Pular para o conteúdo principal

Melhor do que novela: as viradas da investigação sobre Trump

Tecnicamente, presidente nem está sob o crivo do promotor especial, mas o inquérito a cargo de ex-diretor do FBI virou um espetáculo para nervos fortes


Uma guinada por dia. Ou até mais de uma. O ritmo dos acontecimentos na era Trump não é para fracos. Nem de nervos nem de pronúncia. O protagonista de uma das guinadas mais imprevisíveis se chama Peter Strzok.
Talvez por isso Trump nem tenha escrito o nome dele no Twitter.  Só as notícias sobre a atuação suspeita de Strzok, que era vice-diretor de contrainteligência do FBI e acabou encostado no setor de Recursos Humanos.
O afastamento aconteceu em agosto, mas só agora apareceu o motivo: as mensagens de texto que trocou durante a campanha presidencial com a advogada Lisa Page, com quem estava tendo um caso, com críticas a Trump e manifestações de apoio a Hillary Clinton.
Complicação adicional: Strzok também foi o representante do FBI que entrevistou  Hillary no caso do servidor particular usado para trocar emails quando era secretária de Estado.
Sexo, política e mensagens presumivelmente apimentadas, em vários sentidos, formam uma complicação explosiva que queimou as asas de Strzok e agora entra no emaranhado de investigações e contra-investigações do Departamento de Justiça, de comissões do Congresso e da imprensa.
Desde quando mensagens pessoais podem ser  usados para avaliar conduta profissional? Desde que alguém trabalhe no FBI, esteja no alvo de uma inspeção determinada já no governo Trump e atue sob o comando de Robert Mueller.
Ex-diretor da polícia federal, Mueller foi encarregado pelo Departamento de Justiça de investigar se houve algum conluio de Trump, ou de pessoas sob suas ordens, com elementos do governo russo para prejudicar Hillary.
Strzok estava “emprestado” a ele. Conforme sua atuação seja vasculhada, pode teoricamente tornar imprestáveis alguns elementos da investigação.
Mueller nem teve tempo de aproveitar seu maior troféu até agora:  levar o general da reserva Michael Flynn, ex-conselheiro de Segurança Nacional, à humilhação de uma audiência perante um juiz em que reconheceu ter mentido ao FBI sobre contatos com o embaixador russo depois da eleição presidencial.
A delação premiada de Flynn levaria a Jared Kushner, o genro do presidente, e até ao próprio Trump. Esta uma notícia exclusiva de Brian Ross, veterano jornalista da rede de televisão ABC. Inverídica, como foi rapidamente reconhecido.
Ross foi suspenso por um mês e Trump sugeriu, com a sutileza habitual, que os prejudicados com a queda no mercado de ações provocada por seu “furo” desmentido – 350 pontos no Dow Jones – processem a ABC.
A vida está dura para muita gente, inclusive para quem tenta deslindar a teia de investigações e interesses relacionados ao caso.
O afastamento de Strzok já era considerado suspeito, tanto que a comissão de Inteligência da Câmara, presidida pelo deputado republicano Devin Nunes, havia pedido explicações ao FBI. Agora, Nunes está furioso: o motivo foi vazado para a imprensa antes de chegar à comissão.
Segundo a narrativa preferida pelos trumpistas, o FBI facilitou as coisas para membros do governo Obama e para Hillary, em especial quando o vice-diretor Andrew McCabe conduziu as investigações sobre a ex-secretária de Estado.
A mulher de McCabe tentou uma candidatura ao Senado pelo Partido Democrata e recebeu doações de um governador ligado aos Clinton. Mulheres de altos quadros do FBI devem não apenas não ter conflitos de interesses como evitar a aparência deles.
A advogada Lisa Page, a que trocava com o amante as mensagens de texto favoráveis à candidata democrata, trabalhou com McCabe no caso Hillary.
O vice-diretor de nome complicado, que tinha um caso com ela, pode estar envolvido no dossiê sobre Trump encomendado pelos democratas a um ex-agente secreto britânico. Aquele envolvendo russos na escuta e russas num hotel em Moscou.
Já pela narrativa dos antitrumpistas, vai tudo acabar em impeachment. E talvez nem seja necessário um longo processo: só os tuítes de Trump fazendo comentários sem noção sobre um processo criminal o levarão à autodestruição.
Pelo menos era esta a impressão antes da próxima guinada. E do próximo tuíte.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Procurador do DF envia à PGR suspeitas sobre Jair Bolsonaro por improbidade e peculato Representação se baseia na suspeita de ex-assessora do presidente era 'funcionária fantasma'. Procuradora-geral da República vai analisar se pede abertura de inquérito para apurar. Por Mariana Oliveira, TV Globo  — Brasília O presidente Jair Bolsonaro — Foto: Isac Nóbrega/PR O procurador da República do Distrito Federal Carlos Henrique Martins Lima enviou à Procuradoria Geral da República representações que apontam suspeita do crime de peculato (desvio de dinheiro público) e de improbidade administrativa em relação ao presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL). A representação se baseia na suspeita de que Nathália Queiroz, ex-assessora parlamentar de Bolsonaro entre 2007 e 2016, período em que o presidente era deputado federal, tinha registro de frequência integral no gabinete da Câmara dos Deputados  enquanto trabalhava em horário comerci
uspeitos de envolvimento no assassinato de Marielle Franco Há indícios de que alvos comandem Escritório do Crime, braço armado da organização, especializado em assassinatos por encomenda Chico Otavio, Vera Araújo; Arthur Leal; Gustavo Goulart; Rafael Soares e Pedro Zuazo 22/01/2019 - 07:25 / Atualizado em 22/01/2019 - 09:15 O major da PM Ronald Paulo Alves Pereira (de boné e camisa branca) é preso em sua casa Foto: Gabriel Paiva / Agência O Globo Bem vindo ao Player Audima. Clique TAB para navegar entre os botões, ou aperte CONTROL PONTO para dar PLAY. CONTROL PONTO E VÍRGULA ou BARRA para avançar. CONTROL VÍRGULA para retroceder. ALT PONTO E VÍRGULA ou BARRA para acelerar a velocidade de leitura. ALT VÍRGULA para desacelerar a velocidade de leitura. Play! Ouça este conteúdo 0:00 Audima Abrir menu de opções do player Audima. PUBLICIDADE RIO — O Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público do Rio de Janeiro (M
Nos 50 anos do seu programa, Silvio Santos perde a vergonha e as calças Publicidade DO RIO Para alguém conhecido, no início da carreira, como "o peru que fala", graças à vermelhidão causada pela timidez diante do auditório, Silvio Santos passou por uma notável transformação nos 50 anos à frente do programa que leva seu nome. Hoje, está totalmente sem vergonha. Mestre do 'stand-up', Silvio Santos ri de si mesmo atrás de ibope Só nos últimos meses, perdeu as calças no ar (e deixou a cena ser exibida), constrangeu convidados com comentários irônicos e maldosos e vem falando palavrões e piadas sexuais em seu programa. Está, como se diz na gíria, "soltinho" aos 81 anos. O baú do Silvio Ver em tamanho maior » Anterior Próxima Elias - 13.jun.65/Acervo UH/Folhapress Anterior Próxima Aniversário do "Programa Silvio Santos", no ginásio do Pacaembu, em São Paulo, em junho de 1965; na época, o programa ia ao ar p