David Miranda (PSOL-RJ) conseguiu, de fato, produzir alguma marola com as revelações de conversas hackeadas de expoentes da Lava Jato, maior operação contra a corrupção já deflagrada no país, sob a mira de seus alvos atuais e potenciais.
Mas é como este material foi obtido, pelo que as primeiras informações indicam, por meio da ação de um estelionatário, que neste momento importa. O cidadão decidiu invadir as contas dos responsáveis pela Lava Jato por acaso, quando exercitava-se em ócio, ou recebeu uma encomenda para isso?
E quanto levou nesta jogada? São estas as perguntas que a Polícia Federal, a qual é subordinada ao ministério de Moro, deve responder o quanto antes para esclarecer onde, efetivamente, começa esta história e em que medida o investigado, já denunciado por crimes pregressos, está envolvido nela.
É claro que não dá para acreditar numa palavra sequer de um estelionário, ainda mais quando ele se justifica dizendo que promoveu a invasão das contas dos coordenadores da Lava Jato para demonstrar o quanto os sistemas de segurança no Brasil são frágeis.
E que procurou políticos de esquerda, portanto, de oposição ao governo ao qual Moro serve, além de um jornalista de esquerda, casado com um deputado de esquerda, porque gostaria que eles ajudassem a transformar o Brasil numa república mais digna e respeitável. São belas e elevadas intenções que não casam com sua trajetória criminosa.
Mas Moro e Bolsonaro poderiam ajudar se deixassem as forças policiais atuar, apurando do que se trata, sem tentar tomar medidas nem fazer declarações descabidas. Se, por acaso, Greenwald comprou, diretamente ou por interposta pessoa, o material do hacker, isso será provado. Se alguém encomendou o serviço, também.
Se há mais gente envolvida – e não há motivo para duvidar que existam milhares de interessados em destruir a Lava Jato – é outro ponto que precisa ser esclarecido o quanto antes para que se restaure uma estabilidade e uma segurança que parecem cada vez mais distantes do Brasil.
Num país em que conversas privadas de autoridades ganham status de públicas mesmo que obtidas por hackers, de forma criminosa e ilegal, apurações com o objetivo de esclarecer a que propósitos elas se destinam, não podem demorar, até para demonstrar que é sério o projeto dos que buscam emancipar esta República.
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