Pular para o conteúdo principal

29 de maio de 2020 | 06:40

Estados manobram para não pagar dívida com bancos internacionais

BRASIL
Sem consenso com o governo sobre as regras para suspensão das dívidas com instituições internacionais, governadores planejam tentar no Congresso a derrubada de um veto do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) no pacote de socorro financeiro aos estados e municípios por causa da crise do novo coronavírus.
Os secretários de Fazenda estaduais querem parar de pagar essas parcelas a organismos multilaterais, como Banco Mundial e BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), durante a pandemia.
A fatura, pela lógica dos chefes regionais, ficaria com a União, que não poderia reduzir os repasses aos governadores e prefeitos como compensação.
O Ministério da Economia diz que a estratégia poderá colocar o Brasil num impasse internacional.
Sem o veto, a situação do Brasil, na avaliação de técnicos, poderia ser considerada calote, inviabilizando empréstimos com organizações multilaterais.
Bolsonaro sancionou o plano de ajuda financeira com quatro vetos.
Foi vetado o trecho que permitiria reajustes salariais a algumas categorias do funcionalismo, como policiais e Forças Armadas, mesmo diante das dificuldades financeiras.
O presidente chegou a apoiar a brecha para essas corporações, quando o projeto estava em discussão no Congresso. Após críticas, ele recuou.
Além do impasse com governadores e desgaste com servidores públicos, os vetos de Bolsonaro reduziram o plano de ajuda financeira de R$ 125,6 bilhões para aproximadamente R$ 120 bilhões.
O Congresso aprovou uma versão que também permitia a suspensão das dívidas previdenciárias com a União. Isso daria um alívio de R$ 5,6 bilhões aos caixas dos municípios.
Porém, o governo vetou essa trecho da lei, o que incomodou prefeitos.
Do total do pacote, R$ 60 bilhões são de repasses diretos aos caixas dos estados e municípios.
Para ter acesso ao dinheiro, governadores e prefeitos têm duas contrapartidas: congelamento salarial dos servidores e abrir mão de ações judiciais relacionadas à dívida com a União.
Governos regionais pedem dinheiro para enfrentar a Covid-19 e para manter a máquina pública funcionando, inclusive para pagar salários.
O Ministério da Economia ainda não deu prazo para pagamento da primeira parcela.
“A gente acredita, o mais provável é que essas transferências ocorram a partir da próxima semana”, disse o secretário do Tesouro, Mansueto Almeida.
Mas isso, segundo técnicos, poderá ocorrer apenas em 8 de junho. O atraso já não incomoda tanto gestores estaduais.
A disputa agora com o ministro Paulo Guedes (Economia) é sobre as regras para interromper temporariamente o pagamento das dívidas contratadas com organizações multilaterais. Essa medida deveria representar um alívio de R$ 10,7 bilhões.
Técnicos da Economia, secretários de Fazenda estaduais e o Banco Mundial travaram um embate sobre as consequências de adiar esses pagamentos.
O time de Guedes pediu o veto para não dar margem a um embate internacional.
O Banco Mundial alertou para, em caso de calote, o país poder perder acesso a fontes de assistência multilateral, como recursos do FMI (Fundo Monetário Internacional).
Para integrantes do governo, o veto ainda permite que governadores e prefeitos renegociem as parcelas com essas instituições e, em caso de suspensão da dívida, o Tesouro vai cobrir a fatura, mas também vai poder reduzir repasses aos governadores e prefeitos.
Os governos regionais, contudo, não querem perder recursos.
Os efeitos de eventual derrubada do veto gera um debate mesmo dentro do Ministério da Economia.
Alguns dizem acreditar que, se os estados foram vitoriosos na votação no Congresso, a União pagaria as parcelas para os bancos, mas não poderia compensar o custo, reduzindo transferências via FPE (fundo que destina dinheiro para os estados).
Outros técnicos concordam com a interpretação do Banco Mundial: se o veto for derrubado, as instituições internacionais não vão receber os pagamentos (nem da União) e o Brasil seria considerado caloteiro.
O presidente do Comsefaz (Comitê Nacional dos Secretários de Fazenda), Rafael Fonteles, disse, para os bancos multilaterais, não haverá nenhum impacto, pois as parcelas seriam honradas pelo Tesouro –a União foi avalista desses contratos.
