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Rodrigo Janot: 'Não me reuni a portas fechadas'

Rodrigo Janot em sessão plenária do STF em junho de 2017© Agência Brasil Rodrigo Janot em sessão plenária do STF em junho de 2017 Mesmo morando fora do país, o ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot parece atento aos desdobramentos da política nacional. Em janeiro, ele se mudou para Bogotá, na Colômbia, onde ministra um curso na Universidade de Los Andes sobre técnicas de combate à corrupção, mas a distância não o impediu de estar no centro das notícias de maior repercussão no Brasil.
Neste mês, a “lista de Janot”, como ficou conhecida a primeira relação de políticos investigados pela Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), completou três anos. Em março de 2015, o ministro Teori Zavascki, hoje falecido, autorizou a pedido dele inquéritos para apurar a conduta de 47 pessoas de diferentes partidos. Com o avanço das investigações, o número chega a 78.
Em entrevista à Pública, Rodrigo Janot explica por que se declarou indignado com a reunião privada entre Temer e a presidente do STF, rejeitou comparações com a situação em que se encontrou com o advogado de Joesley e declarou sobre o pedido feito ao Congresso para investigar Temer: “A Câmara fez um juízo político, o meu foi um juízo técnico.”
Pergunta. No Twitter, o senhor se disse perplexo com a reunião privada ocorrida no último dia 10 entre a presidente do Supremo Tribunal Federal, Cármen Lúcia, e o presidente da República, Michel Temer, investigado pelo STF. O que esse tipo de situação representa?
Resposta. A perplexidade decorreu da informação de que o senhor presidente da República teria ido à residência da presidente do STF para tratar de segurança pública. A matéria, dada a sua extrema relevância, mereceria uma audiência no próprio STF, incluída na agenda oficial e divulgado o seu conteúdo, e não uma visita informal. Diante do quadro atual de graves problemas nesse setor, o assunto segurança pública merece ser tratado com profissionalismo e redobrada dedicação.
P. Alguns de seus críticos igualaram esse caso ao encontro que o senhor teve com Pierpaolo Bottini, advogado do empresário Joesley Batista, em um bar de Brasília. Como vê essa comparação?
R. Dois episódios completamente distintos. O meu foi um encontro casual, em local público, com várias pessoas presentes, e não tratamos de nenhum assunto relativo a trabalho. Não me reuni a portas fechadas.
P. Temer permanece no poder mesmo após sérias denúncias apresentadas pelo Ministério Público por corrupção passiva, envolvimento com organização criminosa e obstrução de Justiça. Como o senhor avalia a ação da Câmara dos Deputados em barrar o prosseguimento das investigações?
R. A Câmara dos Deputados fez um juízo político sobre a possibilidade de o presidente da República ser processado na vigência de seu mandato e entendeu que os processos deveriam esperar o fim do mandato para seu prosseguimento. A Câmara fez um juízo político, o meu foi um juízo técnico.
P. Estando em um ano eleitoral, de que forma acredita que o descrédito de muitos brasileiros com a política deve refletir nas urnas?
R. Acredito que o eleitor não votará em políticos envolvidos com atos de corrupção ou naqueles que deram ou dão suporte a pessoas envolvidas com corrupção. Acredito e espero que tenhamos uma grande renovação no cenário político. As ruas, no momento, estão caladas, mas o silêncio é eloquente.
P. Seu ex-assessor, Marcelo Miller, foi pego agindo de maneira controversa enquanto estava no MPF, ao favorecer a empresa JBS. Acha que isso pode ter comprometido a imagem da instituição?
R. Primeiro, é necessário precisar que esse ex-colega já não integrava o grupo da Lava Jato da PGR há mais de um ano. Quando os fatos foram surgindo, a instituição reagiu rapidamente. Cheguei a pedir, junto ao STF, a prisão dele. Recentemente a ex-advogada dos executivos dessa empresa concedeu longa entrevista a uma revista de grande circulação afirmando que esse ex-colega não teria participado ou orientado executivos quando ainda tinha vínculo com o MPF. O importante é que a instituição reagiu com presteza e não vejo como sua imagem poderia ter sido arranhada.
P. Como tem analisado a atuação de sua sucessora, Raquel Dodge, nesses primeiros meses à frente da PGR?
R.Tenho tido pouca informação sobre a atuação de minha sucessora no combate à corrupção. Talvez, como afirmei recentemente, por me encontrar morando em outro país. De todo modo, sempre penso que um pouco mais de transparência seria desejável.
P. Por último, qual sua opinião sobre o pagamento de auxílio-moradia para membros do Judiciário que possuem apartamento próprio na cidade em que trabalham?
R. A matéria está submetida ao STF, cujo julgamento está previsto para a próxima quinta-feira, dia 22 [o julgamento do tema foi adiado pelo ministro Luiz Fux]. O que posso afirmar é que jamais requeri ou recebi auxílio-moradia.

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