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Ameaças, desaforos e até o Tintin, tudo para atrapalhar o Brexit

Divórcio do século: União Europeia afia os dentes para intimidar o Reino Unido nas negociações que começam para valer a partir da próxima quarta-feira

Uma conta equivalente a 200 bilhões de reais. Este é o preço do “divórcio” que os negociadores da União Europeia vão apresentar ao Reino Unido para selar a separação. Ou melar, uma vez que dificilmente a primeira-ministra Theresa May, ou qualquer outro governo, aceitaria uma chantagem desse tamanho. 
A informação sobre o valor consta de um documento obtido por um jornal holandês. Outra ameaça: o acesso ao mercado comum só será possível se o governo britânico mantiver o princípio da livre circulação de cidadãos de todos os membros da União Europeia – justamente um dos principais motivos da aprovação do Brexit no plebiscito de 23 de junho do ano passado.
 Nove meses depois, Theresa May invocará na próxima quarta-feira, dia 29,  Artigo 50 do Tratado de Lisboa que desencadeia o processo de dois anos de negociações sobre como será a saída britânica. Sem direito a voltar atrás. 
Não é nada impossível que os burocratas europeus estejam usando a “tática Trump” de colocar um bode enorme dentro da sala para começar negociações numa posição de força – embora, evidentemente, viessem a ter um ataque de nervos com a comparação. 
E se Theresa May, como tem a obrigação de fazer, sugira que a conta de 200 bilhões seja objeto de um destino nada nobre? “Nesse caso, nos vemos em Haia”, menciona o jornal Telegraph, como a resposta, numa referência ao Tribunal Internacional com sede na cidade holandesa. 
FOGO NA CANOA 
Advogados a serviço do governo britânico já estudaram o assunto e concluíram que o Reino Unido tem direito a sair sem pagar nada, muito menos a conta, que em libras é de 50 bilhões. Algo disparatada, considerando-se que a contribuição britânica anual é de 13 bilhões de libras, das quais recebe de volta, em diferentes projetos, 4,5 bilhões – números também relevantes para entender por que a separação  foi aprovada no plebiscito. 
Outros dados relevantes foram divulgados pelo Telegraph. Mesmo entre a parcela considerável do eleitorado que não queria a saída da União Europeia, mais de metade atualmente apoia o fim da livre circulação.
A eliminação das barreiras impulsionou o movimento que atraiu boa parte dos 3,3 milhões de cidadãos de outros países europeus hoje radicados no Reino Unido. Metade dos “remainers”, que votaram contra a saída, também não quer saber do pagamento de benefícios sociais para estrangeiros – entre os “brexiters”, a proporção chega a 75%. 
Numa provocação mais engraçada, até um desenho de Tintin, o personagem hoje quase proibidão do cartunista Hervé, foi usado para provocar os ingleses. Na sala de reuniões da força-tarefa do Conselho Europeu, apareceu uma sátira de “Tintin e o plano para o Brexit”.
O menino aventureiro e seu amigo Capitão Haddock aparecem diante de uma fogueira acesa num bote para se aquecer em alto mar, indicando o consenso dominante entre a máquina da União Europeia de que o Brexit terá um efeito autodestrutivo para o Reino Unido. 
Com menos humor e mais sarcasmo, Jean-Claude Juncker, o presidente do Conselho, já disse que nunca mais nenhum outro país vai querer deixar a União Europeia depois do tratamento “exemplar” que será aplicado aos britânicos. 
TAPINHA NÃO DÓI 
Cada vez que Juncker abre a boca, mais gente se convence de que é certo sair da União Europeia. Nessa visão, Juncker, que foi primeiro-ministro de Luxemburgo durante 18 anos, é a epítome do burocrata não eleito por voto direto que interfere absurdamente em assuntos que não deveriam ser de sua alçada. 
Evidentemente apaixonado pelo chamado projeto europeu, ele realmente exagera e usa linguagem agressiva. Em algumas ocasiões, como o fictício Capitão Haddock em início de careira, parece estar três uísques à frente do resto da humanidade.
No caso mais escandaloso, em 2015, ele distribuiu tapinhas no rosto – amigáveis – de vários chefes de governo, comparou gravatas, agarrou o presidente François Hollande num abraço de tamanduá de chamou Viktor Orban de “ditador”.
Também amigavelmente. Orban é primeiro-ministro da Hungria, obviamente eleito, e uma figura importante da nova corrente nacionalista. Só Juncker em particular e mal informados em geral o chamariam de “ditador”. 
Juncker diz que arrasta a perna, dando a impressão de cambalear sob efeito do álcool,  por causa de um grave acidente de carro no passado e “sempre” chama Orban de ditador. “Eu sou assim. Quando alguém sai do padrão, é chamado de louco ou bêbado”, reclamou em entrevista a um jornalista francês. Nesse almoço, tomou quatro taças de champanhe. 
Theresa May vai ter um trabalho danado para coordenar as complicadíssimas negociações e o público em geral penará para entender os aspectos mais técnicos. Mas Juncker com certeza garantirá que, pelo menos, o processo terá intervalos para relaxar.  E uma tacinha de champanhe não fará mal a ninguém. 

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