Pular para o conteúdo principal

Planalto teme reação de Wassef e 'pisa em ovos' com advogado visto como potencial 'homem-bomba'

Auxiliares e família Bolsonaro temem uma eventual reação destemperada do advogado diante de um rompimento brusco
O advogado Frederick Wassef embarca no aeroporto de Brasília para o Rio de Janeiro Foto: Pablo Jacob/Agência O Globo/18-06-2020
O advogado Frederick Wassef embarca no aeroporto de Brasília para o Rio de Janeiro Foto: Pablo Jacob/Agência O Globo/18-06-2020
BRASÍLIA - Desde que Fabrício Queiroz foi preso em uma casa que pertence ao advogado Frederick Wassef, na última quinta-feira, o presidente Jair Bolsonaro e seu entorno têm "pisado em ovos" para não melindrar o agora ex-defensor do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ). No Palácio do Planalto, Wassef é tratado como um "homem-bomba", que exige toda a cautela.
O presidente e sua família temem uma eventual reação destemperada do advogado diante de um rompimento brusco. A cúpula do Planalto mantém no radar a possibilidade da prisão de Wassef caso sejam identificados indícios de crime na sua relação com Queiroz, ex-policial militar do Rio que atuou como assessor parlamentar de Flávio na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) e é amigo de longa data do presidente. Nos bastidores, outro diagnóstico é que Bolsonaro e Flávio erraram por não terem escolhido um "medalhão" desde o início do caso.
Na noite de domingo, Wassef informou, em entrevista ao canal CNN Brasil, que deixaria a defesa de Flávio no processo em que o parlamentar é investigado por movimentações financeiras suspeitas. Ele disse não ter feito nada de errado, mas que deixaria a causa porque, segundo ele, a mídia tem se aproveitado da situação para atacar o senador e o pai.
— Assumo total responsabilidade e estou saindo do caso, substabelecendo (o processo) para outro colega. Ficarei fora do caso para que não me usem —  declarou o advogado, que foi substituído pelo criminalista Rodrigo Roca.
Flávio foi imediatamente ao Twitter declarar que "a lealdade e a competência do advogado Frederick Wassef são ímpares e insubstituíveis". Contudo, "por decisão dele e contra a minha vontade, acreditando que está sendo usado para prejudicar a mim e ao presidente Bolsonaro, deixa a causa mesmo ciente de que nada fez de errado", escreveu. O senador e o próprio Wassef diziam, nos últimos meses, não terem conhecimento de onde estava Fabrício Queiroz
O afago ocorreu após um episódio que irritou bastante o advogado, a divulgação de uma nota da advogada Karina Kufa afirmando que ele não é advogado do presidente, como o próprio Bolsonaro já declarou publicamente e como Wassef costumava se apresentar. Na entrevista à CNN, ele classificou como a atitude de Karina como antiética".
Nesta terça, a coluna de Bela Megale, do GLOBO, revelou que Wassef vem pressionando a família Bolsonaro a demiti-la. Ela é o principal nome da defesa do presidente nas causas do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que pedem a cassação de sua chapa, e também atua em casos do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP).
Na segunda-feira, por exemplo, o Palácio do Planalto se recusou a responder um questionamento do GLOBO sobre se Wassef atua ou já atuou como advogado do presidente. "O Planalto não comentará o assunto", respondeu a Secretaria de Comunicação (Secom) no fim da tarde, três dias após a reportagem solicitar a informação. Wassef também foi procurado, por ligação e mensagem, mas não respondeu.

