Pular para o conteúdo principal
Folhapress
Eduardo Centola

‘País não tem condições de construir um plano Marshall’, diz presidente do Banco Modal

ECONOMIA
O presidente do Banco Modal, Eduardo Centola, acredita que o País não tem condições financeiras para construir um Plano Marshall como propõem alguns empresários brasileiros para combater o coronavírus. O executivo, que também é membro do conselho da construtora chinesa CCCC (que no Brasil controla a Concremat), é contra o fechamento das empresas por conta dos impactos na economia. “Poderia existir um meio termo para incentivar as pessoas a voltar a trabalhar, reabrir seus negócios, com cuidados especiais. Somente idosos e pessoas contaminadas pelo covid-19 deveriam ser isoladas”, afirmou. A seguir, os principais trechos da entrevista:
O sr. é contra o fechamento das empresas nesta fase mais crítica do coronavírus no País?
Sou contra o “lockdown”. Diferentemente de outros países, no Brasil não conseguimos prover a assistência financeira para pequenos e médios negócios e muitos estarão desempregados. De maneira geral, as estatísticas mostram que o vírus se espalha rapidamente, mas tem uma letalidade diferente dependendo da faixa etária. Para pessoas saudáveis, entre 20 e 50 anos, essa mortalidade é muito pequena. Então, acho que poderia existir um meio termo para incentivar essas pessoas a voltar a trabalhar, reabrir seus negócios, com cuidados especiais, como foi feito em Taiwan e Cingapura, por exemplo. Não podemos deixar essa população em casa, somente as pessoas que enfrentam riscos.
Há empresários que defendem um plano Marshall para o Brasil. Como vê esta iniciativa?
Não vai ser possível no nosso País se estruturar financeiramente um plano Marshall. O que está acontecendo agora, um efeito imediato e compreensível, é que prefeitos (e parte dos governadores) estão adotando as mesmas medidas dos Estados Unidos e Alemanha. Mas o que não se leva em consideração é que nos EUA vão lançar um plano de mais de US$ 2 trilhões para apoiar a economia. Na China, bancos auxiliaram pequenos negócios, mesmo sem eles pedirem. O governo chinês foi pró-ativo. Estou conversando muito com empresários de médio e grande porte no País. Se passar mais duas semanas, vão começar a despedir muita gente. O apoio de R$ 55 bilhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) não é nada. A abordagem do Brasil não pode ser uma cópia de outros lugares. Tem de ser de acordo com a realidade brasileira.
Como teria de ser?
Tem de reabrir os negócios. Mas para isso, isolar a população que tem risco estatístico muito grande e colocar as pessoas saudáveis de 20 a 50 anos na linha de frente com precauções de distanciamento. Numa guerra, as nações mandavam os mais jovens para o campo de batalha, mesmo sabendo que alguns deles iriam morrer. Aqui, a gente vai precisar que esses mais jovens voltem para carregar a economia. Quando esse risco passar, e vai passar, a gente evitaria um colapso econômico. Com os fechamentos de empresas, muito mais gente vai sofrer de miséria e falta de emprego do que ficar doente com vírus. O terceiro pilar é a construção maciça de UTIs com respiradores para aguentar a fase de pico. A CCCC, da qual sou membro do conselho, pode ajudar nisso.
Como?
Estamos trabalhando em três frentes para tentar ajudar e não só em São Paulo e Rio de Janeiro, onde os governadores estão bem encaminhados sobre isso. O problema é o resto do País. Já estamos em contato com outros estados, como Bahia. A China pode nos ajudar com isso. Lá, já se tem capacidade ociosa para produção de máscaras e a própria CCCC indicou que pode trazer uma quantidade maciça de máscaras a um custo de R$ 1. Precisa, é lógico, estruturar a famosa logística Brasil e impostos. Além disso, importar os kits para exame – na China, os resultados saem em menos de três horas – e os respiradores.
Na semana passada, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL) atribuiu a origem do coronavírus à China. Como o sr. vê esse posicionamento do filho do presidente nas relações comerciais com o Brasil?
Do ponto de vista empresarial, ninguém está prestando atenção nisso. Estamos pensando em saúde em primeiro lugar. Política fica para depois.
Mas a fala provocou uma crise diplomática e o governo chinês exigiu um pedido de desculpas.
Vamos ter de passar por cima de muitas coisas para que possamos chegar a uma conclusão boa disso tudo. Tenho participado diariamente de reuniões do conselho da CCCC (com executivos chineses) e, do ponto de vista empresarial, não temos discutido isso. A gente tem descontado as farpas. Não importa de onde veio o vírus.
A CCCC paralisou as atividades no Brasil?
Estamos trabalhando em home office nas áreas que podem. A gente não quer paralisar as obras. Dependemos de nossos clientes e estamos estudando essa decisão com eles.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Atuação que não deixam dúvidas por que deveremos votar em Felix Mendonça para Deputado Federal. NÚMERO  1234 . Félix Mendonça Júnior Félix Mendonça: Governo Ciro terá como foco o desenvolvimento e combate às desigualdades sociais O deputado Félix Mendonça Júnior (PDT-BA) vê com otimismo a pré-candidatura de Ciro Gomes à Presidência da República. A tendência, segundo ele, é de crescimento do ex-governador do Ceará. “Ciro é o nome mais preparado e, com certeza, a melhor opção entre todos os pré- candidatos. Com a campanha nas Leia mais Movimentos apoiam reivindicação de vaga na chapa de Rui Costa para o PDT na Bahia Neste final de semana, o cenário político baiano ganhou novos contornos após a declaração do presidente estadual do PDT, deputado federal Félix Mendonça Júnior, que reivindicou uma vaga para o partido na chapada majoritária do governador Rui Costa (PT) na eleição de 2018. Apesar de o parlamentar não ter citado Leia mais Câmara aprova, com...
Estudo ‘sem desqualificar religião’ é melhor caminho para combate à intolerância Hédio Silva defende cultura afro no STF / Foto: Jade Coelho / Bahia Notícias Uma atuação preventiva e não repressiva, através da informação e educação, é a chave para o combate ao racismo e intolerância religiosa, que só em 2019 já contabiliza 13 registros na Bahia. Essa é a avaliação do advogado das Culturas Afro-Brasileiras no Supremo Tribunal Federal (STF), Hédio Silva, e da promotora de Justiça e coordenadora do Grupo de Atuação Especial de Proteção dos Direitos Humanos e Combate à Discriminação (Gedhdis) do Ministério Público da Bahia (MP-BA), Lívia Vaz. Para Hédio o ódio religioso tem início com a desinformação e passa por um itinerário até chegar a violência, e o poder público tem muitas maneiras de contribuir no combate à intolerância religiosa. "Estímulos [para a violência] são criados socialmente. Da mesma forma que você cria esses estímulos você pode estim...
Lula se frustra com mobilização em seu apoio após os primeiros dias na cadeia O ex-presidente acreditou que faria do local de sua prisão um espaço de resistência política Compartilhar Assine já! SEM JOGO DUPLO Um Lula 3 teria problemas com a direita e com a esquerda (Foto: Nelson Almeida/Afp) O ex-presidente  Lula  pode não estar deprimido, mas está frustrado. Em vários momentos, antes da prisão, ele disse a interlocutores que faria de seu confinamento um espaço de resistência política. Imaginou romarias de políticos nacionais e internacionais, ex-presidentes e ex-primeiros-ministros, representantes de entidades de Direitos Humanos e representantes de movimentos sociais. Agora, sua esperança é ser transferido para São Paulo, onde estão a maioria de seus filhos e as sedes de entidades como a CUT e o MTST.