Época Esporte Clube
O que muda para o Palmeiras depois que a Receita Federal cercou a Crefisa
Meio sem querer, o fisco fez a patrocinadora mudar sua parceria com o clube. Como resultado, a direção alviverde não tem mais risco zero nos investimentos que faz – ainda que continue em posição privilegiada
RODRIGO CAPELO
24/01/2018 - 18h55 - Atualizado 24/01/2018 19h21
A história começa com a Receita Federal, que foi para cima da Crefisa no fim do ano passado atrás de impostos não recolhidos. A instituição financeira investe no clube de duas maneiras: patrocínio – inclusive renovado para 2018 por R$ 78 milhões anuais – e aportes pontuais para auxiliar aquisições de jogadores. Nos últimos anos, foram cerca de R$ 130 milhões acrescentados para que o Palmeiras fizesse a farra no mercado de transferências. É na segunda modalidade de investimento que o fisco se concentrou.
A Crefisa registrava os aportes que fazia ao Palmeiras como despesa em sua contabilidade. Isso fazia com que o seu lucro fosse menor – R$ 130 milhões menor, especificamente. E isso fazia com que o governo, que aplica impostos sobre o lucro líquido de empresas, arrecadasse menos. Eis o motivo pelo qual o fisco se mexeu. O intuito não era interferir no formato dos contratos entre Palmeiras e sua patrocinadora, e sim fazer com que a Crefisa pagasse os impostos que tinha driblado. A alteração na parceria é consequência disso.
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A instituição financeira dirigida por Leila Pereira, conselheira palmeirense e entusiasta da ideia de se tornar presidente alviverde, pagou multas e impostos de todos os atletas contratados até aqui e mudou contratos, passados e futuros, para evitar novos problemas. E isso respingou no Palmeiras. Exemplos concretos funcionam bem por aqui. A Crefisa emprestou R$ 33 milhões para que o clube contratasse o colombiano Borja no início de 2017. Campeão pelo Atlético Nacional, era o atacante mais badalado àquela altura.
Antes, se o Palmeiras vendesse Borja pelos mesmos R$ 33 milhões, devolveria o investimento inicial para a Crefisa e lavaria as mãos. Se não vendesse, não tinha problema, porque a empresa de Leila não cobraria a grana. Era um mecanismo de financiamento com risco zero. E permitia que o clube comprasse jogadores por valores acima do mercado sem muita preocupação, além dos salários que eles acresciam a sua folha. Mas o cheque em branco acabou.
Agora, se o Palmeiras vender Borja por R$ 40 milhões, digamos, devolverá os R$ 33 milhões iniciais à Crefisa e ficará com R$ 7 milhões em lucro. Se o colombiano não emplacar em nenhum outro clube e seu contrato de trabalho acabar sem que seja vendido, o Palmeiras passa a dever R$ 33 milhões à patrocinadora. Vira um empréstimo comum, como o que qualquer outro clube de futebol tomaria com um banco para fazer investimentos ou pagar dívidas.
>> Maurício Galiotte: "Vamos pagar 100% da dívida do Palmeiras até fim de 2018"
É o fim do mundo palestrino? Longe disso. O Palmeiras passa a ter uma dívida a pagar, por volta de R$ 117,5 milhões – a soma dos aportes da patrocinadora para contratar atletas que seguem no time. Mas é um crédito barato. A Crefisa aplica sobre ele o juro mínimo – muito distante dos quase 1.000% ao ano que cobra das pessoas que lhe procuram para tomar dinheiro emprestado – e dá um prazo confortável para o pagamento. Depois que o contrato do atleta em questão acaba, o clube tem dois anos para devolver a grana. Nenhum clube tem uma fonte de financiamento tão maternal.
Meio sem querer, a Receita Federal acabou interferindo no cenário do futebol brasileiro no início da temporada de 2018. Ainda que o crédito continue privilegiado, o fato de ter acabado o "risco zero" faz com que o Palmeiras tenha de mudar sua postura no mercado. Não dá mais para pagar valores acima de mercado com o bolso da patrocinadora. Tampouco fará bem recusar quaisquer propostas que cheguem para os atletas em questão, porque os investimentos feitos neles precisam ser recuperados. Fragiliza o império alviverde, mesmo que ligeiramente, e obriga os dirigentes a agir com mais cautela.
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