O departamento que funcionava com esse nome e de forma organizada, desde 2006, com três executivos e duas secretárias, com escritórios na Odebrecht em São Paulo e Salvador, foi responsável por movimentar US$ 3,3 bilhões em propinas e caixa 2 entre 2006 e 2014. A equipe cuidava dos pagamentos de propinas e caixa 2, de dois modos: transferindo dinheiro em contas secretas em nome de empresas offshores, no exterior, ou por entregas de dinheiro vivo, em reais, no Brasil.
“Quando começou a explodir a Lava Jato a gente logo percebeu que a onde estaria o nosso ponto de exposição e poderia espalhar por todo mundo que tivesse feito uso, seja legítimo ou ilegítimo, era a questão das Operações Estruturas, o pessoal do Hilberto (Mascarenhas) e a equipe dele”, afirmou Marcelo Odebrecht, no termo de depoimento 46, da delação premiada fechado com a Procuradoria Geral da República (PGR).
A mudança aconteceu em outubro de 2014, um mês antes de ser deflagrada a primeira etapa ostensiva da Lava Jato contra empreiteiras do cartel, em 14 de novembro de 2014 – Operação Juízo Final. Marcelo disse que não era para serem foragidos. “Se houver uma ordem de prisão, vocês vão voltar.” Ele disse ter orientado só para que eles não trabalhassem nos Estados Unidos.
O delator afirmou que mandou que as contas fossem fechadas e as operações não fossem mais realizadas.
Chefe. O chefão do setor de propinas, Hilberto Mascarenhas da Silva Filho confirmou que o setor foi transferido por ordem de Marcelo e que foi ele e equipe que definiram a República Dominicana.
“Foi definido que a área sairia do País. Definido pelo presidente da empresa: ‘Eu não quero a área de Operações Estruturas operando no Brasil. Eu quero que ela vá para o exterior, Identifiquem o local e tragam a solução'”, teria dito Marcelo.
O delator disse que foi feito um trabalho e identificou que seria na República Dominicana.
“Iriamos operar na República Dominicana. Era um país que tinha um sistema de comunicação muito bom, não tinha problema de internet, funcionava bem. Tínhamos uma operação lá, que poderia nos dar apoio. Nos não iriamos trabalhar no escritório da Odebrecht lá, iriamos montar outro escritório.”
Os executivos chegaram a mudar do Brasil. “E tudo isso foi feito. Foi montado um escritório lá, com três salas, uma minha, uma do Luiz e uma do Fernando, uma pequena sala de reunião. Foi instalado a operação à partir de lá.”
Segundo ele, não houve a transferência das secretárias Maria Lucia Guimarães Tavares e Angela Palmeira, que “eram arrimo de família no Brasil”. “Pensamos até na substituição das pessoas, porque precisa fazer 100% da transferência para lá.” As duas secretárias foram presas em fevereiro de 2016, junto com o marqueteiro do PT João Santana, e acabaram fazendo acordo de delação premiada com a Lava Jato, à revelia da empresa.
As duas enterraram as chances do grupo de manter sua versão de que ela não estava envolvida em crimes e que a força-tarefa cometia abusos e irregularidades contra ela.
O delator explicou que Fernando, Luiz e ele passaram a morar em em Miami. “Trabalharíamos de segunda a sexta na República e passaríamos o fim de semana em Miami, onde nossas famílias estariam, principalmente dos que têm filhos pequenos estudando, como Fernando e Luiz Eduardo. Os dois foram, foram transferidos e contratados pela Odebrecht General Service de Miami.”
“Eu não fui. Tive mais dificuldade na época.” Apesar de não ter mudado, passou a trabalhar do Caribe e morar em hotel em Miami.
Decisão. “Foi uma decisão de Marcelo”, afirmou o chefe do setor de propinas. Questionado pelos procuradores, se ele sabia o motivo da mudança, ele respondeu: “Segurança”.
“Principalmente segurança empresarial. Ele relatava que tinha preocupação. Cansava de dizer que desde o início achava que deveria ser feita toda operação fora do Brasil.”
O delator disse que Marcelo “pressionou muito para todos irem, e rápido”. “Existia muita preocupação de Marcelo de não agradar a equipe. Eles estavam trabalhando na confiança, né amigo. O que passava de dinheiro na mão desse povo, se quisesse, pegar 1 milhão, 2 milhões e sumir no mundo, nunca mais ninguém achava.”
O delator contou que não guarda arquivos do setor em seu celular ou computadores, porque quando foi deflagrada a operação contra a Odebrecht, seu acesso foi bloqueado.
“Eu não tinha costume de guardar nada nessas ferramentas. Marcelo vivia enchendo o saco da gente para ter nada guardado no nosso, e quando ele foi preso, o dele, tinha tudo. Então eu não tinha. Não era meu costume”, afirmou, em seu Termo 26, sobre obstrução de Justiça/destruição de provas.
O delator disse que ficou chateado por não ter conseguido fazer uma cópia de seus arquivos pessoas, quando ele foi travado, e chegou a jogar fora seu computador, no mar, em Miami.
Todo sistema de registros contábeis do setor de propinas, o MyWebDay B, foi apreendido pelas autoridades da Suíça, onde estava o servidor. Esse material foi compartilhado com a força-tarefa da Lava Jato, no Brasil.
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