Trump presidente: vai ser uma festa ou um baile dos horrores?
Talvez nenhum desses extremos, mas brigas e ameaças de morte contra membros do Colégio Eleitoral que o confirmarão indicam um perigoso estado de exaltação
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Os integrantes não se encontram diretamente, mas em separado, em cada um dos 50 estados americanos e no Distrito Federal. Votam de acordo com o ganhador do voto direto em cada estado. Este ano, o resultado seria de 232 votos para Hillary Clinton e 306 para Trump.
Como o que está acontecendo nos Estados Unidos não tem nada de “normalmente”, a votação final deve ser um pouco diferente, embora com o mesmo resultado.
O espantoso é o clima de extrema agressividade contra integrantes desse Colégio. A pressão partiu, na maioria, de pessoas ou organizações que não se conformam com a eleição de Trump e exigem que integrantes do Colégio Eleitoral rejeitem o resultado das urnas. Em teoria, eles poderiam fazer isso. Na prática, seria o caos institucional.
Pressionar representantes da população faz parte do jogo democrático. Editorialistas, professores de direito e até atores classe B – os do primeiro time que apoiaram Hillary Clinton ainda estão administrando a derrota – manifestaram-se pelo boicote a Trump. Mas houve casos de ameaças de violência e até de morte contra os membros do Colégio, muitas vezes cidadãos comuns, bem intencionados e nada acostumados à notoriedade nacional.
Do lado contrário, explodiu o caso de Christopher Suprun, integrante do Colégio Eleitoral pelo Texas e único republicano a anunciar que se considerava moralmente impedido de votar em Trump. Recebeu loas dos anti-trumpistas e o direito a um editorial no New York Times.
Até que uma televisão local escavou seu currículo e descobriu informações conflitantes com o nobre retrato apresentado por Suprun. Ele sempre se descreveu como bombeiro que participou das operações de emergência do 11 de setembro em Washington, onde o avião da American Airlines sequestrado pelos terroristas da Al Qaeda demoliu uma parte do Pentágono.
Mas foram levantadas duas hipóteses: ele não integrava a unidade do corpo de bombeiros à qual dizia pertencer na época ou então participava de outra, que não foi acionada no dia da tragédia.
Suprun se declarou vítima de calúnias tramadas por trumpistas. Ele também denunciou ameaças de violência hedionda contra sua mulher e suas filhas.
O caso Suprun é apenas um exemplo do ambiente de ânimos exacerbados a um nível quase inconcebível em torno da eleição de Trump. Americanos que votaram nele e alguns poucos analistas da grande mídia acham que o país vai melhorar sob o comando de um empresário que entende do riscado e já apontam sinais positivos para a economia, como a alta nas bolsas.
Praticamente todos os demais acreditam que Trump será um desastre fenomenal. O leque de suspeitas ou certezas a respeito dele abarca defeitos insanáveis: enganador, charlatão, ignorante, perigoso para a democracia e até avatar de interesses da Rússia de Vladimir Putin.
O governo que Trump está montando indica uma visão bem menos primitiva do que seus inimigos lhe creditam. Mas as reações viscerais que provoca não tendem a diminuir. O estilo beligerante dele só bota lenha na fogueira.
Em visita ao Alabama, onde foi recebido por jovens vestidas ao estilo do velho Sul, Trump ironizou os jornalistas acachapados com a vitória dele e respondeu a Michelle Obama. Mais afetada ainda do que o marido, a primeira-dama disse num programa de televisão que “as pessoas estão começando a sentir o que é não ter esperança”. Deve ter se expressado de forma errada, espetou Trump.
Considerando-se o comportamento habitual dele, foi até contido. Ninguém deve alimentar esperanças de que isso aconteça com frequência.
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