Pular para o conteúdo principal

O partido de Trump: bilionário é a nova face dos republicanos

Mesmo que venha a perder a eleição para presidente, o movimento que Trump representa moldará a política americana pelos próximos anos

Em 1854, um grupo de abolicionistas se reuniu em Wisconsin para combater a expansão da escravatura. Eram os primórdios do Partido Republicano, que se definiria pela defesa da liberdade. Ao longo dos anos, a legenda sofreu metamorfoses que moldaram sua identidade. Já foi o partido dos presidentes Dwight Eisenhower, em cujo mandato foram aprovadas as primeiras leis de direitos civis, que paulatinamente acabaram com a segregação racial nos Estados Unidos, e Ronald Reagan, o campeão do livre-comércio e do fim da Guerra Fria.
Na semana passada, esse legado foi mandado às favas. O Partido Republicano tornou-se o partido de Donald Trump, o empresário do setor imobiliário e showman falastrão que venceu as primárias e foi aclamado, em convenção da legenda rea­lizada em Cleveland, no Estado de Ohio, como candidato da legenda às eleições presidenciais de novembro. Seu triunfo deveu-se à capacidade de capitalizar um crescente sentimento anti-imigrante, anti-­is­lâmico, antimercado e anti-establish­ment entre uma parcela significativa do eleitorado.
Não é um apoio irrisório. Trump enfrentou 56 primárias e caucus disputados entre dezessete concorrentes, e acabou sendo o pré-candidato mais votado da história do partido, com 14 milhões de votos. Oficializado candidato, já tem o apoio de 80% dos eleitores republicanos. Como em geral os candidatos do partido chegam às urnas com o apoio de 90%, alcançar esse porcentual nesta altura do jogo é um desempenho excelente. “Ele soube captar o desencanto com o governo, a estagnação econômica dos trabalhadores, os medos e as frustrações acerca da imigração e a rejeição ao politicamente correto”, diz o cientista político americano Kyle Kopko, da Universidade Elizabethtown. Seus apoiadores, na maioria trabalhadores brancos de classe média baixa, temem a transformação demográfica que tornou o país mais diverso. Hillary Clinton, a candidata democrata, está na frente nas pesquisas para a eleição de novembro. Na urna final, Trump pode morrer, mas o trumpismo pode nascer — e passar a dominar o conservadorismo americano pelos próximos anos. No discurso de consagração, Trump descreveu os Estados Unidos como um país à beira do abismo cuja única saída é confiar em seus poderes. “A administração falhou em educação. Falhou em emprego. Falhou em crimes. Fracassou em todos os níveis”, disse. “Eu estou com você, eu vou lutar por você e eu vou ganhar por você.”
A era trumpiana do Partido Republicano é ainda mais inevitável porque as lideranças conservadoras que rechaçam os valores abarcados pelo magnata tendem a sair da legenda ou perder voz. Os republicanos tradicionais ansiavam por um retorno grandioso à Casa Branca, mas não a bordo de uma estrela de reality show. O que mais incomoda essa parcela do partido é o desbragado populismo de direita do candidato. A consagração do outsider sem experiência política terá consequências irreversíveis para o partido. A adaptação à nova realidade já começou com mudanças no manual republicano. A plataforma aprovada pelo partido na semana passada foi considerada a mais radical da história e endossou algumas das propostas mais controversas do candidato, inclusive a tétrica construção de um muro na fronteira com o México. “Trump trouxe as vozes que haviam sido silenciadas nas fileiras conservadoras e decodificou posições existentes. Eliminou os eufemismos e usou linguagem explosiva”, diz o cientista polí­tico Mark Major, da Universidade Penn Sta­te. Ao mesmo tempo, ele desafiou bases da ideologia oficial do partido, como a diminuição do papel do Estado e a defesa do livre-comércio. Trump escancara sua fé no protecionismo. Prega o aumento dos impostos sobre produtos da China e do México e a renegociação do Tratado Norte-­Americano de Livre-Comércio (Nafta). “O partido ficou mais radical. Não é o mesmo de Abraham Lincoln, que usou o poder do Estado para libertar escravos. O Partido Republicano moderno não os libertaria, se eles existissem”, diz Major. Mais provável é que voltasse a escravizá-los se livres fossem.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Atuação que não deixam dúvidas por que deveremos votar em Felix Mendonça para Deputado Federal. NÚMERO  1234 . Félix Mendonça Júnior Félix Mendonça: Governo Ciro terá como foco o desenvolvimento e combate às desigualdades sociais O deputado Félix Mendonça Júnior (PDT-BA) vê com otimismo a pré-candidatura de Ciro Gomes à Presidência da República. A tendência, segundo ele, é de crescimento do ex-governador do Ceará. “Ciro é o nome mais preparado e, com certeza, a melhor opção entre todos os pré- candidatos. Com a campanha nas Leia mais Movimentos apoiam reivindicação de vaga na chapa de Rui Costa para o PDT na Bahia Neste final de semana, o cenário político baiano ganhou novos contornos após a declaração do presidente estadual do PDT, deputado federal Félix Mendonça Júnior, que reivindicou uma vaga para o partido na chapada majoritária do governador Rui Costa (PT) na eleição de 2018. Apesar de o parlamentar não ter citado Leia mais Câmara aprova, com...
Ex-presidente da Petrobras tem saldo de R$ 3 milhões em aplicações A informação foi encaminhada pelo Banco do Brasil ao juiz Sergio Moro N O ex-presidente da Petrobras Aldemir Bendine (Foto: Cristina Indio do Brasil/Agência Brasil) Em documento encaminhado ao juiz federal Sergio Moro no dia 31 de outubro, o Banco do Brasil informou que o ex-presidente da Petrobras e do BB Aldemir Bendine acumula mais de R$ 3 milhões em quatro títulos LCAs emitidos pela in...
Grécia e credores se aproximam de acordo em Atenas Banqueiros e pessoas próximas às negociações afirmam que acordo pode ser selado nos próximos dias Evangelos Venizelos, ministro das Finanças da Grécia (Louisa Gouliamaki/AFP) A Grécia e seus credores privados retomam as negociações de swap de dívida nesta sexta-feira, com sinais de que podem estar se aproximando do tão esperado acordo para impedir um caótico default (calote) de Atenas. O país corre contra o tempo para conseguir até segunda-feira um acordo que permita uma nova injeção de ajuda externa, antes que vençam 14,5 bilhões de euros em bônus no mês de março. Após um impasse nas negociações da semana passada por causa do cupom, ou pagamento de juros, que a Grécia precisa oferecer em seus novos bônus, os dois lados parecem estar agindo para superar suas diferenças. "A atmosfera estava boa, progresso foi feito e nós continuaremos amanhã à tarde", d...