Assembleia precisa tomar providências contra “invasor”, por Raul Monteiro*
EXCLUSIVAS
Não há dúvida de que todos os recursos investidos para equipar Estados, municípios e suas respectivas unidades de saúde para enfrentar a pandemia do coronavírus precisam ser tão fiscalizados quanto quaisquer outros. Contrariamente ao que pensavam agatunados acostumados a se servir do poder público para construir fortunas pessoais, que viram no momento uma oportunidade ímpar para fazer negócios ilícitos, não seria o caráter emergencial de compras e aquisições para atender a vítimas de uma doença cujo enfrentamento é um desafio para a humanidade que lhes deixaria a salvo de fiscalização.
Felizmente, o resultado está aí. Vários Estados do país registram operações da Polícia Federal destinadas a investigar desvios milionários que os contumazes ladrões do erário acreditavam que passariam desapercebidos pela urgência de salvar vidas. Um governador está em processo de impeachment e outros são obrigados a se explicar, muitas vezes sem argumentos convincentes, sobre o que aconteceu sob suas barbas relativamente à compra de equipamentos para enfrentar a Covid 19. Na Bahia, uma operação da Polícia Civil antecipou-se e prendeu empresários envolvidos numa compra para lá de estranha envolvendo quase R$ 50 milhões.
Ao que se comenta, a libertação prematura dos investigados pela Justiça local teria, no entanto, impedido que as apurações se aprofundassem e se soubesse o que efetivamente aconteceu com o dinheiro e os respiradores, que, adquiridos em nome do Consórcio Nordeste, presidido pelo governador Rui Costa (PT), nunca foram entregues e, pelo visto, nunca serão produzidos, conforme se deduz de entrevista à TV Bahia dada pelo empresário Paulo de Tarso, dono da Biogeonergy, um dos que foram presos e igualmente liberados judicialmente, antes de o caso ser remetido para o Superior Tribunal de Justiça (STJ).
Por meio da Procuradoria Geral do Estado, que autorizou a compra, Rui Costa tenta trazer de volta o processo para o âmbito estadual, na convicção de que poderá dar continuidade às investigações e resgatar o dinheiro, investido também pelos demais oito Estados que compõem o Consórcio. A confusão não dá direito, no entanto, a que, invocando o papel de representar um presidente que não deu a mínima para a doença, tampouco para seu enfrentamento no papel que se esperava de coordenador das ações para mitigar seus efeitos sobre a população, deputados que lhe batem continência se arvorem a invadir hospitais com a desculpa esfarrapada de fiscalizar o investimento dos recursos.
Cenas do ato truculento, que expôs tanto profissionais de Saúde que lutam diariamente contra a pandemia quanto pacientes em situação delicada, precisando de, no mínimo, paz, para poder se recuperar, deveriam ser suficientes para a Assembleia Legislativa, com base no Código de Ética que rege a conduta de seus parlamentares, apurar se houve quebra de decoro, adotando as medidas cabíveis contra seu procedimento, que podem, em casos extremos, levar à cassação de mandato. Já se vive uma pandemia. Não é possível que se permita que alguns a transformem, oportunisticamente, num verdadeiro pandemônio só para, como se diz no popular, se “amostrar”.
* Artigo do editor Raul Monteiro publicado na edição de hoje da Tribuna.
Comentários
Postar um comentário