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Mourão e os zeros à esquerda de Bolsonaro, por Raul Monteiro*

Foto: /Arquivo/Estadão
O vice-presidente Hamilton Mourão, a quem os filhos zero à esquerda de Jair Bolsonaro não dão trégua
O que é mais importante: o conflito cada vez maior entre os zeros à esquerda dos filhos do presidente Jair Bolsonaro com o vice-presidente, Hamilton Mourão, ou o fechamento de mais 43 mil vagas de trabalho no Brasil num universo de mais de 13 milhões de desempregados? É a demora com que a reforma da Previdência, uma medida para ontem num país devastado por uma crise econômica de cinco anos, tramita no Congresso, à espera de mais empenho da articulação política do governo e do partido do presidente, ou saber se Mourão conspira contra Bolsonaro?
Para começo de conversa, vice não consegue conspirar contra o titular que esteja forte e tenha apoio da população por seus méritos administrativos e políticos. Ex-vice-presidente de Lula, o empresário José de Alencar nunca deixou de criticar o governo e bater na tecla de que o Brasil precisava baixar os juros sem que em nenhum momento suas posições causassem a mais leve preocupação no presidente nem suspeitas de que ele liderava um plano para golpeá-lo. A diferença era que Lula, goste-se ou não de sua visão de país, era uma liderança política verdadeira.
E Bolsonaro, numa distância e tanta do ex-presidente neste quesito particular, não sabe sequer liderar a própria família. Ou então acredita que é possível comandar usando os zeros à esquerda para mandar recados para o que se imagina sejam seus novos desafetos, questão que não tem a menor importância para a maioria da população do país, às voltas com o aumento da desigualdade, da carestia e do clima de insegurança e desânimo em decorrência da falta de notícias sobre medidas para reativar a economia.
Em primeiro lugar, o presidente e sua prole, que vive da política, apesar de ele se declarar contra a velha política, na qual se inscreve esta péssima tradição nacional de ajudar na eleição de filhos e parentes e formar verdadeiros clãs para ocupar posições no Estado, deveria começar a se resignar diante do fato de que o vice é infinitamente mais preparado que ele e, ao que parece, também muito mais inteligente, ainda que a virtude de raciocinar bem e sob condições adversas seja imensamente mais difícil de mensurar.
Além disso, vieram exatamente de Mourão, uma vez compenetrado da condição de vice, as posições mais moderadas diante do continuado destempero de Bolsonaro já como presidente. Tudo ficaria mais fácil, aliás, se, reconhecendo o papel que a população lhe delegou de chefe da Nação, Bolsonaro ouvisse os conselhos para esquecer das futricas e começar a trabalhar pelo povo brasileiro que lhe deu ontem o deputado federal Otoni de Paula (PSC-RJ), indignado com a perda de tempo da família presidencial e, naturalmente, do governo. Ilustre membro do baixíssimo clero do Congresso Nacional, Otoni simplesmente deu uma bela e memorável enquadrada no presidente da República neste país de tantos eventos políticos inéditos.
* Artigo do editor Raul Monteiro publicado na edição de hoje da Tribuna.
Raul Monteiro*

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