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O grande "plano" econômico do presidente Jair Bolsonaro para tirar o país da crise é acabar com o confinamento

O mundo enfrenta a pandemia e o Brasil, o pandemônio, por Raul Monteiro*

EXCLUSIVAS
A frase é luminar e surgiu nas redes, postada por alguém não muito famoso: enquanto o mundo enfrenta a pandemia, o Brasil, o pandemônio. O repentino pronunciamento de Jair Bolsonaro (sem partido) coroa, com recursos literários, a expressão. Lamentavelmente, em cinco minutos, o presidente da República apresentou, em cadeia de rádio e TV, na última terça-feira à noite, seu grandioso plano econômico para conduzir o país numa crise da qual a sociedade não consegue ver nem a ponta do iceberg: acabar com o isolamento social, aposta da Organização Mundial de Saúde para ajudar a controlar o coronavírus. Simples assim. Para, supostamente, não fechar empresas e o desemprego não explodir, o que arrasaria com a sua reeleição, o presidente, esse gênio da raça humana, deu a solução.
É só levar a vida normalmente, como se nada estivesse acontecendo, a não ser o risco de contrair uma gripezinha ou um resfriadinho que podem ser enfrentados com uma boa dose de cachaça, mel e limão. Porque também lhe falta, Bolsonaro desconsidera a inteligência alheia e o fato de que outros tentaram fazer o mesmo sob a crise do novo mal do século e não conseguiram. Preocupada com o efeito na economia dos seus primeiros casos, a Itália tentou tapar o sol com a peneira para não prejudicar o turismo, seu combustível, e teve que recuar. Anteontem, prefeitos de suas lindas cidadezinhas faziam apelos desesperados de casa e mesmo nas ruas pelo recolhimento geral, numa cena tão triste quanto patética.
O mesmo trajeto cursou a Espanha, cujo resultado a mergulhou em situação igualmente crítica na Europa. No Reino Unido, um plano de contenção doméstica foi elaborado às pressas depois que se constatou que a única forma razoavelmente eficiente de sustar a rápida expansão da doença, de forma a permitir que a todos seja dado o direito de terapia intensiva, se necessário, era evitar a livre circulação de pessoas. Sem gente, consumo e produção, a economia colapsa, empurrando no Brasil, pelos cálculos mais otimistas, outros cerca de 30 milhões de pessoas para o olho da rua – além dos mais de 10 milhões de desempregados existentes -, sem condições de comer, comprar e pagar contas mínimas.
Certo? Óbvio! Nesta hora, precisa-se desesperadamente de gente suficientemente inteligente reunida sob uma liderança sensata e capaz, com razoável competência no gerenciamento de talentos, propondo ideias para um plano factível e robusto, que leve em conta o propósito humanitário de salvação das empresas e das famílias, para enfrentar a crise, sob as expensas, agora como nunca, do Estado. Mas aí emerge a pergunta inevitável: é do que o Brasil dispõe? É o atual presidente da República a personalidade portadora dos atributos que o enfrentamento de uma tragédia anunciada e desafiadora como a atual impõe? A histeria com que o empresariado, supostamente a parte mais forte da corda, se sacode, dá uma pista.
Se tivessem alguma segurança quanto à direção que o governo dará ao país, afora a retórica belicosa com que sempre se apresentam seus representantes em qualquer circunstância, certamente não teriam se arriscado vários a sair por aí, sem se preocupar com o nazismo de suas declarações, a sugerir que é melhor que morram de sete mil a 12 mil pessoas, entre velhos e favelados, do que se arrebente toda a Nação com uma quarentena, como se tivessem o direito de dizer quem vai viver ou morrer. Num momento em que o pessimismo impera, esperar que da cachola do ministro da Economia, Paulo Guedes, um liberal primitivo, dado o seu histórico de formulações e omissões (não conseguiu sequer apresentar as reformas administrativa e tributária), vá brotar alguma idéia para socorrer o Brasil – isto é, a economia e o seu povo – é mesmo apostar no pandemônio.
* Artigo do editor Raul Monteiro publicado na edição de hoje da Tribuna.

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