Pular para o conteúdo principal
Sem tragédias de MG, Vale já tem ações ambientais de R$ 8 bilhões
Foto: Divulgação
Dona da barragem que se rompeu em Brumadinho (MG) e deixou ao menos 65 mortos, a Vale está envolvida em processos ambientais que podem resultar em condenações de R$ 7,93 bilhões, sem contar a tragédia de Mariana, em 2015, e a atual.

Apesar disso, a empresa prevê em seu caixa somente R$ 13 milhões para custear perdas nessas ações no curto prazo -0,16% do total. Os recursos estão na rubrica "provisões judiciais" do mais recente balanço financeiro da companhia, publicado em setembro de 2018. O valor inclui processos judiciais e administrativos que ainda estão em litígio nos quais a mineradora pode ganhar ou perder.

O balanço diz que as demandas de Mariana não são consideradas na conta porque não é possível fazer uma estimativa confiável de quanto a companhia pode perder financeiramente nesses processos. A Vale é dona de metade da Samarco, proprietária da barragem de Fundão, que se rompeu em Mariana. A outra metade pertence à BHP Billiton.

A discrepância entre o valor total das ações e o que a Vale reservou para pagá-las reflete a dificuldade de efetivar o pagamento por danos ambientais, seja em processos judiciais ou administrativos.

A questão ganha relevância no momento em que a empresa é alvo de diversas decisões judiciais para bloqueio de contas em razão da tragédia de Brumadinho. Desde o desastre, R$ 11,8 bilhões foram bloqueados da Vale, sendo R$ 5 bilhões para compensação de danos ambientais.

A disparidade entre o que é cobrado e o que é pago no setor fica evidente ao se analisar as cobranças feitas após a tragédia de Mariana. Só em multas aplicadas por órgãos ambientais pelo desastre, a Samarco deve R$ 610 milhões. Desde novembro de 2015, a empresa foi multada 56 vezes pelo Ibama e pela Semad (Secretaria de Meio Ambiente de MG) e pagou apenas parte de uma única multa -5,6% do valor total devido.

Do Ibama, foram 25 autos de infração, que somam R$ 346 milhões. O instituto notificou a empresa 73 vezes e a Samarco recorreu de todas essas multas. Segundo o Ibama, a mineradora busca "afastar sua responsabilidade pelo desastre" e medidas legais estão sendo tomadas para cobrar a empresa.

A Semad, do governo mineiro, aplicou outras 31 sanções, que somavam R$ 370 milhões. Algumas foram canceladas na Justiça ou tiveram seus valores alterados. Segundo último balanço, as multas restantes somavam R$ 306 milhões.

Só foram pagos R$ 41 milhões desse valor, segundo o governo, parte da primeira multa, de R$ 112,7 milhões, que foi parcelada em 60 vezes -17 parcelas foram pagas.

Além das multas por órgãos ambientais, a Samarco foi ainda alvo de uma série de processos na Justiça. Num deles, logo após o rompimento da barragem, o governo federal e os de Minas e Espírito Santo ajuizaram uma ação civil pública contra a empresa, a Vale e a BHP, de R$ 20,2 bilhões.

Em maio de 2016, o Ministério Público Federal ajuizou uma ação em que pedia pagamento de dano moral coletivo na ordem dos R$ 155 bilhões.

Em junho de 2018, a Samarco, suas controladoras, a Procuradoria, as Promotorias de Minas e do Espírito Santo, as defensorias públicas e advocacias públicas da União e dos dois estados estados fecharam um TAC (termo de ajustamento de conduta) extinguindo a primeira ação, de R$ 20,2 bilhões, e suspendendo a segunda, de R$ 155 bilhões.

A Samarco e suas controladoras também enfrentam processos na Inglaterra e nos Estados Unidos, sob acusação de que a empresa teria feito declarações falsas ou que deixou de divulgar o risco real da barragem de Fundão. Reportagem do jornal Estado de Minas de novembro mostrou que a Renova, fundação criada para reparar os danos de Mariana, condicionava a liberação da ajuda à desistência de processos judiciais.

Nenhum executivo da Samarco ou da Vale, nem da VogBR (empresa responsável por atestar a estabilidade da barragem que ruiu em Mariana) foi preso ou responsabilizado criminalmente. Em 2016, 22 pessoas se tornaram rés. Em 2018, começaram as audiências do caso, mas a ação foi suspensa e não há prazo para ser retomada.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Procurador do DF envia à PGR suspeitas sobre Jair Bolsonaro por improbidade e peculato Representação se baseia na suspeita de ex-assessora do presidente era 'funcionária fantasma'. Procuradora-geral da República vai analisar se pede abertura de inquérito para apurar. Por Mariana Oliveira, TV Globo  — Brasília O presidente Jair Bolsonaro — Foto: Isac Nóbrega/PR O procurador da República do Distrito Federal Carlos Henrique Martins Lima enviou à Procuradoria Geral da República representações que apontam suspeita do crime de peculato (desvio de dinheiro público) e de improbidade administrativa em relação ao presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL). A representação se baseia na suspeita de que Nathália Queiroz, ex-assessora parlamentar de Bolsonaro entre 2007 e 2016, período em que o presidente era deputado federal, tinha registro de frequência integral no gabinete da Câmara dos Deputados  enquanto trabalhava em horário comerci
Atuação que não deixam dúvidas por que deveremos votar em Felix Mendonça para Deputado Federal. NÚMERO  1234 . Félix Mendonça Júnior Félix Mendonça: Governo Ciro terá como foco o desenvolvimento e combate às desigualdades sociais O deputado Félix Mendonça Júnior (PDT-BA) vê com otimismo a pré-candidatura de Ciro Gomes à Presidência da República. A tendência, segundo ele, é de crescimento do ex-governador do Ceará. “Ciro é o nome mais preparado e, com certeza, a melhor opção entre todos os pré- candidatos. Com a campanha nas Leia mais Movimentos apoiam reivindicação de vaga na chapa de Rui Costa para o PDT na Bahia Neste final de semana, o cenário político baiano ganhou novos contornos após a declaração do presidente estadual do PDT, deputado federal Félix Mendonça Júnior, que reivindicou uma vaga para o partido na chapada majoritária do governador Rui Costa (PT) na eleição de 2018. Apesar de o parlamentar não ter citado Leia mais Câmara aprova, com par
Estudo ‘sem desqualificar religião’ é melhor caminho para combate à intolerância Hédio Silva defende cultura afro no STF / Foto: Jade Coelho / Bahia Notícias Uma atuação preventiva e não repressiva, através da informação e educação, é a chave para o combate ao racismo e intolerância religiosa, que só em 2019 já contabiliza 13 registros na Bahia. Essa é a avaliação do advogado das Culturas Afro-Brasileiras no Supremo Tribunal Federal (STF), Hédio Silva, e da promotora de Justiça e coordenadora do Grupo de Atuação Especial de Proteção dos Direitos Humanos e Combate à Discriminação (Gedhdis) do Ministério Público da Bahia (MP-BA), Lívia Vaz. Para Hédio o ódio religioso tem início com a desinformação e passa por um itinerário até chegar a violência, e o poder público tem muitas maneiras de contribuir no combate à intolerância religiosa. "Estímulos [para a violência] são criados socialmente. Da mesma forma que você cria esses estímulos você pode estimular