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Estadão/Arquivo
Competência de Mandetta para enfrentar desafios deve estar surpreendendo Bolsonaro

Bolsonaro ainda não conseguiu dar em Mandetta o nó que aplicou em Sérgio Moro

EXCLUSIVAS
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) está se havendo com um páreo duro em sua equipe. O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, espécie de ilha de excelência de um governo absolutamente frágil tanto política quanto administrativamente, não tem mordido suas iscas.
É óbvio que a decisão do primeiro mandatário de fazer um tour pelo comércio de Brasília ontem tinha como alvo o ministro que ascende como liderança e praticamente único farol para a crise neste governo. Fora um desdobramento da reunião em que Mandetta chamou o presidente e toda a equipe às falas, no dia anterior.
O ministro levou a eles a reflexão sobre se suportariam a imagem de ver carros do exército desfilando com caixões nas ruas, como acontece em países europeus, ao condenar a tresloucada posição da turma contra a firme recomendação da Organização Mundial de Saúde (OMS) pela quarentena.
No encontro, disse ao presidente que, se, como prometido, ele insistisse em visitar estações de ônibus e metrô em São Paulo, seria obrigado a criticá-lo, ouvindo como resposta que, então, Bolsonaro o demitiria. A reunião marcou, naturalmente, um distanciamento irreversível entre eles.
A personalidade paranóica e autoritária do presidente não permite contestações. Ocorre que Mandetta é diferente do ministro da Justiça, Sérgio Moro, que foi até há pouco a principal estrela da equipe presidencial. Com todos os instrumentos na mão, Moro não soube converter em política a enorme liderança moral com que chegou ao governo.
Deixou esvair todo o seu brilho à medida que se submetia a Bolsonaro. Mas Mandetta é, antes de médico e técnico competente, hábil comunicador e um político nato, ex-secretário e ex-congressista com uma habilidade para se mover entre desafios e cascas de banana que provavelmente o presidente não suspeitava.
Por este motivo, no deserto de lideranças políticas que o Brasil virou, entrou superficialmente no rol de presidenciáveis à medida que foi ficando mais claro o despreparo, para lidar com a crise, do presidente, que passou a lhe temer como temeu, no passado, a Moro, antes de o ministro da Justiça se entregar completamente a ele.
Além da personalidade firme, Mandetta é seguro, sabe o que o país atravessará e onde precisa chegar na pandemia. As concessões que tem feito ao presidente, como um elogio a uma falsa preocupação dele com a sociedade, e o ataque à mídia, hoje maior aliada do Ministério da Saúde, fazem parte da tática para prolongar sua permanência.
De fato, só com muito jogo de cintura conseguirá executar o plano a que se propôs de ajudar o país nesta crise abissal, tendo como principal adversário aquele que deveria ser seu maior defensor. A sociedade deve torcer para, comportando-se de forma exemplar na Saúde como está, consiga sobreviver no governo.
Se, como tudo indica, o ministro não perder, como Moro fez, a altivez que tem demonstrado até agora, provavelmente será mais um a ajudar a desmascarar a inadequação de Bolsonaro para o cargo de presidente da República, colaborando para que o país encontre, depois da crise, uma alternativa aos dois pólos políticos estéreis em que vem se debatendo.

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