Pular para o conteúdo principal
PMDB volta a se chamar MDB: retorno ao passado para aplacar crise de imagem 4 / 13
Temer, na convenção do partido, que já trazia a sigla "MDB".© PMDB Nacional Temer, na convenção do partido, que já trazia a sigla "MDB".
O PMDB não quer mais ser o PMDB. Ao menos no nome. Com a imagem abalada pelos escândalos de corrupção, o fisiologismo escancarado e a adoção de medidas impopulares com a chegada de Michel Temer ao poder, o partido decidiu fazer o que os marqueteiros chamam de rebranding —uma mudança de nome para tentar assumir, aos olhos do público, uma nova identidade. Para isso, escolheu adotar a sua sigla original, MDB (Movimento Democrático Brasileiro), legenda que carrega um enorme peso histórico para a esquerda: o de ter sido a oposição à ditadura militar e de ter aglutinado os interesses dos movimentos sociais e sindicais que faziam resistência ao regime.
Agenda do dia: veja o que você precisa saber hoje
Na convenção que marcou a mudança de nome na manhã desta terça-feira, o senador Romero Jucá, presidente nacional do partido e denunciado pela Lava Jato, afirmou que a medida tinha o objetivo de recuperar o nome original e, com isso, ter causas claras para a sigla. Junto à nova nomenclatura, o PMDB também mudará seu programa partidário em março do ano quem vem, preparando o terreno para as eleições de 2018, em que pretende garantir a existência de um candidato governista que defenda o legado de Temer, seja por meio de uma sigla aliada ou até de uma candidatura própria —segundo Jucá em uma entrevista publicada pela Folha de S.Paulo na última segunda, o nome de Temer não está descartado, ainda que seja um cenário difícil de imaginar devido à baixa popularidade dele. O partido, que tem a maior bancada da Câmara dos Deputados, também tenta recuperar sua imagem de olho nas eleições legislativas, temendo que muitos de seus deputados não se elejam.
Para o cientista político Bolívar Lamounier, que já na década de 1980 fazia pesquisas sobre o MDB, a estratégia é "um truque eleitoral". "Não vai alterar em nada a essência do partido, de um partido clientelista, fisiológico e totalmente corrupto. Ele não tem a menor condição de se tornar um partido progressista, social. É uma tentativa de ganhar terreno eleitoral, fazendo de conta que é a continuidade do velho MDB. Mas não tem nada a ver uma coisa com a outra. O MDB era uma frente de oposição ao regime militar. Hoje o PMDB é um partido clientelista, não tem mais substância alguma", destaca.
Após a convenção, Jucá foi questionado pelo EL PAÍS sobre a estratégia de mudança de nome e negou que ela tenha o intuito de fazer com que os eleitores não associem o partido aos problemas da legenda com a Justiça. "Nós não estamos mudando de nome. Estamos tirando apenas um 'P' que foi colocado pela ditadura e mantendo a mesma sigla da fundação. Portanto, não há nenhum tipo de ação para esconder qualquer coisa. Vamos responder a todas as ações [na Justiça] e cada um é responsável individualmente por aquilo que tenha feito de forma equivocada. O partido não tem nada a ver com isso e vai disputar as eleições de cabeça erguida", ressaltou ele, que acrescentou esperar que os eleitores associem o MDB àquilo que o presidente Michel Temer tem feito na área econômica. "Nós pegamos um país quebrado, em recessão, e estamos entregando um país recuperado, gerando empregos, com a inflação controlada e a taxa de juros mais baixa da história", destacou.

O que foi o MDB?

Movimento Democrático Brasileiro foi criado em março de 1966 para ser uma espécie de oposição branda à ditadura e, assim, dar alguma legitimidade ao Governo militar, explica a cientista política Maria Victória Benevides, em um artigo publicado em 1986 intitulado "Ai que saudade do MDB". O objetivo era criar a imagem de que havia espaço na sociedade para posições contraditórias ao regime. O movimento era uma reunião de partidos que foram extintos pelo Ato Institucional número 2 (AI-2), especialmente o PTB (Partido Trabalhista Brasileiro), que tinha entre seus nomes o presidente deposto João Goulart e Leonel Brizola. Também reunia movimentos socialistas e progressistas. "Era uma oposição tolerada contra a ditadura, mas que fazia frente à repressão militar", explica Benevides no artigo. Com o tempo, a legenda acabou se tornando um símbolo da resistência.
