Foto: Alan Santos/PR
06 de setembro de 2020 | 07:02Partidos do centrão se apoiam em Bolsonaro para crescer no Nordeste
Recém-alinhados ao governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), os principais partidos do centrão – bloco parlamentar que inclui legendas como PP, PSD, PL PTB, Solidariedade, PROS e Avante – preparam uma ofensiva sobre prefeituras de cidades do interior no Nordeste.
A intenção é ganhar musculatura para trilhar um caminho próprio na eleição de 2022, quando sete dos nove governadores de estados nordestinos encerram seus mandatos sem possibilidade de reeleição.
Para ganhar maior protagonismo, os partidos do centrão contam com o apoio do governo federal e do presidente, que tem inaugurado obras e já fez quatro visitas à região nos últimos três meses.
Em contrapartida, o presidente aposta em uma rede de aliados no Nordeste para tentar ganhar terreno em uma região na qual teve menos votos que Fernando Haddad (PT) na eleição de 2018.
Bolsonaro afirmou na última semana que não apoiará candidatos no primeiro turno das eleições municipais. Contudo a avaliação dos líderes partidários é a de que a força da máquina federal, com obras e recursos para os municípios, pode fazer a diferença.
Presidente nacional do PP, o senador Ciro Nogueira (PI) vê o estreitamento com o governo federal como uma relação de ganha-ganha. De um lado, o partido ajuda o presidente a enfrentar temas impopulares no Congresso Nacional. De outro, o governo acena com mais gastos com obras de infraestrutura.
“Sempre tivemos esta visão pragmática na relação com o governo federal. Somos um partido de resultados”, afirma o senador Ciro Nogueira.
O estreitamento coincide com o avanço da popularidade do presidente no Nordeste. Pesquisa Datafolha divulgada em agosto revelou que 33% dos eleitores da região consideram o governo Bolsonaro ótimo ou bom contra 27% da pesquisa anterior, de junho.
O aumento da popularidade foi impulsionado, dentre outros fatores, pelo auxílio emergencial pago durante a pandemia. Nos quatro últimos meses o benefício foi de R$ 600, e ele ganhará mais quatro parcelas de R$ 300 até dezembro, depois das eleições.
“Não tenho dúvida de que o presidente Bolsonaro será o principal cabo eleitoral nas eleições deste ano”, afirma o deputado João Carlos Bacelar (PL-BA), que apoia o presidente na esfera federal, o governador Rui Costa (PT) no estado e o prefeito ACM Neto (DEM) em Salvador.
A expectativa é que o presidente participe de novas inaugurações e vistorias em estados do Nordeste antes da eleição. Ainda neste mês de setembro, ele deve visitar as obras da ferrovia Oeste-Leste, na Bahia.
Em clima de campanha, terá mais uma oportunidade para estreitar o contato com parlamentares da região, que buscam dar impulso para os candidatos a prefeito que disputam a eleição deste ano e que formarão sua base de apoio na busca pela reeleição, em 2022.
Mesmo antes da eleição, os partidos do centrão haviam ganhado musculatura no Nordeste. As legendas atraíram novos prefeitos durante a janela partidária em abril, período no qual os prefeitos podem mudar de legenda sem sofrer punição.
O campeão em prefeitos no Nordeste agora é o PSD, que cresceu de 241 para 273 chefes do Executivo municipal, superando o MDB.
O partido se alinhou a Bolsonaro e indicou o deputado federal Fábio Faria (RN) para o recriado Ministério das Comunicações.
A segunda legenda com mais prefeitos passou a ser o PP, que tinha 142 e saltou para 252. Com o avanço, o partido superou MDB, PSB e PSDB.
A meta dos partidos para este ano é consolidar essa dianteira e ampliar ainda mais a base de prefeitos e vereadores, mirando inclusive capitais.
O PP vai disputar as prefeituras de Maceió e João Pessoa, capitais dos estados dos dois líderes do centrão que disputam a indicação para disputar a presidência da Câmara dos Deputados em 2021: Arthur Lira (AL) e Aguinaldo Ribeiro (PB).
Em Maceió, o candidato do PP à prefeitura será o deputado estadual Davi Davino Filho, que já conseguiu o apoio do Republicanos, PSL e DEM. Uma vitória na capital alagoana é considerada fundamental para consolidar um projeto para 2022, quando o governador Renan Filho (MDB) encerra seu mandato.
Na capital paraibana, PP lançou a candidatura do ex-prefeito Cícero Lucena e começa a compor um amplo arco de alianças, incluindo o apoio do governador João Azevêdo, que trocou o PSB pelo Cidadania.
O PROS, que também faz parte do centrão, concentrará suas energias em Fortaleza, onde lançou o deputado federal Capitão Wagner. O capitão da Polícia Militar, que é aliado de Bolsonaro, deve polarizar com o candidato, ainda não definido, apoiado pelos irmãos Cid e Ciro Gomes, do PDT.
O desfecho das urnas poderá resultar em um redesenho das forças políticas da região. No Piauí, por exemplo, esse movimento foi antecipado com o rompimento de Ciro Nogueira com o governador Wellington Dias (PT).
“O governador foi mesquinho. Preferiu ter uma visão partidária e abriu mão de uma ponte junto ao governo federal”, afirma Nogueira.
Dias credita o rompimento ao senador, que teria se afastado para organizar a oposição e ser candidato ao governo do Piauí em 2022: “Eu respeito, é um direito dele”.
O PP governa 89 dos 224 municípios do estado e tem como meta crescer ainda mais neste ano, quando terá candidatos em 150 cidades. Em Teresina, a legenda apoiará a candidatura de Kleber Montezuma (PSDB).
Na contramão do Piauí, o PP e outros partidos do centrão seguem aliados a outros governadores de esquerda da região, caso de Rui Costa (PT) na Bahia, Paulo Câmara (PSB) em Pernambuco e Flávio Dino (PC do B) no Maranhão, mesmo com apoio a Bolsonaro.
A estratégia de um pé em cada canoa vai se refletir na eleição municipal de formas distintas. No Recife, PSD, Republicanos, PROS e Avante estão unidos em torno da candidatura do deputado federal João Campos (PSB), filho do ex-governador Eduardo Campos (1955-2014).
Já em Salvador, o cenário é de pulverização: mesmo aliados a Rui Costa, PP, PSD e PL não vão embarcar na candidatura de Major Denice (PT). Os partidos vão apoiar, respectivamente, os nomes de Olívia Santana (PC do B), Pastor Sargento Isidório (Avante) e Bruno Reis (DEM).
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