Trump piora herança maldita de Obama; Coreia do Norte não é Síria
Assad não pode fazer mal nenhum a não ser ao povo do próprio país, o que já é do balacobaco! O que dizer, no entanto, do feudo comandado por Kim Jong-un?
access_time 10 abr 2017, 05h14 - Atualizado em 10 abr 2017, 06h26
Que diabos, afinal de contas, os EUA pretendem fazer com a — ou “na” — Síria depois do bombardeio? Ninguém sabe. Nem eles. Corre o risco de, nessa área, o governo Donald Trump repetir, mas de forma piorada, a política estúpida de Barack Obama, que concorreu para elevar a insegurança mundial a padrões inéditos.
Vamos lá. O que estará querendo dizer um secretário de Estado ao afirmar que a ação punitiva contra a Síria serve de advertência para a Coreia do Norte? Foi o que fez Rex Tillerson em entrevista a um programa da ABC, quando questionado sobre o “feudo” comandado por Kim Jong-un: “A mensagem que qualquer nação pode tirar é ‘se você viola os acordos internacionais, se fracassa em cumprir compromissos, se vira uma ameaça para outros, em alguma hora uma resposta será dada’”.
Não sei se a fala seria boa caso ele ainda fosse CEO da Exxon Mobil Corporation, e alguém perguntasse se a empresa iria reagir a alguma concorrente que estivesse prejudicando seus negócios.
A resposta é estúpida. Bashar al Assad, o sanguinário tarado que governa a Síria legal, não pode fazer mal nenhum a não ser ao povo do próprio país, o que já é do balacobaco. E seus inimigos, armados e treinados pelos EUA, não são melhores do que ele. Seria a mesma coisa com a Coreia do Norte? Analistas sérios acreditam que o país dispõe de mísseis que podem atingir Seul e o Japão. A Síria é a Síria. A Coreia do Norte é a Coreia do Norte, e isso quer dizer que é outra coisa.
Tillerson não se entendeu com a embaixadora dos EUA na ONU, Nikki Haley, segundo quem os EUA não consideram possível que haja uma saída para a Síria com Assad, o que faz supor que haverá esforços para derrubá-lo. É o que queria e o que fez Obama. Sem sucesso. Aliás, o ex-presidente resolveu puxar o tapete de ditadores amigos (Hosni Mubaraki, no Egito), de ditadores domados (Muamar Kadafi, na Líbia) e de ditadores inócuos (o próprio Assad) para, em lugar, financiar o terror sob o pretexto de dar suporte a movimentos democratizantes e contrários à tirania.
Vimos bem no que deu.
Ademais, a gente poderia tentar esmiuçar o conteúdo da entrevista. O ataque com armas químicas a uma cidade síria, com efeito, viola leis internacionais. Mas e a ação punitiva dos EUA? Ampara-se em que lei? Sigamos. Trump mandou um porta-aviões e uma frota de destróieres para a Península da Coreia. Obviamente, trata-se de pressão contra a Coreia do Norte, que tem o apoio da China. O país assistiria a um eventual bombardeio com a chamada… “paciência chinesa”? Acho que não.
Rússia, Irã e o Hezbollah, que comada o sul do Líbano, anunciaram que vão reagir se os EUA voltarem a atacar a Síria. Que reação seria essa? Não dá para saber.
Trump deve estar achando que mísseis Tomahawk são brinquedinhos que servem ao marketing possoal.
Será que, agora, os EUA vão se comportar como meros bedéis do mundo? “Não façam coisas que nos desagradam ou que a gente acha errado, ou jogamos mísseis em vocês”… Isso se parece com uma política externa?
Não é aceitável esse padrão de debate quando se sabe que, na Síria, infelizmente, os EUA se tornaram aliados dos terroristas, a exemplo do que aconteceu na Líbia. Essa é uma herança maldita de Obama. Agora piorada.
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