Agência Brasil
O presidente Jair Bolsonaro
Enxurrada de perguntas ‘Vai trocar Moro por Fraga?’ fez Bolsonaro recuar
BRASIL
O presidente Jair Bolsonaro decidiu recuar de desmembrar o ministério comandado por Sérgio Moro depois de receber uma enxurrada de críticas no celular, enquanto estava a caminho da Índia, onde inicia hoje uma visita oficial. “Vai trocar Moro por Fraga?”, foi pergunta recorrente dos seus “amigos” no WhatsApp.
Alberto Fraga, ex-deputado federal, amigo e interlocutor do presidente questionou, em entrevista ao ‘Estado’, o trabalho de Moro à frente da segurança pública. Assim que Bolsonaro anunciou que estudaria tirar de Moro a gestão dessa área, o nome de Fraga apareceu em primeiro lugar na bolsa de apostas para assumir a eventual nova pasta.
Para um interlocutor direto do presidente ouvido pelo Estado, que prefere não se identificar, durante o voo, o presidente compreendeu a confusão que criou e decidiu retificar o que havia dito. Em outro gesto, Bolsonaro pediu ao presidente em exercício Hamilton Mourão que chamasse Moro para uma conversa no Palácio do Planalto para acalmar os ânimos. Moro esteve lá na manhã desta sexta-feira e saiu sem falar com a imprensa.
No entorno do Moro, a análise foi de que Bolsonaro quis dar uma “alfinetada” nele pela sua participação no programa Roda Vida, da TV Cultura, na última segunda-feira. Para assessores de Bolsonaro, o ministro não defendeu o presidente com a “ênfase esperada” durante o programa. O troco veio na sequência com a ameaça de tirar do ministro a área mais importante da sua pasta.
Inicialmente, a avaliação do grupo de Moro é que Bolsonaro admitiu dividir a pasta da Justiça apenas para agradar aos secretários de Estado, que defenderam essa agenda num encontro com ele na última quarta-feira. Mas as dúvidas de que ele poderia estar falando sério vieram quando o ministro da Secretaria-Geral, Jorge Oliveira, deu entrevista confirmando que o governo estudava a divisão do ministério, o que enfraqueceria Moro.
O que era considerada só uma “alfinetada” passou a ser percebido como uma medida protocolar quando anunciada pelo responsável pela análise jurídica do governo. Diante disso, Moro foi aconselhado a pedir demissão com base em duas premissas. 1) Se Bolsonaro o acha incapaz para gerir a segurança pública o que ele estava fazendo no governo? 2) Se a razão não for pela incapacidade, então Bolsonaro não estaria conseguindo conviver com a popularidade do seu ministro?
Quem convive com Bolsonaro diz que a estratégia dele é sempre a mesma: ele lança uma ideia, fica “incomunicável” por um tempo (neste caso, por causa da viagem para a Índia) para “ver para onde o vento vai”. Diante das repercussões negativas dentro e fora do governo, Bolsonaro vem a público e tenta “minimizar os danos”.
O que ainda desagrada aliados do presidente é que Bolsonaro recuou, assim que desembarcou na Índia, ao dizer que “em time que está ganhando não se mexe”, mas deixou no ar a frase de que por enquanto o desmembramento tem “chance zero”, mas que “na política, tudo muda”.
Caso leve adiante a ideia de recriar o Ministério da Segurança Pública, não há dúvidas no entorno de Moro de que ele deixará o governo. Essa é umas principais bandeiras do ministro, que fez seguidos anúncios de redução de índices de criminalidade no País. Por ora, o recuo de Bolsonaro apazigou a situação, embora Moro não tenha engolido o fato de não ter sido convidado para a reunião com os secretários estaduais de segurança.
Antes da reunião, às 7 horas da manhã, ainda no Palácio da Alvorada, residência oficial do presidente, ele recebeu o secretário de segurança do Distrito Federal, Anderson Torres, que pediu para que recebesse o colegiado. Diante da confirmação, os secretários se reuniram e discutiram uma agenda para levar ao presidente. Somente os representantes de São Paulo e Minas Gerais se posicionaram contra a recriação do ministério.
Torres, que é da Polícia Federal, é muito ligado ao ministro Jorge Oliveira, que tem assento no Planalto. Já teve seu nome ventilado para ir para o comando da Polícia Federal no ano passado, quando se falava na troca de saída de Maurício Valeixo, em mais um processo de tentativa de enfraquecimento de Moro.
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