O pré-candidato Janot está feliz: PSDB parece mais culpado que PT
Paulo Maluf também não está na lista. Mas esse nem é o ponto. O fato de Bolsonaro não estar quer, sim, dizer alguma coisa
access_time 12 abr 2017, 10h12
Não fiz uma contabilidade na ponta do lápis, mas tudo indica que metade ou pouco mais das imputações dizem respeito a caixa dois de campanha. É bonito? Não é. Mais: a prática é punida pela legislação eleitoral. E daí? Quem se importa com isso?
Como evidenciar que Geraldo Alckmin não é Sérgio Cabral? Como deixar claro que Aécio Neves não é Luiz Inácio Lula da Silva? “Ah, só vai tentar aliviar para os tucanos?” Não! Como dar relevo ao0 fato de que Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara, não é Eduardo Cunha? Mais um pouco? Pois não! Será que Eunício Oliveira (PMDB-CE) é Renan Calheiros (PMDB-AL)?
Por enquanto, há pouca coisa a fazer, a não ser lamber as feridas.
Estamos diante de um troço patético. Segundo os critérios em voga, há menos petistas graúdos metidos na lambança do que tucanos. “Ah, mas lá estão Lula e Dilma…” Sim, presidiram a República. Mas olhem do outro lado da carca: José Serra, Geraldo Alckmin, Aécio Neves, Aloysio Nunes Ferreira e, ora, ora, até FHC! Adotemos um outro corte: estão na lista Rodrigo Maia (DEM-RJ) e Eunício Oliveira (PMDB-CE), presidentes, respectivamente, da Câmara e do Senado.
Bolsonaro não!Uma boa evidência dos dias que correm é um vídeo patético, tornado público pelo mais folclórico dos patetas: Jair Bolsonaro (PSC-RJ). Alguém se aproxima do deputado, como se o surpreendesse, e a voz pergunta algo como: “E aí, deputado, o senhor não está nessa lista de novo?” Ele engrola alguns anacolutos políticos sobre a sua própria pureza.
Bem, vou repetir a piada óbvia: Paulo Maluf também não está na lista. Mas esse nem é o ponto. O fato de Bolsonaro não estar quer, sim, dizer alguma coisa.
Desde logo, faça-se a pergunta óbvia: fosse tudo um mercadão, como muitos querem fazer crer, quem iria se interessar pela “compra” de Bolsonaro? Para repetir frase atribuída ao lendário Vicente Matheus, que foi presidente do Corinthians, ao negar que o clube iria se livrar de Sócrates, o craque do time, “Bolsonaro é invendável, inegociável e imprestável”.
O que quero dizer? Bem, estão na lista todos os nomes relevantes da vida pública brasileira. Os ausentes não evidenciam necessariamente a sua moralidade, mas a sua irrelevância.
Caixa dois e propinaEm tempos normais, a própria Procuradoria Geral da República faria uma primeira triagem. Em vez de encaminhar ao Supremo todos os nomes citados nas delações, faria uma seleção para:
– identificar quem recebeu propina pelo caixa um;
– identificar quem recebeu propina pelo caixa dois;
– identificar quem é citado por fazer caixa dois sem evidência de propina.
Em tempos igualmente normais, ainda que o Ministério Público não tivesse feito esse trabalho, o relator no Supremo — no caso, Edson Fachin — o faria.
Acontece que os tempos não são normais. Rodrigo Janot e o MP sempre estiveram no controle da narrativa e, sob o aplauso da direita xucra, tinham o objetivo de evidenciar a, vamos dizer, “podridão do sistema”. Eis aí: aos olhos do público, a missão está cumprida.
Inquérito e denúnciaE, no entanto, o que se tem até agora, que fique claro!, são apenas pedidos de abertura de inquérito. Vale dizer: Fachin está dizendo que se deve continuar com a investigação. E só aí a o Ministério Público vai, então, oferecer ou não denúncia. E só então o STF decidirá se a aceita ou não. E só então o político será réu, com a chance de ser absolvido a depender da imputação.
Querem ver?
Para o Ministério Público Federal, que segue leis próprias, caixa dois é sinônimo de propina. E fim de papo. Vamos lá. A menos que o político tenha se comprometido a oferecer contrapartida, como fazer tal afirmação? Se o MP não apresentar à Justiça a evidência de que se fez tráfico com a coisa pública, como condenar o réu?
LongeAcontece que estamos muito longe dessa fase. Vai demorar muito tempo para que se chegue ao julgamento. Até lá, todos os gatos são pardos. E só não é pardo o que gato não é, ainda que seja um rato, entenderam?
Desde sempre — e antecipei aqui, vamos combinar, com impressionante antecedência —, o objetivo era chegar a esse ponto.
Ah, eu sei que Lula e Dilma estão enroscados. Isso não tem a menor importância. A narrativa, como se diz hoje em dia, que começa a se estabelecer é outra: por que derrubaram o PT se está provado que são todos iguais?
Acontece que não está! Mas isso não ficará claro tão cedo.
Não tem importância. O fato é que o pré-candidato Rodrigo Janot — à Presidência ou ao governo de Minas — “limpou o terreno”.
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