Neste mês, a “lista de Janot”, como ficou conhecida a primeira relação de políticos investigados pela Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), completou três anos. Em março de 2015, o ministro Teori Zavascki, hoje falecido, autorizou a pedido dele inquéritos para apurar a conduta de 47 pessoas de diferentes partidos. Com o avanço das investigações, o número chega a 78.
Em entrevista à Pública, Rodrigo Janot explica por que se declarou indignado com a reunião privada entre Temer e a presidente do STF, rejeitou comparações com a situação em que se encontrou com o advogado de Joesley e declarou sobre o pedido feito ao Congresso para investigar Temer: “A Câmara fez um juízo político, o meu foi um juízo técnico.”
Pergunta. No Twitter, o senhor se disse perplexo com a reunião privada ocorrida no último dia 10 entre a presidente do Supremo Tribunal Federal, Cármen Lúcia, e o presidente da República, Michel Temer, investigado pelo STF. O que esse tipo de situação representa?
Resposta. A perplexidade decorreu da informação de que o senhor presidente da República teria ido à residência da presidente do STF para tratar de segurança pública. A matéria, dada a sua extrema relevância, mereceria uma audiência no próprio STF, incluída na agenda oficial e divulgado o seu conteúdo, e não uma visita informal. Diante do quadro atual de graves problemas nesse setor, o assunto segurança pública merece ser tratado com profissionalismo e redobrada dedicação.
P. Alguns de seus críticos igualaram esse caso ao encontro que o senhor teve com Pierpaolo Bottini, advogado do empresário Joesley Batista, em um bar de Brasília. Como vê essa comparação?
R. Dois episódios completamente distintos. O meu foi um encontro casual, em local público, com várias pessoas presentes, e não tratamos de nenhum assunto relativo a trabalho. Não me reuni a portas fechadas.
P. Temer permanece no poder mesmo após sérias denúncias apresentadas pelo Ministério Público por corrupção passiva, envolvimento com organização criminosa e obstrução de Justiça. Como o senhor avalia a ação da Câmara dos Deputados em barrar o prosseguimento das investigações?
R. A Câmara dos Deputados fez um juízo político sobre a possibilidade de o presidente da República ser processado na vigência de seu mandato e entendeu que os processos deveriam esperar o fim do mandato para seu prosseguimento. A Câmara fez um juízo político, o meu foi um juízo técnico.
P. Estando em um ano eleitoral, de que forma acredita que o descrédito de muitos brasileiros com a política deve refletir nas urnas?
R. Acredito que o eleitor não votará em políticos envolvidos com atos de corrupção ou naqueles que deram ou dão suporte a pessoas envolvidas com corrupção. Acredito e espero que tenhamos uma grande renovação no cenário político. As ruas, no momento, estão caladas, mas o silêncio é eloquente.
P. Seu ex-assessor, Marcelo Miller, foi pego agindo de maneira controversa enquanto estava no MPF, ao favorecer a empresa JBS. Acha que isso pode ter comprometido a imagem da instituição?
R. Primeiro, é necessário precisar que esse ex-colega já não integrava o grupo da Lava Jato da PGR há mais de um ano. Quando os fatos foram surgindo, a instituição reagiu rapidamente. Cheguei a pedir, junto ao STF, a prisão dele. Recentemente a ex-advogada dos executivos dessa empresa concedeu longa entrevista a uma revista de grande circulação afirmando que esse ex-colega não teria participado ou orientado executivos quando ainda tinha vínculo com o MPF. O importante é que a instituição reagiu com presteza e não vejo como sua imagem poderia ter sido arranhada.
P. Como tem analisado a atuação de sua sucessora, Raquel Dodge, nesses primeiros meses à frente da PGR?
R.Tenho tido pouca informação sobre a atuação de minha sucessora no combate à corrupção. Talvez, como afirmei recentemente, por me encontrar morando em outro país. De todo modo, sempre penso que um pouco mais de transparência seria desejável.
P. Por último, qual sua opinião sobre o pagamento de auxílio-moradia para membros do Judiciário que possuem apartamento próprio na cidade em que trabalham?
R. A matéria está submetida ao STF, cujo julgamento está previsto para a próxima quinta-feira, dia 22 [o julgamento do tema foi adiado pelo ministro Luiz Fux]. O que posso afirmar é que jamais requeri ou recebi auxílio-moradia.
Comentários
Postar um comentário