Foto: Ricardo Stuckert/ Instituto Lula
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é um monstro assustador. É a única explicação possível para que haja tanto receio de que ele conceda entrevistas à imprensa. Depois do Supremo Tribunal Federal (STF) permitir que Lula fosse entrevistado pela Folha de S. Paulo e pelo El País, a Polícia Federal “ameaçou” autorizar que outros jornalistas de outros veículos acompanhassem a conversa entre os repórteres e o ex-presidente. Até pouco tempo, diria que essa situação seria impossível. Não é mais.
Após repercussão negativa da notícia de que uma plateia selecionada pela PF poderia assistir às entrevistas, houve o recuo e, por meio de nota, a Superintendência do Paraná manteve a exclusividade das conversas. Todo e qualquer veículo de imprensa sério tem interesse em entrevistar Lula. Independente de viés ideológico, o ex-presidente é um dos personagens mais importantes da história recente do Brasil. Porém Lula tem o direito de escolher para quem falaria. Por muito pouco, isso quase foi cerceado. Beira o absurdo.
O debate sobre o direito de Lula conceder ou não uma entrevista à imprensa não é novo. Durante a campanha eleitoral, o ministro Luiz Fux usou o argumento de que o ex-presidente poderia influenciar nos rumos das urnas e, por isso, não poderia falar. A decisão já era duvidosa na época, visto que aliados do petista reclamavam de perseguição política. A poeira baixou, o PT acabou derrotado nas eleições e ainda assim Lula continuava sendo proibido de ser entrevistado pessoalmente – ainda que tenha trocado cartas com o jornalista Kennedy Alencar. E a liminar de Fux continuava impedindo conversas frente a frente.
A situação mudou após o próprio STF ser acusado de atacar a liberdade de imprensa, ao determinar a censura de uma matéria da revista Crusoé, em que o ministro Dias Tóffoli era identificado como “o amigo do amigo do meu pai” em e-mails trocados entre Marcelo Odebrecht e executivos do Grupo Odebrecht. Numa espécie de contrapartida para melhorar a imagem pública - mesmo que isso jamais seja admitido -, a Suprema Corte permitiu que Lula falasse.
Era tudo muito simples. Mas a PF resolveu complicar. Pelo menos deu tempo de voltar atrás.
A exclusividade, então, acabou mantida e, em breve, veremos a repercussão das falas do ex-presidente que foi preso em abril de 2018 e, desde então, permanece interagindo com veículos de comunicação apenas por meio de interlocutores. Quando publicadas, as entrevistas vão mostrar se Lula é tão assustador quando Fux, a Polícia Federal e tanta gente acreditar ser.
No meio de tantas notícias amedrontadoras, ler, ouvir ou ver o que um ex-presidente tem a dizer será tão impactante a ponto abalar as estruturas da República? O golden shower prova que não...
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