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Na ONU, Bolsonaro tentará desmontar imagem negativa de seu governo

Primeiro a discursar na Assembleia-Geral, presidente brasileiro terá sua mensagem ofuscada pela esperada mensagem de Donald Trump

Em seu primeiro discurso no plenário da Assembleia-Geral das Nações Unidas, o presidente Jair Bolsonaro dedicará boa parte de seus 20 minutos de fala à missão de desmontar a imagem negativa de seu governo ao enfrentar os incêndios na Amazônia. Às 9h (10h em Brasília), Bolsonaro sublinhará sua tese em favor do desenvolvimento sustentável da região como melhor forma de preservação e sua posição contrária a qualquer iniciativa internacional que se oponha à soberania brasileira na região de floresta.
O Itamaraty insistiu a VEJA que este discurso tem “cunho pessoal” e não expressa as visões dos mais próximos colaboradores do presidente da República. Na semana passada, houve rumores sobre as contribuições do chanceler Ernesto Araújo, do general Augusto Heleno, ministro chefe do Gabinete de Segurança Institucional, e do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) ao texto. Historicamente, o Palácio do Planalto sempre consultou diferentes áreas de governo, sobretudo o Itamaraty, para a elaboração do discurso.
Embora mínimo, o risco de delegações de outros países deixarem o plenário no momento de seu discurso não está afastado. A imagem de Bolsonaro como líder de extrema direita avesso à agenda de defesa da diversidade de gênero e das minorias, sem compromisso de proteger o meio ambiente e saudoso dos regimes ditatoriais da região foi construída cuidadosamente por ele mesmo e vem causando horror a vários governos, entre os quais o da França e da Alemanha.
O presidente brasileiro, porém, antecipou que será “objetivo” e que “ninguém vai brigar com ninguém lá” – em um sinal de que não disparará acusações nem ofensas a outros líderes. “Sabemos que pode ter algum problema lá. É natural. Mas vocês vão ter um presidente que vai falar com o coração, com patriotismo e falando em soberania nacional”, afirmou pelo Facebook na noite de  19 de setembro.
O capítulo do discurso presidencial sobre os recentes incêndios na Amazônia está costurado em uma estratégia mais ampla de divulgação da versão oficial ao longo desta semana. O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, viajou a Nova York com a missão de “esclarecer” o assunto em entrevistas, como a concedida à CNN na segunda-feira, 23, e reuniões paralelas aos eventos da ONU. O chanceler Araújo também atua nessa frente. Tratam-se de dois ministros capazes de embrenhar-se nas discussões em inglês sobre a questão e que permanecerão nos Estados Unidos por mais tempo que o presidente. seu retorno está programado para a noite desta terça-feira.
A crise política da Venezuela deverá ser outra das principais mensagens de Bolsonaro no discurso. Mas, graças ao empenho de seus ministros militares nos últimos oito meses, o teor de suas denúncias contra o regime de Nicolás Maduro não deverá ofuscar o seu compromisso público contra qualquer tentativa de intervenção militar no país vizinho.
Bolsonaro deverá apresentar-se diante das delegações dos 195 países da ONU como um presidente afinado com a agenda liberal, embora tenha historicamente se posicionado como nacionalista, e disposto a promover uma abertura comercial negociada do Brasil, a reduzir os custos do empreendedorismo no país e a sanear as contas públicas.
A reforma da Previdência e seu empenho pela mudança na tributação devem ser assinalados, assim como sua missão de combater a corrupção e remover resquícios dos governos do PT. Não há certeza sobre se ou como abordará a agenda moral de seu governo, que cria polêmicas no Brasil e é observada com perplexidade por vários países e organismos internacionais. Tampouco há indicações de que recordará o episódio do atentado a faca que sofreu em 2018, durante sua campanha eleitoral.
Por mais enfático que seu discurso seja, Bolsonaro não deverá atrair a atenção da plateia como outros que o sucederão no púlpito. Donald Trump vai ofuscá-lo logo em seguida com as suas esperadas mensagens sobre o conflito latente dos Estados Unidos com o Irã e a Coreia do Norte, a guerra comercial com a China e sua rivalidade aberta com o presidente francês, Emmanuel Macron, que discursará na mesma manhã. O americano poderá surpreender e, falando em inglês, será imediatamente entendido pela plateia.

Ritual e protocolo

 Osvaldo Aranha (segundo, ao fundo), preside a primeira Assembleia-Geral da ONU: um dos prêmios de consolação ao Brasil – 16/09/1947
Osvaldo Aranha (segundo, ao fundo), preside a primeira Assembleia-Geral da ONU: um dos prêmios de consolação ao Brasil – 16/09/1947 (UN Photo/MB/Reprodução)
A Assembleia-Geral não abrirá espaços para os improvisos e surpresas a que o presidente brasileiro está acostumado. Bolsonaro lerá seu texto em português, que será traduzido para os seis idiomas oficiais da ONU. Não poderá acrescentar nem mudar trechos na última hora, a menos que queira ser entendido apenas pelos lusófonos. Os interpretes acompanharão o discurso já traduzido, no papel.
Como manda a tradição nas Nações Unidas, será o primeiro a discursar, seguido por Trump, o que dará chances de uma rápida conversa entre ambos na antessala, se houver intérprete. Desde a sessão de abertura da primeira reunião plenária oficial da Assembleia-Geral, em 1947, cabe ao Brasil o direito ao primeiro discurso. Naquela época, a ONU tinha 57 membros. Nesta 74ª reunião, são 195.
Tratou-se de um prêmio de consolação ao país, que havia enviado a Força Expedicionária para combater com os aliados na Europa e cedido área em Natal para uma base militar dos Estados Unidos, mas cujo acesso ao Conselho de Segurança da ONU como membro permanente foi vetado. As negociações sobre essa questão haviam sido conduzidas por Osvaldo Aranha (1894-1960), então chanceler da ditadura de Getúlio Vargas. Como um segundo prêmio ao Brasil, Aranha tornou-se, em 1947, o primeiro presidente da Assembleia Geral e foi o responsável por incluir na agenda do plenário, no ano seguinte, a criação do Estado de Israel.
Apesar do cuidado e do rigor com que os estadistas tratam seu discurso na Assembleia-Geral, a história mostra já ter havido momentos de escárnio. Em 2006, o então presidente da Venezuela, Hugo Chávez, tomou o púlpito queixando-se do “cheiro de enxofre” deixado pelo americano George W. Bush, que discursara no dia anterior. Chávez chamou Bush de “o diabo” oito vezes e o mencionou também como “louco”, “assassino”, “burro” e “genocida”. Não foi levado a sério.
O próprio Trump teve seu momento risível no plenário da Assembleia-Geral. No ano passado, ao mencionar que nenhum outro governo da história dos Estados Unidos havia conquistado tanto quanto o seu, a plateia caiu na gargalhada. “Eu não esperava esta reação, mas está ok”, emendou

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