Não havia controle de passageiros, diz dono de barco que naufragou no Pará em depoimento à polícia
Proprietário do navio Capitão Ribeiro diz que cerca de 50 pessoas embarcaram no navio. Vinte e um morreram e quatro estão desaparecidos.
O proprietário do barco que naufragou na última terça-feira (23) no rio Xingu, deixando 21 mortos e 4 desaparecidos, disse à polícia que não havia controle de passageiros no momento do embarque em Santarém, no oeste do Pará.
Segundo a Secretaria de Segurança Pública do estado (Segup), Alcimar Almeida da Silva afirmou em depoimento na quinta-feira (24) que havia cerca de 50 pessoas na embarcação contando com passageiros e tripulação. O governo do Pará, que chegou a estimar que 70 pessoas estariam a bordo, trabalha agora com o número de 52 pessoas: além dos mortos e desaparecidos, há 27 sobreviventes.
A embarcação não podia transportar passageiros, segundo Agência Estadual de Regulação e Controle de Serviços Públicos (Arcon-PA). O proprietário, entretanto, diz que há cerca de 3 anos faz as viagens com uma autorização da Marinha do Brasil para navegar até o município de Prainha.
A Marinha do Brasil informou que autorizações para concessões de linhas hidroviárias não são fornecidas pelas Capitanias. Toda vez que uma embarcação se desloca deve ser feito um Despacho de Saída comunicando à Marinha o percurso a ser realizado, sendo que quando o deslocamento ocorre com frequência, pode ser emitido um Despacho por Período, com prazo máximo de 90 dias.
No caso da embarcação “Capitão Ribeiro”, foi emitido um despacho com prazo até 20 de outubro de 2017 para o trajeto Santarém (PA) até Prainha (PA), que é de 170 km. Porém, a embarcação prosseguiu até Vitória Xingu, uma distância de 550 km a mais, em desacordo com a documentação emitida pela Capitania.
Outro fato irregular observado pela Marinha foi que na documentação entregue em Santarém pela embarcação “Capitão Ribeiro” constavam apenas dois passageiros.
O navio Capitão Ribeiro saiu do município de Santarém às 18h de segunda-feira (21), e afundou por volta de 22h de terça. Chovia quando o acidente aconteceu. Muitos sobreviventes disseram que a embarcação foi atingida por uma tromba d’água – fenômeno similar a um tornado.
"A tripulação disse ter visto, no horizonte, algo com o formato de um funil, acompanhado de muita chuva e vento forte, e que teria pego o barco pela popa e o afundado. De acordo com os relatos, a embarcação girou e afundou em seguida”, afirmou o delegado Elcio de Deus, de Porto de Moz.
As buscas por desaparecidos foram retomadas nesta sexta-feira (25) pela manhã. Helicópteros sobrevoam a área bem próximo à água para tentar avistar sobreviventes ou corpos. Há também no local lanchas com equipes do Corpo de Bombeiros, da Prefeitura de Porto de Moz, da Marinha e da Capitania dos Portos do Amapá, que é responsável pelo inquérito.
A embarcação, que estava quase toda submersa, já foi puxada para a superfície por meio de um sistema de mecânica utilizando cabos de aço atrelados a uma balsa da prefeitura ancorada ao lado da embarcação. Um grupo foi preso na quinta-feira (24) tentando saquear o navio.
Em Porto de Moz, uma missa homenageou mortos na tragédia.
'O barco começou a estalar'
"O barco começou a estalar e foi todo mundo para o fundo”, disse o DJ Bruno Costa, de 29 anos, que sobreviveu ao naufrágio do barco.
Segundo Bruno, uma lona colocada sobre o barco para proteger os passageiros de uma forte tempestade na noite de terça dificultou que mais pessoas conseguissem se salvar da embarcação.
“Vivi momentos terríveis na minha vida. A lona que é amarrada quando chove impediu muita gente de sair. Eu consegui resgatar uma criança de uns 2 anos, mas eu estava sem colete, a criança também”, disse Bruno Costa.
Ainda de acordo com Bruno, um homem que também tentava sobreviver impediu que ele concluísse o resgate da criança. “Ele subiu em cima de mim, tirou a criança e rasgou minha camisa. Eu consegui sair desse cara e ele foi para o fundo”.
Segundo o DJ, ao chegar a superfície ele conseguiu avistar outros sobreviventes, mas nem todos conseguiam se manter flutuando pela falta de coletes salva-vidas. “Foi aí que consegui me manter na superfície, mas muita gente infelizmente não conseguiu”, relata.
ACIDENTE NO RIO XINGU
Confusão de números
- Na quarta-feira pela manhã, a Secretaria de Segurança Pública informou que havia 70 pessoas no barco, das quais 25 sobreviveram.
- No fim da tarde, a pasta divulgou que, na verdade, havia 15 sobreviventes e que 10 mortos foram resgatados.
- Ainda na quarta, o Corpo de Bombeiros informou que o número de resgatados subiu para 19.
- Na manhã desta quinta-feira, a secretaria informou que, segundo o dono do barco, havia 48 pessoas na embarcação.
- A pasta, porém, informou que trabalhava com o número de 49 pessoas: 10 mortos, 23 sobreviventes e 16 desaparecidos.
- A divergência entre o que disse o piloto e os números da secretaria não foi esclarecida até o momento.
- Na manhã de quinta o governo informou que 9 corpos foram localizados, elevando o número de vítimas para 19.
- Ao final da manhã, mais dois corpos foram encontrados, totalizando 21 mortos e 23 sobreviventes. No início da noite, a Segup informou que foram localizados 27 sobreviventes e 4 pessoas continuam desaparecidas. O número de mortos continua em 21.
Tragédia na Bahia
Menos de 48 horas depois do naufrágio no Pará, uma nova tragédia ocorreu na Bahia. Uma embarcação que fazia a travessia Mar Grande - Salvador, na Baía de Todos-os-Santos, nesta quinta-feira (24), virou. O barco transportava 120 pessoas - 18 morreram e 89 foram resgatadas com vida e levadas a hospitais.
Em nota, o presidente Michel Temer afirmou que a estrutura do governo federal está à disposição “para ajudar nas buscas e no apoio aos sobreviventes”dos dois acidentes e que “as providências para apurar as causas dos acidentes e punir os responsáveis estão sendo tomadas, em todas as três esferas de governo”.
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