Operação contra Witzel acirra suspeitas de interferência de Bolsonaro na PF
BRASIL
Adversário político de Jair Bolsonaro, o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), foi alvo nesta terça-feira (26) de uma operação da Polícia Federal que acirrou os ânimos em torno das suspeitas de interferência do presidente da República na corporação.
Subordinada ao Ministério da Justiça, a PF fez buscas no Palácio das Laranjeiras, residência oficial do governador do Rio, apreendendo o telefone celular e o computador dele.
Houve busca de provas também em outros endereços, entre eles o Palácio da Guanabara, onde o chefe do Executivo fluminense despacha, na casa usada antes de ele se eleger e em um escritório da sua mulher, Helena Witzel.
A operação, batizada de Placebo, foi autorizada pelo ministro Benedito Gonçalves, do STJ (Superior Tribunal de Justiça) —tribunal responsável pelos casos envolvendo governadores. Ela mira um suposto esquema de desvios de recursos públicos destinados ao combate ao coronavírus.
Houve a quebra de sigilo telemática (de mensagens) de Witzel, mas não telefônico.
O inquérito no STJ foi aberto no último dia 13, com base em informações de autoridades de investigação do estado do Rio. Os mandados foram solicitados pela PGR (Procuradoria-Geral da República) na semana passada.
Witzel é desafeto de Bolsonaro, que recentemente mudou a cúpula da PF, gesto que motivou a saída do governo do então ministro da Justiça, Sergio Moro.
A ação desta terça-feira foi deflagrada um dia após ser nomeado o novo superintendente da corporação no Rio, Tácio Muzzi.
A representação da PF no estado está no centro de uma investigação autorizada pelo STF (Supremo Tribunal Federal) que apura se o presidente buscava interferir politicamente em investigações da corporação com o intuito de blindar familiares e amigos.
Witzel afirmou nesta terça que a interferência na PF está “devidamente oficializada” e disse que Bolsonaro iniciou perseguições políticas a quem considera inimigo.
“Continuarei lutando contra esse fascismo que está se instalando em nosso país, contra essa nova ditadura de perseguição. Até o último dos meus dias, não permitirei que, infelizmente, esse presidente que eu ajudei a eleger se torne mais um ditador na América Latina”, afirmou.
Outro dos principais alvos de Bolsonaro, o governador João Doria (PSDB-SP) afirmou que a operação contra Witzel indica uma escalada autoritária por parte do governo federal.
“Independentemente da análise, e toda investigação necessária deve ser feita onde há suspeita, a operação que foi anunciada antecipadamente por uma deputada aliada, e comemorada pelo presidente, insinua a escalada autoritária e isso é preocupante”, afirmou o tucano.
Ele se referiu ao fato de a deputada bolsonarista Carla Zambelli (PSL-SP) ter indicado que haveria ações contra governadores em entrevista na véspera, e porque Bolsonaro parabenizou a PF pela operação nesta manhã de terça (26).
Doria é, ao lado de Witzel, o mais vocal adversário político de Bolsonaro na condução da crise da pandemia do novo coronavírus. Ambos, que são presidenciáveis para 2022, foram xingados de “bosta” e “estrume” pelo mandatário máximo na reunião ministerial de 22 de abril.
“Parabéns à Polícia Federal, fiquei sabendo agora. Parabéns à Polícia Federal”, disse Bolsonaro pela manhã, na saída do Palácio da Alvorada.
No início da noite, usou um tom mais comedido, afirmando que não tinha conhecimento dos detalhes da operação e que não teve ligação com a ação.
“Essa operação de hoje, no Rio de Janeiro, não tem nada a ver comigo. A PF foi cumprir uma decisão do Superior Tribunal de Justiça. Foi o STJ que decidiu a operação. Não fui eu”, disse o presidente, afirmando que “não existe e nem nunca existiu nenhuma interferência” da parte dele.
Zambelli negou conhecimento prévio de operações. Em suas redes sociais, ela foi cobrada pela parlamentar Talíria Petrone (PSOL-RJ). “Se eu tivesse informações privilegiadas e relações promíscuas com a PF, a operação de hoje seria chamada de ‘Estrume’ e não ‘Placebo’. Está aí sua explicação, defensora de maconheiro”, respondeu a deputada.
Na noite de segunda-feira, em entrevista à Rádio Gaúcha, a deputada disse ter conhecimento de que investigações contra governadores estavam em andamento, por conta dos gastos para combater a Covid-19, e que em breve operações seriam lançadas.
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