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Agência Brasil
29 de julho de 2020 | 06:55

Petrobras diz que erro de subcontratada resultou em 2 milhões de anúncios em sites de fake news

BRASIL
Num documento remetido ao TCU (Tribunal de Contas da União), a Petrobras afirmou que quase 2 milhões de anúncios com sua marca foram indevidamente veiculados em sites cujo conteúdo pode ser impróprio.
A informação foi enviada à corte no âmbito de um processo para analisar denúncias de pagamento, pela estatal, de propaganda em páginas de internet e canais do YouTube que espalham fake news e ataques ao STF (Supremo Tribunal Federal).
O caso será julgado nesta quarta-feira (29). O tribunal decidirá se cabe ou não aplicar medida cautelar proibindo a companhia de anunciar em sites, blogs, portais e redes sociais que promovem desinformação e difamam personalidades.
Ao responder a questionamentos do TCU, a Petrobras afirmou ter feito uma revisão de suas campanhas na web nos últimos anos, descobrindo que, por um suposto erro de uma empresa prestadora de serviços, as peças foram publicadas em sites que estão fora da lista por ela autorizada e homologada pela Secom (Secretaria de Comunicação Social), atualmente vinculada ao Ministério das Comunicações.
A relação de páginas nas quais a propaganda pode ser exibida, conhecida como “whitelist”, é feita previamente e dela são excluídas aquelas de conteúdo considerado impróprio, como sobre sexo, drogas e pirataria, além das que veiculam fake news. A associação a elas implicaria dano à imagem da estatal.
Um dos sites que receberam anúncios é o do Jornal da Cidade Online, conhecido por propagar notícias falsas favoráveis ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ao menos desde as eleições de 2018.
Ele é um dos alvos do movimento Sleeping Giants Brasil, lançado em maio no país, cujo objetivo é demover empresas de anunciar em espaços de preconceito e desinformação.
Naquele mês, após alerta do Sleeping Giants, o Banco do Brasil informou ter cortado sua publicidade no site. No entanto, recuou após ser cobrado pelo vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do presidente.
O caso foi parar no TCU, que proibiu a instituição financeira de anunciar em ambientes de fake news.
A Petrobras afirmou à corte de contas que 13.038 anúncios foram divulgados no Jornal da Cidade Online em dezembro de 2019, sem seu “conhecimento ou autorização”.
Justificou que, por erro de uma empresa subcontratada pela Propeg, agência de propaganda responsável por suas campanhas, foram veiculadas ao todo “impressões publicitárias” em 736 sites. Porém, a “whitelist” da estatal tinha apenas 261.
A companhia atribuiu a falha a um analista da empresa Gamned, parceira da Propeg especializada em mídia digital.
“A veiculação em tais sites resultou em um aumento de 1,95 milhão de impressões publicitárias indevidas (sites que não estavam incluídos na whitelist)”, diz trecho de relatório do TCU sobre o caso, obtido pela Folha.
O documento não cita a relação completa dos sites indesejados que foram contemplados, tampouco o período em que ocorreram as publicações.
Ao TCU a Petrobras declarou que os anúncios indevidos não lhe geraram gastos, pois a Gamned não os apresentou no relatório que comprova as veiculações e subsidia as cobranças.
O relatório do tribunal afirma, no entanto, que, a despeito do prejuízo financeiro, a associação da marca a um site de conteúdo impróprio pode trazer danos de imagem.
A Petrobras justificou à corte que só descobriu o problema em junho, mas que, de lá para cá, fez mudanças em seu esquema publicitário para evitar a repetição de falhas.
Uma delas foi suspender a publicidade no YouTube, pois a plataforma não permite controle dos canais que recebem publicações.
Outra foi atualizar filtros para exclusão prévia de ambientes reconhecidamente inadequados, além do “expurgo de categorias não compatíveis com a marca” da estatal (pornografia, violência, jogos de azar, tabaco e terrorismo).
Em seu parecer sobre o caso, a área técnica do TCU propõe que a corte continue fiscalizando os investimentos de publicidade da estatal, mas não a proíba de anunciar na internet, já que não foi apurado prejuízo financeiro com o suposto erro. No entanto, a decisão a respeito caberá aos ministros da corte.
Em nota à Folha, a Petrobras afirmou que, em dezembro de 2019, a Gamned veiculou anúncios fora da lista de sites previamente autorizada sem conhecimento prévio da agência Propeg e da própria estatal.
Segundo a companhia, o erro foi decorrência de uma “falha operacional de um analista” de equipe da empresa.
A Petrobras sustenta que não teve despesas com a publicidade nos sites indevidos, pois “no relatório de comprovação das veiculações enviado pela Gamned, utilizado para pagamento, foram omitidas as veiculações fora da lista autorizada”.
“A Petrobras pagou apenas as 14.967.664 impressões de anúncios previamente contratados e veiculados em ambientes da lista autorizada”, afirmou, acrescentando que o custo foi de R$ 220,1 mil.
“Vale destacar que é usual no mercado ocorrer excedente de impressões, que são consideradas bonificações pelas redes de conteúdo.”
A estatal argumentou ter intensificado os mecanismos de controle de publicidade na internet, a serem cumpridos pela empresa prestadora de serviço que controla as campanhas publicitárias online.
Em futuras campanhas, diz a companhia, serão feitos testes preliminares com redes de conteúdo pré-selecionadas pelas agências de publicidade e com as respectivas listas de sites. “Somente serão admitidos para as campanhas redes e sites que possam ser monitorados plenamente.”
A Petrobras ainda deixará de usar a distribuição de material publicitário em aplicativos de celular, “uma vez que nestes não é possível realizar os bloqueios programados de aplicativos indesejados”.
A Propeg disse ter fornecido todas as informações necessárias à Petrobras assim que solicitadas. “As impressões que ocorreram fora da whitelist (fruto de erro operacional da Gamned) não foram consideradas. Desta forma, nenhuma impressão fora da whitelist foi paga pela Petrobras”, afirmou.
A Folha não obteve resposta da Gamned.

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