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  TJ/Arquivo

Desembargadora Ligia Maria, uma das presas hoje na segunda fase da Operação Faroeste14 de dezembro de 2020 | 13:13

Sem ‘concorrência’ de desembargadores afastados por Faroeste, Ilona e Lígia assumiram protagonismo em atividade criminosa, diz MPF

EXCLUSIVAS

Na ação em que pediu ao Superior Tribunal de Justiça a prisão das desembargadoras Lígia Ramos e Ilona Reis, o Ministério Público Federal diz que a corrupção sistêmica detectada no Tribunal de Justiça da Bahia não parou após a Operação Faroeste, que desbaratou esquema de grilagem no Oeste baiano por meio de vendas de sentenças judiciais, mas, ao contrário, “a concorrência diminuiu”, com o afastamento dos desembargadores alvejados na primeira fase, permitindo que as duas magistradas assumissem posição de destaque na atividade criminosa.

No entanto, enquanto a primeira tentou, a partir daquele momento, obstruir as investigações contra “a ela e os integrantes da Organização Criminosa” a que pertenceria, Ilona buscou ficar “fora do radar”, com o afastamento de julgamentos e mesmo o adiamento daqueles que pudessem colocá-la em risco. A partir de notícias de que novas operações seriam deflagradas, decorrente de delações, Lígia chegou a ir à casa de uma assessora que prestou delação para tentar intimidá-la e pedir que apagasse o que considerava provas.

Segundo a denúncia do MPF a que este Política Livre teve acesso, a desembargadora chegou a deslocar-se em sua Mercedesz 180 branca à residência da assessora para pedir que ela fosse ao gabinete apagar a lista de todos os processos aos quais pedia preferência, já que tinha conhecimento de que uma nova fase da operação estava em curso e que seu gabinete poderia ser alvo. A delatora contou aos investigadores que a desembargadora não produzia nenhum de seus votos ou decisões, que, ou eram feitos por assessores, ou por terceiros e lhes chegavam depois de encontros.

Neste caso, viriam a partir de orientação de seus dois filhos homens – Rui Barata Lima Filho e Arthur Gabriel Ramos Barata Lima, ambos alvos de mandados de busca e apreensão -, os quais compareciam com frequência ao gabinete. Segundo ela, na frente de ambos a magistrada cobrava aos assessores, de forma indireta, o andamento dos processos. A delatora ainda relatou que houve ordem no gabinete para que qualquer processo relacionado a um ex-juiz do TREll fosse repassado diretamente para Lígia e tirado das mãos de assessores.

Alvo de uma ação controlada da Polícia para identificar o recebimento de propina, a desembargadora Ilona Reis, por sua vez, teria recebido, segundo o MPF, propina de R$ 200 mil, em novembro de 2019, relativa a um processo envolvendo Altério Zanatta Poletto, mas uma segunda parcela, no valor de R$ 500 mil, envolvendo o mesmo caso, teria sido suspensa depois da deflagração da Operação Faroeste. Ainda assim, ela teria continuado as tratativas por meio de “seus operadores” Marcelo Junqueira e Fabrício Boer para receber a segunda parcela.

O acerto, segundo ainda o Ministério Público Federal, teria sido feito pelos dois com o colaborador da Faroeste Júlio Cavalcanti. A despeito de a negociação para o pagamento da segunda parcela de R$ 500 mil com o “êxito do processo” ter sido detectada pela operação controlada, a matéria foi tirada de pauta de julgamento duas vezes, o que os investigadores interpretantam como uma tentativa de confundir a apuração criminal, numa prova de que tanto ela quanto a colega poderiam colocá-la em risco, se ficassem soltas, levando à decretação da prisão de ambas.


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