O candidato da direita à presidência da França, François Fillon, pediu perdão a seus seguidores, neste domingo, pelo escândalo de empregos fantasmas que ameaça enterrar sua campanha, mas voltou a defender sua inocência. Em discurso diante de milhares de pessoas na Place duTrocadéro-et-du-11-Novembre, perto da Torre Eiffel, Fillon admitiu – mais uma vez – ter cometido “um erro” ao contratar sua mulher, Penelope, como assistente parlamentar.
Fillon disse, porém, estar convencido de que será inocentado. “O problema é que, aí, será tarde demais. As eleições terão sido manipuladas”, declarou o candidato, de 63 anos. “Fiz um exame de consciência (…) Agora cabe a vocês fazer o mesmo”, declarou.
No comício, Fillon lamentou ter sido “atacado por todo mundo” nas últimas semanas, mas reconheceu sua responsabilidade nos “enormes obstáculos” que marcaram sua campanha. “Eu lhes devo desculpas, incluindo a de ter de defender minha honra e a da minha mulher, enquanto que, tanto para vocês quanto para mim, o importante é defender nosso país”, acrescentou.
O perigo para os conservadores é perder eleições dadas quase como certas até a divulgação do caso dos empregos fantasmas envolvendo a família Fillon por parte do semanário Le Canard Enchaîné, em meados de janeiro. A marcha deste domingo foi convocada pelo próprio candidato em meio à sangria de apoios, como uma tentativa de demonstração de força – Fillon vem sendo pressionado pelos caciques de seu partido a abandonar a corrida eleitoral. De acordo com a polícia local, o evento teria reunido entre 35.000 e 40.000 pessoas.
Em entrevista ao telejornal do canal público France 2, após o comício, Fillon declarou que “ninguém” pode impedi-lo de ser candidato. “Minha candidatura continua a ser apoiada pela maioria dos eleitores de direita e de centro, eu acredito, e acho que demonstrei isso esta tarde”, afirmou.
O fato é que as pesquisas são devastadoras e mostram que o escândalo manchou sua imagem de “homem honrado”. As sondagens mais recentes apontam que ele não conseguirá passar pelo primeiro turno, em 23 de abril.
Sangria
Protagonista do escândalo que abala a carreira de seu marido, Penelope falou pela primeira vez em público, em uma entrevista publicada no Journal du Dimanche, na qual aconselhou Fillon a lutar até o fim. Penelope ressaltou que seu marido “é o único candidato com experiência (…), projeto e determinação necessários para dirigir a França”. Na entrevista, ela negou o caráter “fantasma” do emprego, alegando que realizou “tarefas muito variadas” para seu marido quando ele era deputado. Na França, os deputados têm direito a contratar parentes, desde que a vaga seja real, e eles realmente trabalhem.
Esta semana, cerca de 250 dirigentes e políticos de seu partido retiraram o apoio a Fillon. O candidato chegou a declarar que desistiria da corrida eleitoral se fosse indiciado pela Justiça. Depois recuou, afirmando que se submeteria apenas ao “sufrágio universal”, o que desencadeou a série de abandonos de apoio.
São cada vez maiores as pressões para que Fillon renuncie e seja substituído por Alain Juppé, ex-primeiro-ministro que ficou em segundo lugar nas primárias da direita e é considerado politicamente mais moderado do que o atual candidato. Na noite deste domingo, Alain Juppé disse em seu perfil no Twitter que fará um pronunciamento na segunda-feira, às 9h30 (horário local), em Bordeaux. A cúpula do partido também se reúne na segunda para estudar a situação atual. Um dos caciques do partido, o presidente da região de Provença-Alpes-Costa Azul, Christian Estrosi, disse que ele e outras duas lideranças devem se encontrar com Fillon para insistir na retirada de sua candidatura.
(Com AFP)
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