Pular para o conteúdo principal
/Estadão
Alessandro Molon

Até ministros de Bolsonaro reprovam fala de Heleno sobre chantagem do Congresso

BRASIL
Congressistas e até ministros do governo reprovaram a fala do general Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional) de que deputados e senadores têm chantageado o presidente Jair Bolsonaro ao tentar manter o controle do Orçamento federal.
A declaração é de terça-feira (18), e a reação foi imediata no Congresso nesta quarta (19).
Porém, não só deputados e senadores se incomodaram. O discurso de Heleno reverberou críticas pela Esplanada dos Ministérios.
Em um áudio captado durante uma live presidencial, o ministro foi flagrado dizendo que Bolsonaro não poderia aceitar que o Legislativo queira avançar sobre o dinheiro do Executivo.
“Não podemos aceitar esses caras chantageando a gente. Foda-se”, disse aos ministros Paulo Guedes (Economia) e general Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo).
A declaração afetou uma tentativa de acordo entre Palácio do Planalto e Congresso para impasses do chamado Orçamento impositivo. Governo e Congresso disputam mais de R$ 30 bilhões.
Deputados e senadores querem que o dinheiro seja distribuído conforme emendas parlamentares e de acordo com um calendário próprio.
O Orçamento prevê, de um total de R$, 1,5 trilhão, apenas R$ 80 bilhões para gastos livres. O restante está atrelado a despesas obrigatórias.
No Poder Executivo houve reclamações tanto no Planalto quanto no Ministério da Economia, que busca uma solução para o imbróglio.
Entre auxiliares de Bolsonaro, a declaração foi avaliada como desastrosa. Para eles, Heleno se intrometeu em um assunto que não é de sua competência.
Como chefe do GSI, cabe a ele cuidar da segurança institucional do presidente.
O governo tentava desde a semana passada chegar a um acordo com o Congresso para devolver ao Executivo ao menos R$ 11 bilhões do Orçamento para o controle de ministros.
No Congresso, a afirmação de Heleno gerou novo alerta entre deputados e senadores, que viram com maus olhos o fato de Bolsonaro ter militarizado as quatro pastas que ficam no Planalto.
Na terça, Walter Braga Netto assumiu a chefia da Casa Civil, tornando-se o quarto militar do Palácio do Planalto. Além dele e de Heleno, Bolsonaro tem como auxiliares diretos Ramos e o capitão da reserva da Polícia Militar Jorge Oliveira na Secretaria-Geral.
Na Câmara, deputados do PT estudam convocar Heleno para dar explicações sobre a acusação de chantagem.
A ideia é chamá-lo a falar na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) ou no plenário da Casa. Os petistas buscam apoio em outros partidos, incluindo os de centro, para organizar a ofensiva.
As reações de líderes e dirigentes partidários na Câmara chegaram a reunir ironias, além da avaliação de que tende a piorar a já difícil vida do governo no Congresso.
Enquanto assiste a mais uma disputa entre Legislativo e Executivo, Guedes espera ver pautas importantes aprovadas por deputados e senadores.
Entre elas estão três PECs (propostas de emenda à Constituição) sobre ajuste fiscal, uma reforma tributária em gestação e uma reforma administrativa, ainda no plano das ideias.
“Ele [Heleno] deveria olhar para os americanos não só para puxar saco. Lá os militares não movem uma vírgula sem aprovação do Congresso”, afirmou o deputado Paulo Pereira da Silva (Solidariedade-SP).
O líder do PSB na Câmara, deputado Alessandro Molon (PSB-RJ), lamentou as declarações do general. Para ele, o ministro deveria gastar tempo resolvendo problemas do Brasil.
“Eu gostaria de ouvir da cúpula do Planalto se eles já têm um plano para resolver o problema das 3,5 milhões de pessoas que estão na fila do Bolsa Família. Ou se eles já resolveram a fila do INSS que deixa milhões de brasileiros sem aposentadoria”, disse.
“O povo e nós aqui no Congresso ainda estamos esperando”, afirmou Molon.
Heleno chegar a defender, na declaração captada pelo áudio da live, que Bolsonaro deixasse claro à população que está sofrendo uma pressão e “não pode ficar acuado”.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Procurador do DF envia à PGR suspeitas sobre Jair Bolsonaro por improbidade e peculato Representação se baseia na suspeita de ex-assessora do presidente era 'funcionária fantasma'. Procuradora-geral da República vai analisar se pede abertura de inquérito para apurar. Por Mariana Oliveira, TV Globo  — Brasília O presidente Jair Bolsonaro — Foto: Isac Nóbrega/PR O procurador da República do Distrito Federal Carlos Henrique Martins Lima enviou à Procuradoria Geral da República representações que apontam suspeita do crime de peculato (desvio de dinheiro público) e de improbidade administrativa em relação ao presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL). A representação se baseia na suspeita de que Nathália Queiroz, ex-assessora parlamentar de Bolsonaro entre 2007 e 2016, período em que o presidente era deputado federal, tinha registro de frequência integral no gabinete da Câmara dos Deputados  enquanto trabalhava em horário comerci
Atuação que não deixam dúvidas por que deveremos votar em Felix Mendonça para Deputado Federal. NÚMERO  1234 . Félix Mendonça Júnior Félix Mendonça: Governo Ciro terá como foco o desenvolvimento e combate às desigualdades sociais O deputado Félix Mendonça Júnior (PDT-BA) vê com otimismo a pré-candidatura de Ciro Gomes à Presidência da República. A tendência, segundo ele, é de crescimento do ex-governador do Ceará. “Ciro é o nome mais preparado e, com certeza, a melhor opção entre todos os pré- candidatos. Com a campanha nas Leia mais Movimentos apoiam reivindicação de vaga na chapa de Rui Costa para o PDT na Bahia Neste final de semana, o cenário político baiano ganhou novos contornos após a declaração do presidente estadual do PDT, deputado federal Félix Mendonça Júnior, que reivindicou uma vaga para o partido na chapada majoritária do governador Rui Costa (PT) na eleição de 2018. Apesar de o parlamentar não ter citado Leia mais Câmara aprova, com par
Estudo ‘sem desqualificar religião’ é melhor caminho para combate à intolerância Hédio Silva defende cultura afro no STF / Foto: Jade Coelho / Bahia Notícias Uma atuação preventiva e não repressiva, através da informação e educação, é a chave para o combate ao racismo e intolerância religiosa, que só em 2019 já contabiliza 13 registros na Bahia. Essa é a avaliação do advogado das Culturas Afro-Brasileiras no Supremo Tribunal Federal (STF), Hédio Silva, e da promotora de Justiça e coordenadora do Grupo de Atuação Especial de Proteção dos Direitos Humanos e Combate à Discriminação (Gedhdis) do Ministério Público da Bahia (MP-BA), Lívia Vaz. Para Hédio o ódio religioso tem início com a desinformação e passa por um itinerário até chegar a violência, e o poder público tem muitas maneiras de contribuir no combate à intolerância religiosa. "Estímulos [para a violência] são criados socialmente. Da mesma forma que você cria esses estímulos você pode estimular