Mestres na arte do diversionismo em ação, por Raul Monteiro*
EXCLUSIVAS
Um ano de convivência com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e a sua prole política e tanto a imprensa quanto a oposição parece que ainda não aprenderam a lidar com a expertise de toda essa turma na arte do diversionismo. Toda vez que um problema afeta os Bolsonaros eles recorrem imediatamente a algum tipo de declaração ou ação polêmica, atraindo para si ou para suas iniciativas, na maioria das vezes, todo o foco das atenções, desviadas do que efetivamente importa, os incomoda verdadeiramente ou pode, o que é pior, complicá-los.
Do estratagema não escapam nem aqueles que, por alguma razão se vinculam a eles mesmo que temporariamente. O caso do ex-funcionário Hans River Rio do Nascimento, da empresa Yacows, especializada em disparos de mensagens no WhatsApp, é exemplar. Convocado para depor na CPMI que investiga a disseminação de fake news na campanha presidencial passada, quando se viu apertado pelas questões levantadas pelos parlamentares, às quais daria respostas vagas e mentirosas, partiu para o ataque contra a jornalista da Folha que produziu o mais profundo material sobre o assunto.
Disse que, no afã de conseguir informações para a reportagem, a repórter teria lhe proposto sexo. O insulto foi ampliado pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro, que estava na sessão de prontidão para defendê-lo e ao pai, e reforçou a agressão contra a profissional de imprensa nos mesmos termos. Dessa forma, a gravidade das informações apuradas pela CPMI, às voltas com denúncias de que os disparos em massa de mensagens do WhatsApp podem ter beneficiado a campanha de Jair Bolsonaro, acabaram sendo secundados pela cobertura em torno do lamentável ataque de ambos à jornalista.
O próprio Bolsonaro recorreria ao mesmo expediente para tergiversar sobre um assunto sobre o qual polemiza há pelo menos uma semana com o governador Rui Costa (PT): a morte do miliciano Adriano da Nóbrega, no município de Esplanada, no norte da Bahia, pela polícia, conforme enfatiza, de um governo do PT. Parceiro do lendário Fabrício Queiroz, o miliciano foragido e investigado é acusado de ligação com os Bolsonaros, a ponto de ter sido homenageado publicamente pelo pai e o filho senador Flávio, em mais de uma ocasião, além de ter tido empregadas no gabinete dele a mãe e a ex-mulher..
Utilizando-se do mesmo estilo diversionista, no entanto, o presidente acabou atribuindo ao governador baiano uma suposta tentativa de queima de arquivo, adjetivo com que se intitulava nos últimos dias o próprio miliciano. Até um pedido de perícia “independente” sobre o cadáver de Adriano o presidente fez, além de especular que ele poderia ter sido torturado antes de morrer e que mensagens poderiam ter sido enxertadas nos telefones, mais de um dezena, encontrados com ele. Ontem, o advogado do presidente e de seu filho senador disse à Folha que o miliciano era um cidadão inocente. Enquanto eles ganham as manchetes, fatos muito mais importantes passam despercebidos.
* Artigo do editor Raul Monteiro publicado na edição de hoje da Tribuna.
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