"Durante o Governo militar o bipartidarismo era obrigatório. E só era permitido um partido de oposição. Por isso, a sigla reuniu todas as tendências de oposição", explica Lamounier. "O MDB, então, cresceu rapidamente e veio a ser percebido pelos eleitores, principalmente os mais pobres, como o partido que estava ao lado dos pobres e contra o Governo. Não é que tivesse uma política que favorecesse os pobres, porque ele não podia fazer nada de concreto, mas a sigla ganhou essa conotação e, com isso, se tornou eleitoralmente muito forte", destaca ele.
Entre as bandeiras da legenda na época estavam, justamente, o combate à corrupção. Além da denúncia às violações de direitos humanos e o pedido de eleições diretas. "O MDB era mais do que um partido político. Era, mesmo, um movimento, uma bandeira de luta. E de oposição consentida se torna o partido da sociedade civil", destacou Benevides em seu artigo de 1986.
No final dos anos 1970, o MDB participou ativamente das mobilizações dos movimentos sociais e populares. Especialmente das grandes greves dos metalúrgicos do ABC, que lançaram Luiz Inácio Lula da Silva à liderança política que décadas depois o levou à Presidência. Para marcar um ponto específico de diferença entre o MDB de antes e o de agora, vale ressaltar que o PMDB acaba de encabeçar uma polêmica reforma trabalhista, denunciada pelos sindicatos como um retrocesso aos direitos dos trabalhadores.
A lei 6767 de 1979, que reformou os partidos políticos ainda na ditadura, acabou por extinguir o MDB, assim como seu opositor (e apoiador dos militares) Arena. Nenhum partido mais poderia ter um formado de organização e, com isso, foi necessário adotar o "P" inicial, de "partido". O PMDB foi, então, criado sob a presidência de Ulysses Guimarães, que defendia a convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte, com um programa feito por cientistas políticos como Fernando Henrique Cardoso (FHC). Aos poucos, foi perdendo seus apoios mais proeminentes, especialmente com a criação do PT (em 1980), que levou o apoio de grande parte dos movimentos sociais de esquerda. E, posteriormente, a do PSDB (em 1988), após um racha em que o PMDB acabou acusado de "clientelista e fisiologista" por FHC, então líder peemedebista no Senado.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Atuação que não deixam dúvidas por que deveremos votar em Felix Mendonça para Deputado Federal. NÚMERO  1234 . Félix Mendonça Júnior Félix Mendonça: Governo Ciro terá como foco o desenvolvimento e combate às desigualdades sociais O deputado Félix Mendonça Júnior (PDT-BA) vê com otimismo a pré-candidatura de Ciro Gomes à Presidência da República. A tendência, segundo ele, é de crescimento do ex-governador do Ceará. “Ciro é o nome mais preparado e, com certeza, a melhor opção entre todos os pré- candidatos. Com a campanha nas Leia mais Movimentos apoiam reivindicação de vaga na chapa de Rui Costa para o PDT na Bahia Neste final de semana, o cenário político baiano ganhou novos contornos após a declaração do presidente estadual do PDT, deputado federal Félix Mendonça Júnior, que reivindicou uma vaga para o partido na chapada majoritária do governador Rui Costa (PT) na eleição de 2018. Apesar de o parlamentar não ter citado Leia mais Câmara aprova, com...
Ex-presidente da Petrobras tem saldo de R$ 3 milhões em aplicações A informação foi encaminhada pelo Banco do Brasil ao juiz Sergio Moro N O ex-presidente da Petrobras Aldemir Bendine (Foto: Cristina Indio do Brasil/Agência Brasil) Em documento encaminhado ao juiz federal Sergio Moro no dia 31 de outubro, o Banco do Brasil informou que o ex-presidente da Petrobras e do BB Aldemir Bendine acumula mais de R$ 3 milhões em quatro títulos LCAs emitidos pela in...
Grécia e credores se aproximam de acordo em Atenas Banqueiros e pessoas próximas às negociações afirmam que acordo pode ser selado nos próximos dias Evangelos Venizelos, ministro das Finanças da Grécia (Louisa Gouliamaki/AFP) A Grécia e seus credores privados retomam as negociações de swap de dívida nesta sexta-feira, com sinais de que podem estar se aproximando do tão esperado acordo para impedir um caótico default (calote) de Atenas. O país corre contra o tempo para conseguir até segunda-feira um acordo que permita uma nova injeção de ajuda externa, antes que vençam 14,5 bilhões de euros em bônus no mês de março. Após um impasse nas negociações da semana passada por causa do cupom, ou pagamento de juros, que a Grécia precisa oferecer em seus novos bônus, os dois lados parecem estar agindo para superar suas diferenças. "A atmosfera estava boa, progresso foi feito e nós continuaremos amanhã à tarde", d...