Funaro deixou para trás uma carta destinada ao amigo com quem dividiu um ano e meio de prisão. Nela, agradeceu a Luiz Estevão pela ajuda nos momentos difíceis na Papuda. Luiz Estevão se afeiçoou a Funaro como a um filho. Dava conselhos, discutia estratégias jurídicas, ouvia suas queixas e, no fim, incentivou-o a contar tudo o que sabia.
Luiz Estevão, que estava em sua segunda passagem pela Papuda e havia sido preso três meses antes, não conhecia Funaro. Embora ambos tenham cometido crimes do colarinho- branco, como corrupção e lavagem de dinheiro, seus esquemas nunca haviam se cruzado. Mais novo, Funaro operava junto a políticos do MDB, fundos de pensão e na Caixa; Estevão se locupletou há mais de 20 anos, principalmente com dinheiro público desviado das obras do Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo.
Funaro chegou à Papuda abatido e assustado. Chorava com frequência. Como costumava fazer com os recém-chegados, Estevão se apresentou e manifestou sua solidariedade. Mas foi incisivo. “Lúcio, você é rico, mas eu sou muito mais rico do que você”, disse. “Deixa eu lhe explicar como as coisas funcionam aqui.” Sugeriu a ele ser simpático com os companheiros, comprar lanches na cantina, evitar brigas. Com sua personalidade expansiva e dominante, o empresário já mantinha uma boa relação com os presos da ala B, chamando todos pelo nome e batendo papo com eles sem distinção.
A empatia com Funaro, porém, foi imediata: ambos cometeram crimes do colarinho-branco, conheciam bem operações financeiras sofisticadas, pertenciam a uma mesma classe social e tinham gostos parecidos. Desfrutavam de jatinhos particulares, viagens, vinhos caros. Em uma ala da Papuda onde, dos 60 presos, metade nem havia concluído o ensino médio, Estevão encontrou em Funaro um interlocutor à altura. “Funaro é inteligente, mas Luiz Estevão é inteligente e experiente, vivido. É normal que o mais jovem passe a se aconselhar com ele”, definiu um advogado com trânsito na Papuda.
O que mais abalou Funaro foi ter de ficar longe da filha, que tinha apenas 6 meses na ocasião de sua prisão. Por causa da idade, ela nem podia entrar para visitá-lo – e ele tampouco queria que ela fosse ao presídio. “O que você acha que ela vai pensar sobre mim quando estiver maior?”, perguntava a Estevão. Este o consolava dizendo para ser grato por ter uma filha saudável e uma esposa dedicada. A prisão, dizia Estevão, deveria ser encarada como uma “tragédia passageira”. Funaro começou a ler muitos livros de autoajuda levados por seus advogados e a escutar o amigo com atenção.
A estrutura da prisão, relativamente melhor do que outras pelo país, ajudou Funaro a se restabelecer. O bloco 5 do CDP é uma espécie de área de elite dentro do Complexo Penitenciário da Papuda, ocupado pelos presos considerados “vulneráveis”, como políticos, empresários, ex-policiais e acusados de crimes sexuais. O prédio foi reformado pelo próprio Luiz Estevão antes de ser preso. Uma arquiteta, funcionária de Luiz Estevão, foi designada para cuidar da obra, que incluiu a instalação de 33 vasos sanitários, 23 torneiras, nove pias, 19 portas e a reforma de toda a parte elétrica. Foram gastas 14 toneladas de cimento e usados caminhões-pipa para jogar água na compactação do solo. As celas perderam o aspecto de masmorra predominante no resto da Papuda. O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios moveu uma ação de improbidade administrativa contra Luiz Estevão por causa dessa reforma, por ter influenciado o Estado a favorecê-lo.
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