Caso Queiroz

Até o momento, Bolsonaro só se manifestou uma vez em público sobre a prisão de Queiroz na casa de Wassef, em uma transmissão ao vivo pelo Facebook na noite de quinta, dia da prisão.
— Não sou advogado do Queiroz e não estou envolvido nesse processo, mas o Queiroz não estava foragido e não havia nenhum mandado de prisão contra ele. E foi feita uma prisão espetaculosa. Já deve estar no Rio de Janeiro, deve estar sendo assistido por seu advogado, e que a Justiça siga o seu caminho. Mas parecia que estavam prendendo o maior bandido da face da Terra — afirmou o presidente.
— Tranquilamente, se tivessem pedido ao advogado, creio eu, o comparecimento dele a qualquer local, ele teria comparecido. E por que estava naquela região de São Paulo? Porque é perto do hospital de onde faz tratamento de câncer. Então esse é o quadro. Da minha parte, está encerrado aí o caso Queiroz — acrescentou.
Na manhã desta terça-feira, o presidente abriu sua agenda durante 30 minutos para o advogado criminalista Antônio Pitombo, que o representa na Justiça no caso da facada que sofreu durante ato de campanha em 2018, em Juiz de Fora (MG), e foi prestar contas do andamento do processo. Desde o ano passado, Wassef atuava como uma espécie de porta-voz de Bolsonaro em entrevistas sobre o caso Adélio Bispo.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Procurador do DF envia à PGR suspeitas sobre Jair Bolsonaro por improbidade e peculato Representação se baseia na suspeita de ex-assessora do presidente era 'funcionária fantasma'. Procuradora-geral da República vai analisar se pede abertura de inquérito para apurar. Por Mariana Oliveira, TV Globo  — Brasília O presidente Jair Bolsonaro — Foto: Isac Nóbrega/PR O procurador da República do Distrito Federal Carlos Henrique Martins Lima enviou à Procuradoria Geral da República representações que apontam suspeita do crime de peculato (desvio de dinheiro público) e de improbidade administrativa em relação ao presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL). A representação se baseia na suspeita de que Nathália Queiroz, ex-assessora parlamentar de Bolsonaro entre 2007 e 2016, período em que o presidente era deputado federal, tinha registro de frequência integral no gabinete da Câmara dos Deputados  enquanto trabalhava em horário comerci
Atuação que não deixam dúvidas por que deveremos votar em Felix Mendonça para Deputado Federal. NÚMERO  1234 . Félix Mendonça Júnior Félix Mendonça: Governo Ciro terá como foco o desenvolvimento e combate às desigualdades sociais O deputado Félix Mendonça Júnior (PDT-BA) vê com otimismo a pré-candidatura de Ciro Gomes à Presidência da República. A tendência, segundo ele, é de crescimento do ex-governador do Ceará. “Ciro é o nome mais preparado e, com certeza, a melhor opção entre todos os pré- candidatos. Com a campanha nas Leia mais Movimentos apoiam reivindicação de vaga na chapa de Rui Costa para o PDT na Bahia Neste final de semana, o cenário político baiano ganhou novos contornos após a declaração do presidente estadual do PDT, deputado federal Félix Mendonça Júnior, que reivindicou uma vaga para o partido na chapada majoritária do governador Rui Costa (PT) na eleição de 2018. Apesar de o parlamentar não ter citado Leia mais Câmara aprova, com par
Estudo ‘sem desqualificar religião’ é melhor caminho para combate à intolerância Hédio Silva defende cultura afro no STF / Foto: Jade Coelho / Bahia Notícias Uma atuação preventiva e não repressiva, através da informação e educação, é a chave para o combate ao racismo e intolerância religiosa, que só em 2019 já contabiliza 13 registros na Bahia. Essa é a avaliação do advogado das Culturas Afro-Brasileiras no Supremo Tribunal Federal (STF), Hédio Silva, e da promotora de Justiça e coordenadora do Grupo de Atuação Especial de Proteção dos Direitos Humanos e Combate à Discriminação (Gedhdis) do Ministério Público da Bahia (MP-BA), Lívia Vaz. Para Hédio o ódio religioso tem início com a desinformação e passa por um itinerário até chegar a violência, e o poder público tem muitas maneiras de contribuir no combate à intolerância religiosa. "Estímulos [para a violência] são criados socialmente. Da mesma forma que você cria esses estímulos você pode estimular