A nova disputa em torno do plano de socorro, portanto, coloca do Palácio do Planalto entre um possível impasse internacional e a insatisfação de governadores.
O pacote de socorro financeiro estava à espera da sanção presidencial há quase 20 dias. O auxílio financeiro aos governo regionais começou a ser discutido no Congresso em abril.
Bolsonaro adiou o ato até o último dia do prazo, quarta-feira (27). Ele quis aproveitar esse período para agradar parte de sua base eleitoral: policiais.
O governo garantiu reajuste salarial a policiais civis, militares e bombeiros do Distrito Federal e conseguiu aprovar no Congresso uma MP que reestrutura a PF (Polícia Federal).
O plano de ajuda aos governadores e prefeitos impede o aumento de despesas com pessoal.
O congelamento salarial, após o veto de Bolsonaro, deve representar uma economia de R$ 130 bilhões à União, estados e municípios, de acordo com o time de Guedes. A versão do Congresso teria impacto de R$ 43 bilhões.
O quarto e último veto de Bolsonaro foi a um dispositivo que previa a suspensão de todos os concursos públicos federais, estaduais, distritais e municipais já homologados até o fim do estado de calamidade pública – 31 de dezembro de 2020.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Procurador do DF envia à PGR suspeitas sobre Jair Bolsonaro por improbidade e peculato Representação se baseia na suspeita de ex-assessora do presidente era 'funcionária fantasma'. Procuradora-geral da República vai analisar se pede abertura de inquérito para apurar. Por Mariana Oliveira, TV Globo  — Brasília O presidente Jair Bolsonaro — Foto: Isac Nóbrega/PR O procurador da República do Distrito Federal Carlos Henrique Martins Lima enviou à Procuradoria Geral da República representações que apontam suspeita do crime de peculato (desvio de dinheiro público) e de improbidade administrativa em relação ao presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL). A representação se baseia na suspeita de que Nathália Queiroz, ex-assessora parlamentar de Bolsonaro entre 2007 e 2016, período em que o presidente era deputado federal, tinha registro de frequência integral no gabinete da Câmara dos Deputados  enquanto trabalhava em horário comerci
Atuação que não deixam dúvidas por que deveremos votar em Felix Mendonça para Deputado Federal. NÚMERO  1234 . Félix Mendonça Júnior Félix Mendonça: Governo Ciro terá como foco o desenvolvimento e combate às desigualdades sociais O deputado Félix Mendonça Júnior (PDT-BA) vê com otimismo a pré-candidatura de Ciro Gomes à Presidência da República. A tendência, segundo ele, é de crescimento do ex-governador do Ceará. “Ciro é o nome mais preparado e, com certeza, a melhor opção entre todos os pré- candidatos. Com a campanha nas Leia mais Movimentos apoiam reivindicação de vaga na chapa de Rui Costa para o PDT na Bahia Neste final de semana, o cenário político baiano ganhou novos contornos após a declaração do presidente estadual do PDT, deputado federal Félix Mendonça Júnior, que reivindicou uma vaga para o partido na chapada majoritária do governador Rui Costa (PT) na eleição de 2018. Apesar de o parlamentar não ter citado Leia mais Câmara aprova, com par
Estudo ‘sem desqualificar religião’ é melhor caminho para combate à intolerância Hédio Silva defende cultura afro no STF / Foto: Jade Coelho / Bahia Notícias Uma atuação preventiva e não repressiva, através da informação e educação, é a chave para o combate ao racismo e intolerância religiosa, que só em 2019 já contabiliza 13 registros na Bahia. Essa é a avaliação do advogado das Culturas Afro-Brasileiras no Supremo Tribunal Federal (STF), Hédio Silva, e da promotora de Justiça e coordenadora do Grupo de Atuação Especial de Proteção dos Direitos Humanos e Combate à Discriminação (Gedhdis) do Ministério Público da Bahia (MP-BA), Lívia Vaz. Para Hédio o ódio religioso tem início com a desinformação e passa por um itinerário até chegar a violência, e o poder público tem muitas maneiras de contribuir no combate à intolerância religiosa. "Estímulos [para a violência] são criados socialmente. Da mesma forma que você cria esses estímulos você pode estimular