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Presidente Jair Bolsonaro23 de abril de 2020 | 08:12

Obsessão contra Maia leva Bolsonaro a buscar Centrão, por Raul Monteiro*

EXCLUSIVAS
Embora desapontando os incautos, aqueles que um dia realmente acreditaram na lenga-lenga de que ele estava sendo eleito para quebrar o sistema e romper o círculo vicioso pelo qual governos alimentavam os esquemas de corrupção de parlamentares na máquina estatal sob o guarda-chuva do chamado presidencialismo de coalizão, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) finalmente cedeu aos encantos da barganha com o Congresso. E o fez no pior momento, quando está enfraquecido e as ávidas legendas do Centrão vão, por certo, tentar lhe enfiar a faca o mais profundo que puderem.
O problema é que Bolsonaro não toma a iniciativa, depois dos inúmeros alertas que lhe fizeram do risco que corria por desconsiderar o Legislativo, porque pretenda realmente estabelecer uma relação saudável com o Parlamento brasileiro em torno de uma agenda de alto nível destinada a ajudar o Brasil a sair de uma crise que deve se aprofundar imensamente com a emergência da pandemia do coronavírus. Mesmo porque o Congresso que está ai, eleito junto com ele em 2018, deve ser, historicamente, o mais receptivo às propostas de um Executivo que o país já teve desde a redemocratização.
Depois de criminalizar a idéia da negociação, absolutamente natural e mesmo necessária no âmbito da política, incentivada pelo princípio segundo o qual ninguém é portador da verdade de per si e por isso a busca de composições deve sempre ser tentada, Bolsonaro parte para uma aproximação com os partidos porque tem a idéia fixa de derrubar o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), um dos principais freios de contenção ao comportamento de inspiração autoritária do presidente da República. Obviamente que não se trata de nenhum santo da política, assim como Bolsonaro está, igual e imensamente, longe de sê-lo.
Mas Maia tem sabido atuar de forma muito mais institucional do que o inquilino do Planalto e, reconheça-se, de maneira abertamente cooperativa com o governo, como o episódio de aprovação da reforma da Previdência mostrou no Congresso. Ficou praticamente sob a sua responsabilidade a tramitação da proposta, além do trabalho para que não fosse completamente desfigurada, diante do completo desinteresse do executivo em tocá-la e aprová-la sob o fajuto argumento de que não queria se misturar com a classe impura dos parlamentares, aquela da qual o presidente da República fez parte por três décadas, recorde-se, sempre no pior andar do Congresso.
E deve ser este o motivo principal da contrariedade do presidente. A independência demonstrada pelo parlamentar democrata em relação aos desejos mais primitivos do soberano cuja aposta no caos e no quanto pior melhor, haja visto neste episódio de enfrentamento de uma epidemia perigosa, tem se constituído numa verdadeira marca gerencial e política. Uma prova a mais de que o presidente da Câmara não representa nenhum obstáculo para o sucesso do governo, cujo boicote é exclusivamente praticado pelo presidente da República? Passado mais de um ano de gestão, até hoje não foram enviadas ao Congresso as propostas de reforma tributária e administrativa!
* Artigo do editor Raul Monteiro publicado na edição de hoje da Tribuna.

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