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O Brasil está estagnado no – mau – ensino

Na corrida global pela excelência, encabeçada por estudantes de Cingapura, os brasileiros continuam entre os últimos

A cada três anos a OCDE (organização dos países mais desenvolvidos) divulga o ranking mundial do ensino. E toda vez que isso acontece fica evidente o atraso do Brasil. Nos dados anunciados hoje, há um outro aspecto ainda: os estudantes brasileiros não estão apenas no pelotão de trás como se encontram no mesmíssimo patamar que uma década atrás em ciências, a disciplina analisada nesta nova edição. Também em leitura e matemática o país não subiu de nível. É verdade que outros países, inclusive os europeus, deram uma estagnada. Mas pararam em nível já avançado. O Brasil, não: continua muito abaixo da média da OCDE e atrás de nações que investem menos na educação, como Colômbia, México e Uruguai. No número 1 da lista desponta Cingapura.
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Entre os 540 000 estudantes, de 15 e 16 anos, nos 72 países avaliados, os brasileiros ficaram em 63º lugar na prova de ciências, 59° em leitura e 65° em matemática (ver rankings). Pode-se atestar o mau resultado do Brasil sob diversas prismas. Em ciências, 60% dos alunos não passam do nível 2 numa escala que chega a 7. Segundo relatório da OCDE, essa turma não detém conhecimento mínimo para a “participação plena na vida social, econômica e cívica”. Em outras palavras, mais da metade dos alunos brasileiros não tem o repertório básico para conseguir identificar e explicar fenômenos científicos bastante simples.
Os desdobramentos do mau ensino de ciências para a economia são mensuráveis. De acordo com a Organização Mundial de Propriedade Intelectual (WIPO), o Brasil fica na 19ª posição na produção de patentes em comparação com vinte países – à frente apenas da Polônia e atrás dos emergentes China, Rússia, Índia e África do Sul. “Para se tornar inovador, falta ao Brasil oferecer um bom ensino das ciências desde as primeiras séries escolares”, diz o matemático Jacob Palis, pesquisador do Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (Impa). Enfatiza ainda o especialista Claudio Moura Castro, colunista de VEJA: “Sem uma base científica, o país estará condenado a áreas econômicas que demandam menos tecnologia e inovação. ”
O Pisa comprova de forma inequívoca que mais dinheiro não é sinônimo de mais educação como tanto se alardeia. Em 2012, o Brasil investia por aluno o equivalente a 32% dos países mais ricos; avançou para 42% em quatro anos. Mas a escola brasileira seguiu empacada no rol das piores do mundo. Com um investimento 5,7% menor, proporcionalmente, o vizinho Chile está quase 20 posições acima. De acordo com o Instituto Idados, dentre 34 países, o Brasil é o quinto no percentual de verbas que destina para a sala de aula em relação ao PIB: 5%. “De nada adianta colocar mais e mais verbas em um sistema que claramente não deu certo”, alerta João Batista de Oliveira, do Instituto Alfa e Beta.
A experiência dos países que estão no topo do ranking do ensino, entre eles Cingapura, China (Taiwan), Japão e Finlândia, nesta ordem, mostra que a alavanca para saltar no ensino reside em apostar todas as fichas no professor: esses países conseguem atrair os melhores alunos para a docência não só com salários iniciais atrativos, mas com uma carreira que abre espaço para que os mais talentosos avancem e sejam valorizados. Eles são exaustivamente treinados para encarar a sala de aula. Também o currículo nesses lugares vem sendo modificado para dar conta das demandas do século XXI – experiências que o Brasil deve observar agora que está elaborando o seu primeiro currículo nacional.
Os melhores alunos brasileiros, aqueles de renda mais alta e egressos de escolas particulares, apenas ombreiam com os medianos das nações que se dão bem na sala de aula. Menos de 1% dos estudantes daqui chegam aos patamares mais elevados de aprendizado, segundo o Pisa. Nos países da OCDE, o grupo da excelência é sete vezes maior. O Brasil precisa correr para não ficar fora deste jogo cada vez mais disputado.

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