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Otaviano Canuto: Trump e a economia brasileira

Se o novo presidente americano seguir a agenda radical defendida em sua campanha, o Brasil terá de se proteger da piora no cenário externo

O futuro presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou uma plataforma com um potencial de forte impacto econômico: seu plano prevê um grande impulso por meio de medidas como gastos em infraestrutura, cortes de tributos que incidem sobre as empresas e uma agenda de desregulamentação nos setores financeiro e ambiental. As propostas fazem parte da meta declarada de elevação do crescimento econômico dos Estados Unidos para 4% ao ano, bem acima da taxa de 2% estimada como a potencial, nas circunstâncias atuais, pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). Detalhes importantes da política de Trump para a economia ainda precisam ser esclarecidos — por exemplo, quanto do 1 trilhão de dólares dos investimentos prometidos em infraestrutura ficará a cargo do setor público e quanto será viabilizado por meio de parcerias público-privadas. Será necessário saber, portanto, quanto esse plano representará de aumento no déficit fiscal do governo e na dívida do setor público. Conforme sugerido por diferentes experiências realizadas ao redor do mundo, inclusive nos Estados Unidos, aumentos súbitos nos investimentos públicos não são facilmente executáveis. Os projetos requerem tempo para ser implementados, e seus respectivos efeitos serão percebidos com defasagem, ao longo dos anos.
É na política comercial americana que se abrem dois cenários distintos. No cenário “Trump moderado”, o governo se limita a “quedas de braço” pontuais com as grandes companhias, ofertando concessões tributárias em troca da exigência de investimentos locais e da substituição de importações. Já no cenário “Trump radical” haveria o estabelecimento de tarifas extraordinárias e outras restrições sobre as importações (China e México foram objeto frequente de tais ameaças durante a campanha eleitoral). No cenário “Trump moderado”, poderá haver um estímulo à demanda, ainda que a custo de maiores desequilíbrios nas transações externas dos Estados Unidos. No cenário “Trump radical”, há elevados riscos de inflacionar substancialmente o custo interno de bens e serviços e de exercer impacto negativo sobre a lucratividade do setor privado americano. Além disso, “guerras comerciais” poderão representar perdas para todos na economia global, como aconteceu nos anos 30 do século passado.
Há três canais principais pelos quais a política econômica de Trump deverá afetar o Brasil. As taxas de juros americanas deverão elevar-se num ritmo mais acelerado que aquele que se projetou antes das eleições, na hipótese de a plataforma anunciada ser perseguida. A necessidade de avançar — e mais rapidamente — na agenda de reformas fiscais brasileiras, inclusive na Previdência, ganha relevo nesse contexto, de modo a reduzir o impacto da elevação de juros externos. O segundo canal seria o das exportações brasileiras para os Estados Unidos. Enquanto o cenário “Trump moderado” seria favorável, o cenário “Trump radical” compreenderia riscos de protecionismo sobre a pauta de produtos brasileiros. Embora a retórica do presidente eleito tenha se referido principalmente a importações de manufaturados, sua ação poderia ser estendida a produtos com base em recursos naturais, setor em que o Brasil possui grande competitividade. O terceiro canal é indireto, através da relação entre os Estados Unidos e a China. Os chineses têm sido obrigados a lidar com pressões de saída de capital e desvalorização de sua moeda desde a vitória de Trump. O Brasil, assim como as demais economias emergentes, não escapará ileso na hipótese do cenário “radical”.
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