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Advogado de Cunha: PGR usou deputado para fechar delação de Funaro

Délio Lins e Silva Júnior, que negociava delação do ex-deputado, disse a ÉPOCA que seu cliente foi usado pelos procuradores para que eles forçassem a colaboração do doleiro Lúcio Funaro


O ex-deputado Eduardo Cunha (Foto:  ANDRESSA ANHOLETE/AFP)
O advogado Délio Lins e Silva Júnior, que negocia a delação do ex-deputado Eduardo Cunha junto à Procuradoria-Geral da República, disse a ÉPOCA que seu cliente decidiu encerrar de vez as tratativas com os procuradores. Para Délio, a negociação emperrou porque, entre outras razões, Cunha não quis confirmar a versão de Joesley Batista de que o empresário estava comprando o silêncio dele. 
"Não houve acordo também porque a delação de meu cliente prejudicaria outras feitas por Rodrigo Janot, como a da JBS, a de Fernando Baiano, a de Julio Camargo e as da Odebrecht", afirmou o advogado, referindo-se a colaboradores que incriminaram fortemente Cunha. Ele disse que o ex-deputado apontava "mentiras e omissões" nesses acordos. Cunha está preso em Curitiba e já foi condenado por corrupção.
Na quinta-feira da semana passada, dias após ter comunicado à defesa de Cunha que desistira das negociações, como revelara ÉPOCA, a PGR convocou Délio novamente para uma reunião. O convite aconteceu logo após o doleiro Lúcio Funaro, que concorria diretamente com Cunha por uma delação, ter estrilado com os procuradores. Ao endurecer a negociação nos momentos finais do acordo, em que já se discutia a pena a ser cumprida, Funaro chegou a dar uma declaração pública de que tinha "muito mais" a entregar sobre o presidente Michel Temer.
Na reunião na PGR, os procuradores disseram ter reavaliado a proposta. Sugeriram que Cunha fizesse uma entrevista com eles. A entrevista, nas negociações de delação, é um momento capital, no qual procuradores avaliam pessoalmente, com muito mais rigor, atenção e tempo, a verdadeira disposição do candidato a uma colaboração. Entrevistas, se bem-sucedidas, costumam preceder a assinatura de um acordo. Délio disse que consultaria seu cliente.
Os procuradores já haviam alertado Cunha e Funaro que somente fechariam delação com um dos dois. Em tese, ambos, por pertencer à mesma organização criminosa, a do PMDB da Câmara, poderiam testemunhar e oferecer provas sobre fatos semelhantes. Não haveria motivo claro, portanto, para fechar acordo com os dois. Janot descrevera a proposta final de delação de Cunha como um "biscoito de polvilho": faria apenas barulho.
No dia seguinte à reunião na PGR para retomar as negociações, alguns órgãos de imprensa noticiaram que partira de Cunha a iniciativa. O ex-deputado e seu advogado chegaram à conclusão de que estavam sendo peças num jogo cujo desfecho era previsível. "A negociação foi encerrada por Eduardo, que se negou a participar da entrevista ao perceber que estava sendo usado pela PGR para forçar o acordo de Funaro", disse Délio.
O advogado chegou a manter contato com os procuradores no começo desta semana, enquanto a PGR fechava o acordo com Funaro. Cunha, por meio de seu advogado, transmitiu à PGR que faria a entrevista somente se os procuradores aceitassem negociar termos muito favoráveis a ele. O ex-deputado sabia que dificilmente a PGR aceitaria esses termos – incluíam, além de imunidade à família dele, benefícios em processos de improbidade e multas menores. A PGR não topou, como previsto.
Segundo procuradores envolvidos desde o começo nas negociações com Cunha, o ex-deputado não "virou a chave" de colaborador. Não estava, na visão deles, contando tudo o que sabia sobre os crimes que praticara e presenciara. Como assegurou não ter mais nenhuma conta secreta no exterior, além da já descoberta pelo Ministério Público, os procuradores também suspeitavam que Cunha estava ocultando seu patrimônio.
Fontes de ambos os lados das tratativas reconhecem que a prolongada briga pública entre Janot e Cunha, nos primórdios da investigação, pesou decisivamente para que não se estabelecesse uma relação de confiança mínima nas negociações. Sem essa confiança, nenhuma negociação avança.
  
"A PGR de Janot perde a delação de uma pessoa que destrincharia a fundo como funciona o sistema político", disse Délio.

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